A 26 de outubro de 1985, a Assembleia Geral das Nações Unidas deteve-se num momento raro de silêncio reverente. O então Secretário-Geral da ONU, Javier Pérez de Cuéllar, tomou a palavra e, perante representantes de todas as nações do mundo, apresentou uma mulher frágil, de estatura pequena e vestida de forma humilde. E disse, com voz firme:
“Apresento-vos a mulher mais poderosa do mundo.”
Essa mulher era Madre Teresa de Calcutá. E embora tenha corado de embaraço diante de tais palavras, a verdade é que, naquele instante, o mundo inteiro compreendeu que o poder que ela detinha não vinha da força física, da política ou do dinheiro, mas da compaixão, da fé e da capacidade infinita de amar.
Ela própria recusava títulos grandiosos. Preferia definir-se como “um pequeno lápis nas mãos de Deus”, um instrumento simples, mas profundamente eficaz, usado para desenhar linhas de luz nos lugares mais escuros da Terra.

Um coração missionário desde o berço
Madre Teresa nasceu a 26 de agosto de 1910, em Skopje, numa família albanesa profundamente cristã, e recebeu o nome de Gonxha Agnes. Cresceu envolta em oração, serviço e generosidade. Desde cedo, aprendeu, através do exemplo dos seus pais, que a fé sem amor ao próximo é uma árvore sem frutos.
Aos 18 anos, deixou a sua casa para seguir um chamamento maior. Entrou no Instituto da Bem-Aventurada Virgem Maria, em Dublin, e foi aí que recebeu o nome de Maria Teresa. Pouco tempo depois, partiu para a Índia, onde se tornaria professora numa escola para meninas privilegiadas em Calcutá — uma missão que abraçou com entusiasmo e alegria durante quase duas décadas.
A “chamada dentro da chamada”: o dia em que tudo mudou
Foi a 10 de setembro de 1946 que tudo se transformou. Nesse dia, no silêncio da sua oração, Madre Teresa ouviu uma voz interior que mudou o rumo da sua vida. Jesus, dizia ela, revelou-lhe a dor de ser rejeitado nos pobres e pediu-lhe:
“Venha, seja a minha luz. Não posso caminhar sozinho.”
Essa foi a sua “chamada dentro da chamada”. Um apelo pessoal, íntimo, inadiável. E, com uma coragem desarmante, respondeu “sim”.

Os últimos entre os últimos: nasceram as Missionárias da Caridade
Deixou o conforto do convento, despediu-se das suas alunas e saiu à rua. Vestiu o seu característico sári branco com riscas azuis e mergulhou no mundo dos que nada tinham — os moribundos abandonados nas ruas de Calcutá, os leprosos esquecidos, os famintos ignorados.
Sozinha no início, pouco a pouco começou a ser seguida por antigas alunas e outras jovens que viam nela um reflexo vivo do amor de Deus. Assim nasceram, oficialmente em 1950, as Missionárias da Caridade — uma congregação dedicada a amar e servir “os não queridos, os não amados, os não cuidados”.
A missão espalhou-se como uma centelha de misericórdia pelo mundo. Casas de acolhimento abriram-se na África, na América Latina, nos países comunistas e até na União Soviética. Onde houvesse sofrimento, lá procurava estar uma irmã com o sári branco e o sorriso sereno. E quando lhe perguntavam o segredo de tamanha obra, a resposta era sempre a mesma:
“Rezo.”
Uma voz firme em defesa da vida
Madre Teresa tornou-se uma das figuras mais respeitadas do século XX. Recebeu o Prémio Nobel da Paz em 1979, onde proferiu um discurso que marcou a consciência mundial. Sem rodeios, declarou:
“O maior destruidor da paz é o aborto.”
E reafirmou, com a sua habitual convicção:
“Toda a vida é a vida de Deus em nós.”
O seu compromisso com os mais frágeis foi inabalável, mesmo nos últimos anos da sua vida, quando a saúde fraquejava e a alma atravessava o deserto da chamada “noite escura do espírito”.
A amizade dos Papas e o último suspiro
Foi profundamente estimada por São João Paulo II, que a visitou em Calcutá e pediu a presença das suas irmãs no Vaticano, no espaço chamado “Dom de Maria”. Também Paulo VI, tocado pelo seu exemplo, ofereceu-lhe o seu próprio papamóvel para que servisse os pobres da Índia.
Madre Teresa partiu para o Pai a 5 de setembro de 1997. Morreu onde viveu e serviu: na sua amada Calcutá. Naquele momento, a sua congregação já estava presente em 610 casas de missão espalhadas por 123 países. Um legado que não se mede em números, mas em vidas tocadas e resgatadas.
O seu maior milagre: o sorriso que não precisava de tradução
Para muitos, Madre Teresa foi santa em vida. Para todos, foi um farol de esperança num mundo tantas vezes indiferente à dor. Onde quer que fosse, irradiava compaixão. Como dizia com simplicidade desarmante:
“Talvez eu não saiba falar a sua língua, mas posso sorrir.”
E esse sorriso, humilde e luminoso, continua a ser a sua assinatura no coração da humanidade.
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