Conheça a história da votação que ia levando à demolição de um dos maiores monumentos portugueses. O Castelo de Guimarães foi salvo por poucos votos.
Ao longo da história do nosso país, muitos monumentos foram construídos, mas há um especial, o Castelo de Guimarães. Este património de valor incalculável tem uma história rica e fascinante que o torna numa peça insubstituível. No entanto, algumas pessoas no passado não pensaram da mesma forma.
É incrível, mas houve “mentes geniais” que propuseram a demolição deste monumento. Felizmente, houve outras pessoas que pensaram que o Castelo de Guimarães deveria ser preservado.
O castelo é uma construção icónica do país. Conheça a história da votação que ia levando à demolição de um dos maiores monumentos portugueses. O Castelo de Guimarães foi salvo por poucos votos.
O Castelo de Guimarães ia ser demolido, mas foi salvo por 15 votos
A cidade
Esta cidade portuguesa está fortemente ligada à fundação do reino. A cidade de Guimarães tem no seu castelo um símbolo único, de grande relevância história, para a cidade e para o país.
No entanto, esta bandeira de Guimarães esteve para ser destruída, por parte do povo local. Quer saber o que se passou?
A proposta de demolição
Pode parecer inacreditável, mas em tempos foi feita uma proposta de demolição de uma torre do Castelo de Guimarães. Esta ideia visava a realização de um aproveitamento das pedras do castelo.
Esta ideia não era nova. No passado, já tinha sido pedida a sua demolição, que teve a mesma resposta do povo: foi recusada!
O dia
A célebre sessão da Sociedade Patriótica Vimaranense (SPV) ocorreu no dia 31 de janeiro de 1836. A proposta da demolição da torre do castelo foi feita de forma a aproveitar as suas pedras que poderiam ser usadas para calcetar as ruas da cidade.
O mito
Essa sessão da SPV teve a particularidade de ser uma votação que ficou para a história. Ela serviu para que um mito se instalasse. O mito consiste na afirmação de que um dia o Castelo de Guimarães não foi demolido por um voto! Ele ainda hoje perdura, mas é falso.
Apesar deste mito já ter sido desmentido várias vezes, ele continua a circular em certos órgãos de comunicação social e nas redes sociais. É possível confirmar a defesa da ideia de ter havido um voto único e providencial que permitiu salvar o Castelo! Portanto, há que combater a mentira, divulgando os factos.
A verdade
A proposta de arrasamento do castelo de Guimarães surgiu “por ser uma cadeia bárbara que serviu no tempo da usurpação”. A demolição foi efetivamente discutida e votada durante uma reunião da Sociedade Patriótica Vimaranense (SPV), que governava Guimarães na sequência da vitória dos liberais na Guerra Civil.
No entanto, nessa sessão da Sociedade Patriótica Vimaranense, a proposta foi chumbada por quase 80% dos presentes. Foram apenas 4 os votos a favor da demolição da torre do castelo, tendo havido 15 votos contra que salvaram o monumento!
O resultado da votação
Eis o resultado da votação que ocorreu na sessão da SPV, para que não restem dúvidas sobre este assunto. A favor da demolição votaram as seguintes pessoas: Costa, Castro, Barão de Vila Pouca e José Correia. As pessoas que votaram contra a demolição da torre do castelo foram: Barroso, Ferreira Guimarães, Souto, Basto, Sampaio, Freitas Guimarães, Vigário de Creixomil, Leite de Castro, Vigário‐geral, Arcediago, Lima, Vieira, Maia, Sá e Bandeira.
O contexto
Na sessão da Sociedade Patriótica Vimaranense que se tornou célebre, a importância histórica do Castelo de Guimarães (e dos “monumentos antigos”) foi referida. Constatou-se que na SPV havia uma maioria de homens cultos e esclarecidos.
Convém contextualizar o momento histórico que se vivia na cidade de Guimarães para se perceber melhor o surgimento da insólita proposta.
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O que foi a SPV?
A Sociedade Patriótica Vimaranense tornou-se numa das diversas “sociedades patrióticas” mais emblemáticas que foram estabelecidas no nosso país entre 1820 e 1842. As “sociedades patrióticas” eram agremiações influenciadas pela maçonaria. Estas sociedades eram de índole liberal.
Estas sociedades surgiram em Portugal e visavam a defesa de ideias consideradas liberais e progressistas. A Sociedade Patriótica Vimaranense foi constituída por mais de 100 vimaranenses. Estas pessoas foram recrutadas na elite local.
Entre os vimaranenses recrutados encontravam-se pessoas de várias áreas, tais como: advogados, notários, comerciantes, proprietários, membros do clero, titulares, médicos, entre outros.
Metodologia
A Sociedade Patriótica Vimaranense dividiu-se em algumas comissões especializadas (tais como, “comércio”, “agricultura”, “instrução”, “salubridade”, entre outras). Destas comissões, saíram ideias que na época foram consideradas bastante inovadoras.
Na SPV, chegou a ser discutido um plano de vacinação que visava proteger a população de Guimarães. Na Sociedade Patriótica Vimaranense, também foi discutida a criação de um sistema de transporte de doentes das aldeias para os hospitais.
Na SPV, também foram tratados assuntos referentes à liberdade de imprensa. Nesta sociedade forma ainda tratados assuntos relativos à educação e ao comércio. Na Sociedade Patriótica Vimaranense, foi igualmente discutida a criação de um Teatro Nacional em Guimarães.
Elite
Muitas das pessoas que integraram a Sociedade Patriótica Vimaranense estiveram envolvidos no desenvolvimento da cidade. Anos mais tarde, parte destas pessoas ficaram ligadas à política (não só local, mas também nacional); outras ligaram-se à imprensa e outras às associações de Guimarães.
Por isso, para quem é vimaranense de gema e fizer a genealogia do associativismo contemporâneo vimaranense é possível e até provável que descubra que o tronco comum dessa árvore foi a Sociedade Patriótica Vimaranense.