Imagine um dia de verão perfeito: o céu azul sem nuvens, o sol a brilhar intensamente, e o som das ondas a embalar o seu momento de descanso na praia. De repente, no horizonte, avista uma muralha de água, uma onda colossal que se ergue ameaçadora e avança a uma velocidade vertiginosa. Não há tempo para fugir, não há tempo para avisar ninguém. Num instante, a tranquilidade transforma-se em caos e destruição. Este é o cenário aterrador que alguns cientistas acreditam que poderia ocorrer caso um mega tsunami fosse desencadeado pelas Ilhas Canárias.
A ameaça de um mega tsunami nas Canárias
As Ilhas Canárias, arquipélago espanhol situado no Oceano Atlântico, a cerca de 1500 km da costa portuguesa, albergam o vulcão Cumbre Vieja, localizado na ilha de La Palma. Estudos científicos sugerem que, em caso de uma erupção violenta, parte da ilha poderá colapsar, gerando um deslizamento massivo de terra para o oceano.
O impacto desse deslocamento poderia desencadear ondas gigantescas que atravessariam o Atlântico a velocidades impressionantes, atingindo a costa africana, europeia e americana.
Este fenómeno tem sido amplamente debatido na comunidade científica. Alguns especialistas acreditam que um colapso parcial da ilha poderia criar uma onda inicial com mais de 100 metros de altura, devastando as Canárias em questão de minutos.
Posteriormente, a onda viajaria pelo Atlântico, atingindo a costa portuguesa em cerca de quatro horas e chegando aos Estados Unidos em aproximadamente nove horas.
Mega tsunamis na história
Os mega tsunamis distinguem-se dos tsunamis comuns pelo seu tamanho descomunal e pela forma como são gerados. Enquanto a maioria dos tsunamis é causada por sismos submarinos, os mega tsunamis resultam de eventos cataclísmicos como deslizamentos de terra, colapsos vulcânicos ou impactos de meteoritos.
Um dos exemplos mais conhecidos ocorreu na Baía de Lituya, no Alasca, em 1958. Um deslizamento de terra, provocado por um sismo de magnitude 8.3, lançou milhões de metros cúbicos de rocha para o mar, gerando uma onda com 524 metros de altura – o maior tsunami registado na história. Embora a região fosse pouco povoada e os danos humanos tenham sido reduzidos, o evento demonstrou o potencial destrutivo dos mega tsunamis.
Por outro lado, o tsunami de Lisboa, em 1755, embora não tenha sido um mega tsunami, serve como um exemplo histórico das consequências devastadoras de uma catástrofe semelhante.
O terramoto, seguido de um maremoto e de incêndios, destruiu grande parte da cidade e do litoral português, causando a morte de dezenas de milhares de pessoas. A Baixa de Lisboa foi particularmente afetada, com as águas a arrastarem tudo pelo caminho e a deixarem um rasto de destruição.
Qual é a real probabilidade de um mega tsunami das Canárias?
Embora a ideia de um mega tsunami originado em La Palma tenha ganhado notoriedade mediática, a realidade científica aponta para um risco muito mais reduzido do que o inicialmente previsto. Os estudos iniciais, como o de Simon Day e Bill McGuire, sugeriam que um deslizamento poderia desencadear ondas devastadoras. No entanto, investigações mais recentes, como as lideradas por Ricardo Ramalho, do Instituto Dom Luiz da Universidade de Lisboa, apontam para uma maior estabilidade da estrutura geológica da ilha.
Além disso, a possibilidade de um deslizamento ocorrer de forma gradual, em vez de um colapso súbito, reduziria drasticamente a altura das ondas geradas. Assim, embora a ameaça exista, a probabilidade de um evento desta magnitude acontecer num futuro próximo parece ser extremamente baixa.
O impacto de um mega tsunami em Portugal
Caso um mega tsunami fosse gerado a partir das Canárias, explica a VortexMag, as consequências para Portugal seriam severas. Estudos apontam que as ondas poderiam atingir entre 5 a 20 metros de altura na costa portuguesa, impactando cidades como Lisboa, Porto, Faro e Setúbal. As zonas costeiras seriam severamente afetadas, com inundações, destruição de infraestruturas e perdas humanas significativas.
Além dos danos imediatos, haveria repercussões económicas e sociais graves. O setor do turismo, essencial para a economia nacional, sofreria um impacto devastador. A infraestrutura portuária e industrial seria fortemente danificada, interrompendo cadeias de abastecimento e afetando setores vitais como a pesca, a energia e os transportes.
Como podemos preparar-nos para um evento desta natureza?
Apesar da baixa probabilidade de um mega tsunami, a prevenção e a preparação são essenciais. Medidas estratégicas podem reduzir significativamente os danos e salvar vidas:
- Monitorização e alerta precoce – Sistemas de deteção de atividade sísmica e vulcânica nas Canárias devem ser continuamente atualizados e melhorados. Um sistema de alerta eficaz poderia oferecer algumas horas preciosas para evacuações.
- Planos de evacuação – Cidades costeiras devem possuir planos bem definidos para evacuação rápida em caso de alerta de tsunami. Devem ser estabelecidas rotas seguras para zonas elevadas e pontos de encontro para assistência às populações.
- Construção e ordenamento territorial – Infraestruturas críticas, como hospitais e centrais de energia, devem ser projetadas para resistir a eventos extremos. O ordenamento do território deve restringir construções em áreas de alto risco.
- Educação e sensibilização – A população deve estar informada sobre os riscos e as medidas a tomar em caso de alerta. Campanhas educativas e exercícios de evacuação podem fazer a diferença em momentos de crise.
- Cooperação internacional – Portugal, Espanha e outros países do Atlântico devem trabalhar em conjunto para fortalecer a resiliência a este tipo de catástrofe, partilhando dados, tecnologia e estratégias de mitigação.
Conclusão
Embora o cenário de um mega tsunami causado pelo Cumbre Vieja seja frequentemente dramatizado em filmes e documentários, a ciência mostra-nos que esse evento é muito improvável. No entanto, o estudo e a monitorização contínuos são essenciais para garantir a segurança das populações. Portugal, com a sua vasta costa atlântica, deve manter-se vigilante e preparado para enfrentar qualquer ameaça vinda do mar, aprendendo com a história e apostando na prevenção para evitar tragédias futuras.