O recente descarrilamento do Elevador da Glória, em Lisboa, que vitimou 15 pessoas, foi descrito pelo primeiro-ministro como “uma das maiores tragédias humanas da nossa história recente”. Um acidente que abalou o país e reabriu feridas antigas, lembrando outros momentos em que Portugal foi marcado por episódios de dor coletiva.
Nos últimos 65 anos, o território português conheceu catástrofes naturais, acidentes rodoviários, ferroviários e aéreos, além de incêndios devastadores, todos eles responsáveis por centenas de vidas perdidas e por uma memória que ainda hoje ecoa no imaginário nacional.
Este é um retrato pungente das maiores tragédias em Portugal nas últimas décadas, que marcaram famílias inteiras e moldaram o debate sobre segurança, prevenção e responsabilidade.
1961 – Queda de avião na Costa da Caparica: 61 mortos
No dia 30 de maio de 1961, um Douglas DC-8 da companhia VIASA caiu ao largo da Fonte da Telha, minutos após descolar do Aeroporto da Portela.
O destino era Caracas, com escala nos Açores. O acidente matou as 61 pessoas a bordo, entre tripulantes e passageiros.
1964 – Acidente ferroviário em Custóias: 90 mortos
A 26 de julho de 1964, o comboio que ligava a Póvoa de Varzim ao Porto descarrilou na zona de Custóias, Matosinhos, quando passava pela Ponte das Carvalhas.
O impacto foi devastador e seguido de incêndio: 90 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas.
1967 – Cheias em Lisboa e Loures: mais de 500 mortos
Na noite de 25 para 26 de novembro de 1967, chuvas torrenciais devastaram Lisboa e Loures. O encontro entre precipitação intensa e a maré-alta do Tejo gerou inundações repentinas que arrastaram casas, automóveis e pessoas.
Os bairros mais pobres, construídos junto a linhas de água, foram os mais atingidos. Famílias inteiras perderam-se em minutos. Oficialmente, as vítimas ultrapassaram as 500, mas muitos investigadores acreditam que o número real foi bastante superior, ocultado pela censura do regime do Estado Novo. Este episódio expôs a vulnerabilidade social e as condições precárias de habitação de milhares de portugueses.
1976 – Desastre aéreo na ilha Terceira: 68 mortos
Na noite de 3 de setembro de 1976, um Lockheed C-130 da Força Aérea Venezuelana caiu durante a aproximação às Lajes, na ilha Terceira, Açores. O furacão Emmy criara condições extremas e, após várias tentativas falhadas de aterragem, o avião embateu numa colina. Morreram 68 pessoas, entre elas 58 membros do Orfeão Universitário da Universidade Central da Venezuela, que viajavam para participar num festival internacional.
1977 – Tragédia na Madeira: 131 mortos
No dia 19 de novembro de 1977, o voo TP 425 da TAP, um Boeing 727-200, não conseguiu aterrar em segurança no Funchal devido ao mau tempo.
Após duas tentativas falhadas, o comandante arriscou uma terceira aproximação. O avião aterrou demasiado rápido e escorregou na pista molhada, saindo fora do limite e incendiando-se.
Das 164 pessoas a bordo, 131 perderam a vida. Este acidente levou ao prolongamento da pista do Aeroporto de Santa Catarina, concluído apenas em 2000.
1989 – Acidente aéreo em Santa Maria: 144 mortos
O dia 8 de fevereiro de 1989 ficou marcado pelo pior acidente aéreo em Portugal. O voo 1851 da Independent Air, um Boeing 707, colidiu com uma colina a caminho do aeroporto de Santa Maria, Açores.
A bordo seguiam 137 passageiros e 7 tripulantes, maioritariamente turistas italianos. Ninguém sobreviveu.
1992 – Tragédia em Faro: 56 mortos
Na manhã de 21 de dezembro de 1992, o voo Martinair MP495 despenhou-se durante a aterragem no Aeroporto de Faro.
Com chuva intensa e ventos fortes, o avião derrapou na pista, partiu-se em três e incendiou-se.
Das 340 pessoas a bordo, 56 morreram e mais de 100 ficaram feridas.
2001 – Ponte de Entre-os-Rios: 59 mortos
A 4 de março de 2001, a Ponte Hintze Ribeiro, construída em 1887, ruiu subitamente em Entre-os-Rios, Castelo de Paiva.
Um autocarro e três automóveis caíram ao rio Douro. Morreram 59 pessoas.
A tragédia revelou falhas graves na manutenção da ponte e provocou a demissão do ministro Jorge Coelho, marcando profundamente a confiança pública nas instituições.
2017 – Incêndios em Pedrógão Grande e centro do país: 116 mortos
Em junho de 2017, Portugal enfrentou um dos seus maiores horrores: os incêndios de Pedrógão Grande.
66 pessoas morreram, muitas delas encurraladas na Estrada Nacional 236, apanhadas pelas chamas na chamada “Estrada da Morte”.
A 15 de outubro do mesmo ano, novos fogos devastaram a região centro e norte, vitimando mais 50 pessoas. No total, 2017 foi o ano mais negro em matéria de incêndios florestais: 116 mortos.
Tragédias que moldam a memória de um país
Cada uma destas tragédias, do colapso de pontes aos incêndios florestais, dos acidentes ferroviários aéreos às cheias devastadoras, expõe fragilidades estruturais, erros humanos ou fenómenos naturais extremos.
São episódios que deixaram cicatrizes profundas nas comunidades e marcaram gerações, mas que também trouxeram lições amargas sobre prevenção, segurança e responsabilidade coletiva.
Recordá-los é não apenas honrar a memória das vítimas, mas também um alerta permanente para que tais episódios não se repitam.
Ainda falta o acidente ferroviário de Mangualde em 1985 que morreram aproximadamente 150 pessoas.