Portugal prepara-se para uma mudança brusca no estado do tempo à entrada do inverno astronómico. Depois de vários dias dominados pela chuva persistente, os modelos meteorológicos convergem agora num cenário bem diferente: frio intenso, vento forte e possibilidade real de neve em regiões pouco habituais, incluindo locais onde o fenómeno é cada vez mais raro.
As mais recentes projeções apontam para a aproximação de uma depressão fria, associada à descida de ar polar em altitude, que poderá marcar os dias 20 e 21 de dezembro com um ambiente tipicamente invernal. Segundo análises divulgadas pelo Luso Meteo, trata-se de uma configuração atmosférica pouco comum nos últimos anos, capaz de devolver a Portugal continental um cenário que muitos já julgavam distante.
Frio marca o arranque do inverno astronómico
O inverno astronómico começa oficialmente a 21 de dezembro e, desta vez, parece querer cumprir o guião sem concessões. Está prevista a instalação de uma massa de ar muito frio, com temperaturas próximas de -2 ºC aos 850 hPa, criando condições ideais para a formação de neve sempre que coincida precipitação com os períodos mais frios do dia.
O frio será generalizado, mas com maior impacto durante a noite e madrugada. No interior Norte e Centro, as temperaturas mínimas poderão descer para valores negativos, aumentando significativamente o risco de geada e gelo, sobretudo em vales e zonas abrigadas do vento.
Apesar de ainda existirem divergências entre modelos quanto à distribuição exata da precipitação, há um consenso claro quanto à descida acentuada das temperaturas, que poderá fazer deste episódio um dos mais frios dos últimos invernos.
Onde poderá nevar nos próximos dias
As previsões atuais apontam para neve garantida em todas as serras acima dos 1.000 metros, com maior probabilidade de acumulação entre a madrugada e a manhã de domingo. Durante este período, a cota de neve poderá descer para os 600 metros no Norte e oscilar entre os 800 e os 1.000 metros no Centro.
A Serra da Estrela deverá ser novamente um dos pontos mais afetados, com acumulações adicionais estimadas entre 15 e 30 centímetros, reforçando um manto já significativo para esta altura do ano. Outras áreas montanhosas acima dos 1.200 metros poderão registar valores semelhantes, criando um cenário pouco comum em meados de dezembro nas últimas décadas.
Mais a sul, não está excluída a possibilidade de queda de neve em cotas próximas dos 900 metros, incluindo a Fóia, em Monchique, embora neste caso a incerteza seja maior e dependente da intensidade dos aguaceiros.
As surpresas podem surgir a altitudes inesperadas
É no Norte do país que se concentram as maiores expectativas de surpresa. As atualizações mais recentes admitem que localidades situadas entre os 400 e os 500 metros de altitude possam observar neve ou graupel durante aguaceiros mais intensos.
Entre os locais mais referidos surgem:
- Penha, em Guimarães
- Sameiro, em Braga
- Monte Farinha, em Mondim de Basto
Em cenários muito pontuais, não está totalmente afastada a possibilidade de flocos a altitudes entre os 200 e os 400 metros, em distritos como Viana do Castelo, Braga, Porto ou Vila Real. Cidades como Vila Real ou localidades como Fafe permanecem no radar dos meteorologistas, embora a acumulação seja considerada improvável.
Natal frio, mas sem garantia de neve generalizada
Olhando para o período natalício, o frio deverá manter-se. Os modelos sugerem a persistência de um padrão de bloqueio atmosférico, com o anticiclone posicionado a norte da Europa, permitindo a continuação da entrada de ar frio continental.
Algumas simulações mais extremas chegam a apontar para cotas de neve próximas do nível do mar, evocando episódios raros como o de 2006. No entanto, a ausência de precipitação significativa nos cenários mais prováveis reduz a hipótese de um Natal branco em grande parte do país.
Ainda assim, existe uma margem de incerteza relevante, com cerca de 30% de probabilidade de ocorrência de precipitação que, combinada com o frio intenso, poderá gerar surpresas em regiões onde não neva há décadas.
Um episódio invernal a acompanhar de perto
De acordo com o Postal, a meteorologia é dinâmica e os próximos dias serão decisivos para afinar previsões. Para já, tudo indica que este fim de semana poderá marcar um dos episódios invernais mais interessantes dos últimos anos, não apenas pela intensidade do frio, mas sobretudo pelo potencial de neve fora das zonas habituais.
Mesmo que os cenários mais extremos não se confirmem, o frio intenso está praticamente garantido. Para muitos, será um regresso breve, mas simbólico, a um inverno mais rigoroso — aquele que deixa marcas na paisagem, congela as madrugadas e devolve ao imaginário coletivo o tão aguardado elemento branco.
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