Língua Portuguesa: diz-se Poeta ou Poetisa?
Na Língua Portuguesa: poeta ou poetisa são ambas formas corretas para nomear uma mulher que escreve poemas? Fique a saber a resposta.
Comecemos por falar sobre algo importante e que se relaciona com uma das questões gramaticais que rege qualquer língua, nomeadamente a língua portuguesa – a questão de género.
Como língua latina, o português possuía, originalmente, os géneros masculino, feminino e neutro. Este último designava objetos ou seres inanimados. Contudo, este género “desapareceu”, passando os seres inanimados, sem género, a serem denominados como masculinos ou femininos. Posto isto, analisemos o caso das palavras poeta e poetisa.
Poeta ou Poetisa?
Comecemos pela origem da palavra poeta. O vocábulo existe desde o século XIV, tendo derivado do latim poeta que, por sua vez, teve origem no grego poietes (“autor”, “criador”). Durante séculos, apenas foi utilizado o substantivo masculino, aparecendo ainda em alguns dicionários como substantivo apto a designar homem ou mulher que escreve poemas.
Todavia, se consultarmos o dicionário online priberam, por exemplo, iremos encontrar as duas palavras seguintes.
Poeta: Que ou aquele que faz versos; que ou quem é idealista.
Poetisa: Mulher que compõe versos.
Assim, na generalidade, as gramáticas indicam poetisa, como feminino de poeta, pelo que do ponto de vista exclusivamente gramatical, o vocábulo poeta não é uniforme quanto ao género, ou seja, não se aplica a indivíduos do sexo masculino e feminino.
Todavia, certo é que são alguns os casos de escritores e escritoras que usam a palavra poeta para designar autoras de poemas. O caso mais conhecido será, talvez, o de Sophia de Mello Breyner Andresen, que se intitulava poeta, pois considerava que poetisa atribuía às mulheres um estatuto de menoridade face aos homens com idêntica atividade (embora, nos dicionários, não haja qualquer referência explicitamente depreciativa da mulher poetisa).
Por ocasião da atribuição do Prémio Rainha Sofia a Sophia, o também escritor Manuel Alegre chamou à autora de Menina do Mar «(grande) poeta da língua portuguesa», enquanto Vasco Graça Moura se referiu mesmo a ela como «grande escritor da literatura portuguesa».
Portanto, esta é uma problemática mais sociolinguística do que gramatical, até porque, como vimos, gramaticalmente, poetisa é a forma correta de nos referirmos a um indivíduo do sexo feminino que escreva poemas.
Agora, e como a língua é um organismo vivo e em constante mutação, resta esperar e ver se, por força do hábito e de alguns meios de comunicação e personalidades o fazerem, poeta possa passar a ser aceite como um vocábulo utilizado para também nomear escritoras e não só escritores.
E, entretanto, no Brasil…
Também no Brasil, debate semelhante tem tido lugar.
Há muitas décadas que o Brasil, à semelhança de Portugal, tem adotado poeta como uma espécie de vocábulo unissexo, embora os dicionários e as gramáticas continuem a indicar poetisa como a versão feminina de poeta.
Durante o século XX e a par dos movimentos feministas emergentes, a palavra “poetisa” foi, cada vez mais, considerada um termo pejorativo e de “conotações condescendentes”. A par dessa impressão generalizada, as próprias escritoras do outro lado do Atlântico começaram a rejeitar esta distinção de género.
Este fenómeno manifestou-se na aceitação de “poeta” como um género neutro, ou seja, muitas escritoras entenderam que o eu lírico não tinha género, caso de Cecília Meirelles (1901-1964) que, em terras de Vera Cruz, escrevia: “Não sou alegre nem sou triste: sou poeta”.
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