Poucos conhecem estas fascinantes e tradicionais lendas portuguesas, uma riqueza cultural que merece ser divulgada. Desvende um pouco mais sobre a história e mitologia de Portugal.
Portugal é um país com uma história deslumbrante, apresentando uma riqueza em diversas áreas, nomeadamente na cultura. Entre as suas vastas riquezas, estão as imperdíveis lendas portuguesas que são histórias tradicionais fascinantes.
São inúmeras as estórias que são passadas de geração em geração, lendas que conquistam o seu espaço na história de alguns locais. Estas estórias antigas inspiram as pessoas, abordando costumes e superstições de determinados locais.
Em Portugal, existem lendas às centenas, enriquecendo a nossa cultura com preciosidades imperdíveis. Nas lendas de Portugal, há espaço para tudo. Desde lendas de terror com espaço para lobisomens ou fantasmas, a lendas urbanas que fazem parte do nosso folclore.
Entre as histórias portuguesas mais populares, há lendas e mitos fascinantes. Reunimos algumas das melhores lendas populares para que possa conhecer algumas das pérolas portuguesas desta área que continua a encantar diversas pessoas.
8 Lendas Portuguesas que são histórias tradicionais fascinantes
O que é uma lenda?
O termo lenda vem do latim legenda, significando «coisas que devem ser lidas», gerúndio neutro plural de legĕre, «ler». Uma lenda é um nome feminino que significa narrativa (ou tradição), oral ou escrita, de acontecimentos duvidosos, fantásticos ou inverosímeis. É assim um conto que pode ser enriquecido com fantasia.
Eis 8 das melhores lendas portuguesas
A Lenda da Senhora que Passou
Em Vila Verde (Braga), uma freguesia chamada Paçô ficou fortemente marcada por um amor impossível. Certo dia, pai e filha caminhavam pela estrada quando decidiram parar para descansar. Encontraram um rochedo que permitia uma boa sombra, parecendo o local certo para ambos descansarem.
A filha, Joana, tinha muita sede. Como eles já não tinham água consigo, ela decidiu descer até a um riacho para beber água. Ela chegou ao riacho e bebeu o máximo de água que conseguiu. Feliz por matar a sua imensa sede, aproveitou e ainda se refrescou, mimando o corpo que estava desgastado com a longa viagem.
Contudo, de repente, ouviu uma voz masculina que proferiu o seguinte:
– Jovem, por vós, eu transformar-me-ia num rio, se fosse necessário!
A jovem, ficou assustada, levantando-se. Olhou para todo o lado e não viu ninguém. Depois disse:
– Ia jurar que ouvi a voz de um homem… Mas aqui não vejo ninguém…
No entanto, Joana voltou a ouvir a voz masculina encantadora:
– Enganai-vos… É verdade, eu estou aqui e estou muito próximo de vós! Olhai para baixo, para a minha água.
– Estarei maluca?… (pensou a jovem a duvidar de si mesma). Será que um riacho pode falar comigo como um homem?
– Sim. Não só pode falar, como também pode amar. Sim… é verdade… sou o riacho.
Contudo, Joana permaneceu bastante assustada, o que levou o riacho a explicar:
– Sempre que um riacho é descoberto pela primeira vez como eu fui agora descoberto, pode falar… pode ouvir… Quando a pessoa que o descobre é uma donzela, o riacho até pode amar! Para isso acontecer, é suficiente que os lábios da donzela toquem na água do riacho e sussurrem uma certa palavra, dizendo baixinho, “amor”!
A donzela Joana, menos assustada, estava agora desconfiada e hesitante, mas experimentou testar o que o riacho tinha referido. Seria verdade?…
De repente, surgiu o pai de Joana, que apareceu muito preocupado, esbaforido, pensando até que Joana se tinha perdido. Joana optou por não contar o acontecimento. Depois, prosseguiu a viagem ao lado do seu pai. Porém, um ruído estranho perseguia-os.
Quando a noite caiu, os viajantes foram forçados a procurarem um local para passarem a noite, para dormirem com tranquilidade. Contudo, a jovem desejava ardentemente saber se a promessa do riacho tinha sido cumprida, pois ela disse baixinho ao riacho: “amor”!
Será que o riacho tinha vindo com ela? Aquele ruído que ela ouvia poderia significar o cumprir da promessa? Para ter a certeza, tinha de procurar o riacho…
Por isso, para não acordar o seu pai, Joana saiu com muito cuidado e foi procurar o riacho. Joana ficou surpreendida, pois em vez de um riacho agora contemplava um belo rio. Espantada e curiosa, Joana perguntou ao rio:
– Apenas tendes voz ou também tendes figura?
O rio, percebendo o interesse, perguntou à sua donzela:
– Gostaríeis de me ver donzela?
– Sim! Gostaria imenso!
Então, o rio realizou o desejo da sua donzela:
– Aqui estou! – apresentou-se o rio.
Foi então que, subitamente, apareceu o pai de Joana, revelando-se muito zangado:
– Joana! Não acredito! Tu atraiçoaste-me! Foste ter com um homem! – disse o pai.
– Senhor, meu pai… Tem calma. Deixa-me explicar! – implorou Joana.
Todavia, o pai, desiludido, nem sequer quis ouvir a filha.
– Não quero explicações, Joana!
O pai ficou fora de si e levou-a para longe.
– Vamos já embora! Até ao final da viagem não terás descanso!
O rio transformado em homem ficou ali a observar a sua amada, enquanto ela se afastava.
Conta o povo que, logo no dia seguinte, muitas pessoas ouviram uma voz estranha vinda dos lados do rio. O rio choroso, lamentava, perguntando várias vezes:
– A senhora passou por aqui?…
Depois, ainda implorava:
– Respondei-me, por favor! A Senhora passou por aqui? Passou?…
Perguntas foram feitas muitas vezes desde então. Mil vezes repetidas e ouvidas por diversas pessoas. Aquelas terras passaram-se a chamar Passô, enquanto o rio que banha aquelas terras tem o nome de rio Homem!
De Joana, nunca mais se soube. Não se sabe se conheceu outros jovens ou se se banhou noutros rios. Apenas se sabe que a sua memória continua viva em Vila Verde.
Lenda da Costureirinha
A lenda da costureira é uma pequena história sobre Maria Costureira ou costureirinha. É uma história que é comum em diferentes locais de Portugal, havendo quem defenda que é uma história bem real e não uma lenda.
Existem diferentes locais a ouvirem os sons próprios desta profissão, uma costureira a praticar a sua arte. O barulho da sua máquina, noite após noite, o som ocasional de uma tesoura cair, o som do pedal da máquina e da linha a partir.
Estes sons foram ouvidos em diferentes locais, dando origem a versões semelhantes da Lenda da Costureirinha. Por exemplo, no concelho de Cascais, mais precisamente em Manique, ouvia-se a costureirinha numa pequena e velha casa que já foi demolida.
Há versões mais completas, que contam que a costureira fez em tempos um vestido de noiva para a filha. No entanto, a filha morreu antes do casamento. A costureira, que se preparava para um momento cheio de felicidade, vivia afinal uma vida cheia de tristeza. Por isso, a costureira sentia-se condenada a costurar para toda a eternidade.
Existe ainda a versão da costureira que tem um marido alcoólico e desempregado, ficando obrigada a trabalhar dias a fio para poder sustentar a família. Assim, o povo conta a lenda da Costureirinha que, mesmo depois de morta, nunca parou de costurar.
Sabe-se que quem conta um conto acrescenta um ponto. Quando se tem uma lenda que se alastra por diferentes pontos do país, a lenda fica com diferentes camadas, existindo versões complementares da lenda e versões incompatíveis.
Há quem conte a lenda, referindo que a costureira adoeceu gravemente e que, por isso, prometeu doar (se melhorasse) o que tinha de mais precioso, a sua máquina de costura que lhe dava sustento. Ela efetivamente melhorou, mas depois de recuperar faltou ao prometido. Por isso, faleceu como castigo mas, mesmo depois de morta, foi obrigada a continuar a costurar.
Outra versão da lenda, conta que uma costureira prometeu realizar um manto para oferecer a Nossa Senhora. No entanto, a costureira não o fez. Por isso, depois de morta, ela foi condenada a levar uma vida errante até cumprir a sua promessa.
Lenda da Moura da Ponte Romana de Chaves
Esta é uma lenda que tem origem no século XII. Nesse tempo, as terras Flavienses eram governadas pelos Mouros. De acordo com o que diz o povo, uma jovem moura ficara prometida a alguém. No caso, ficou noiva do seu primo Abed. O Alcaide tinha um filho, Abed, sendo que este ia casar com a sobrinha (que ficou órfã devido à guerra) do Alcaide.
O primo não era do agrado da jovem, pois ela não amava o seu primo. A bela jovem não recusou, pois, os Mouros por ali eram poucos e nenhum lhe despertara paixão.
Depois dos cristãos reconquistarem Chaves, os cavaleiros Rui e Garcia Lopes, irmãos de D. Afonso Henriques, lideravam o exército português e fizeram da jovem moura uma refém. O Alcaide e o seu filho encabeçaram a resistência Moura e a defesa do castelo. No entanto, perante os ataques cristãos, a população da cidade começou a fugir desesperadamente.
A jovem acabou por se apaixonar por um cristão. Eles estavam apaixonados e viviam felizes. Enquanto isso, o seu primo, que tinha fugido de Chaves, guardava-lhe rancor.
Após ficar restabelecido de um ferimento de guerra, Abed voltou a Chaves, disfarçado de mendigo. Um dia, esperou a sua prima na ponte e pediu-lhe esmola. Depois da jovem estender a mão para o pedinte, Abed olhou-a nos olhos e rogou-lhe uma praga:
“Ficarás encantada para sempre, sob o 3º arco desta ponte. Só o amor de um cavaleiro cristão, que não pode ser aquele que te levou, poderá salvar-te! Mas esse cavaleiro nunca virá!”
Ouviu-se um grito da mulher. Ela reconheceu o primo e, depois desse momento, a moura desapareceu magicamente e nunca mais foi vista. As damas cristãs que a acompanhavam testemunharam o sucedido. Abed fugiu de seguida.
O guerreiro cristão que vivia com ela, tudo fez para a encontrar. Desesperado, procurou a jovem incessantemente. Viveu em agonia, mesmo depois de pagar para que trouxessem Abed vivo para que este quebrasse o encanto. Porém, nunca mais viu a jovem. O cristão morreu ao fim de alguns anos, numa profunda dor de saudade.
Anos mais tarde, numa noite de São João, um cavaleiro cristão passou pela dita ponte, tendo ouvido a voz de uma mulher que lhe pediu para descer ao 3º arco da ponte e dar-lhe um beijo. Contudo, o jovem cristão, com medo, apenas fugiu. O homem trazia o crucifixo ao peito, tocou nele e recordou-se dos contos que a mãe lhe costumava contar acerca das desgraças dos cavaleiros que ficaram entregues aos feitiços das mouras encantadas. Fugiu a cavalo, jurando nunca mais ali passar à meia-noite.
Desde então, nas noites de São João, é possível ouvir os lamentos da moura encantada. A jovem moura ficou para sempre encantada, como castigo do amor que tivera por um cristão, estando aprisionada na ponte romana de Chaves.
Lenda da Boca do Inferno
Há uma zona em Cascais, que tem o nome de Boca do Inferno. Localiza-se na estrada que segue em direção à praia do Guincho. Diz o povo que existiu um castelo mágico próximo desse local.
No castelo, vivia um feiticeiro que tinha o desejo de casar com a jovem mais bela da região. Ele era um homem poderoso. Além de dinheiro, era dotado de poderes de magia maléfica. No entanto, a jovem recusou amá-lo, o que levou o feiticeiro a prender a jovem numa torre. O feiticeiro colocou um cavaleiro a guardar a entrada. O cavaleiro espreitou para o interior da cela e apaixonou-se pela donzela, logo ao primeiro olhar, num amor que foi correspondido pela jovem. Depois, decidiram fugir da torre, de forma a viverem o seu amor longe do poder do feiticeiro.
Contudo, o malvado feiticeiro, enraivecido e sedento de vingança, soube da intenção e recorreu à sua magia maléfica para criar uma tempestade fortíssima que atingiu os rochedos por onde os amantes fugiam. Depois, os rochedos abriram-se como uma boca e as águas engoliram a dupla de amantes. O buraco no chão, enorme, engoliu a donzela e o cavaleiro e nunca mais fechou.
A população começou a chamar-lhe Boca do Inferno, pois o destino que o par teve foi o mais infeliz. O casal caiu assim na Boca do Inferno, num momento em que o cavalo de ambos deu um guincho gigantesco. Essa é a razão pela qual a Praia do Guincho ficou conhecida por esse nome, pois o grito animalesco chegou até à praia.
Lenda da Lagoa do Negro
Esta lenda permite compreender o aparecimento da Lagoa do Negro, na ilha Terceira. Diz o povo que há séculos, uma certa família nobre da Terceira, tinha escravos negros, como era hábito na época. A única filha do patriarca aceitou um casamento imposto pelo pai. Ela era submissa e receava o pai. Por isso, aceitou sem questionar.
A jovem ficou presa a um casamento por conveniência. A morgada realizara um casamento imposto pelo respeito e pelo receio que tinha ao pai e pela defesa dos interesses da família. No entanto, era um casamento em que não havia amor.
Contudo, a jovem acabou por apaixonar-se por um escravo, um escravo que correspondia ao seu amor. Os criados negros eram vistos como seres inferiores, não como seres humanos iguais, por isso os seus sentimentos não eram valorizados. Ninguém ousava sequer imaginar a possibilidade de um escravo se apaixonar pela sua senhora ou da senhora se apaixonar pelo seu escravo. No entanto, o amor é indiferente a todos os preconceitos e o escravo negro e a morgada enamoraram-se. O sentimento que os unia crescia dia após dia.
Todavia, o caso foi denunciado por uma aia que, depois de seguir a morgada, ouviu o casal de apaixonados a falar acerca do amor de ambos. Depois de relatar o sucedido ao seu amo, ele sentiu-se humilhado e, num momento de raiva, ordenou que se prendesse o escravo.
O escravo pôs-se em fuga, mal ouviu ao longe os cães de caça e os cavalos e facilmente percebeu o que ia acontecer. Ele desatou a correr, fugindo pelos montes e vales, até cair em desespero.
De acordo com a lenda, o escravo desatou a chorar, chorando tanto que as suas lágrimas fizeram nascer uma lagoa que ficou à sua frente. Os cavalos e os cães estavam agora bem próximos, por isso ele, assustado e encurralado, correu colina acima e atirou-se para a lagoa, tendo morrido afogado na Lagoa que ele próprio tinha criado.
A lagoa ainda se encontra a embelezar a ilha Terceira e o seu nome, Lagoa do Negro, serve de prova de que o sofrimento do escravo e o seu amor pela morgada nunca será esquecido.
Lenda do Milagre de Nossa Senhora da Nazaré
A Lenda da Nossa Senhora da Nazaré atribui o topónimo Nazaré a uma imagem da Virgem oriunda de Nazareth, na Palestina. Terá sido um monge grego a trazer a imagem até ao Mosteiro de Cauliniana, perto de Mérida, no século IV. O fugitivo Rei D. Rodrigo, último rei visigodo da Península Ibérica, teria chegado ao Mosteiro no século VIII, depois da derrota sofrida frente aos Mouros, em Guadalete.
O Frei Romano acompanhou o Rei D. Rodrigo na sua fuga, trazendo a imagem da Virgem (e uma caixa com as relíquias de S. Brás e de S. Bartolomeu) com ele. Antes de morrer, o Frei Romano terá escondido a imagem da Virgem numa lapa, no Sítio. A imagem ficou guardada ao longo de quatro séculos, até ao momento em que foi descoberta por pastores, que a passaram a venerar.
Conta a lenda que o alcaide-mor do Castelo de Porto de Mós, D. Fuas Roupinho, tinha o hábito de caçar nesta região. Num dia, ele descobriu a imagem e logo a venerou. Algum tempo depois, a 14 de setembro de 1182, numa manhã de nevoeiro, D. Fuas perseguia um belo veado quando, repentinamente, o viu desaparecer no precipício.
Na perseguição desenfreada que se seguiu, o veado (que poderia até ser o próprio diabo disfarçado), precipita-se do alto do promontório sobre o mar. D. Fuas ficou alarmado pelo perigo, tendo pedido auxílio à Virgem e logo o cavalo estacou, tendo salvo a vida do cavaleiro. D. Fuas foi salvo miraculosamente, por intercessão de Nossa Senhora da Nazaré, cuja imagem encontrava-se escondida numa pequena gruta no penhasco.
Em ação de graças, D. Fuas Roupinho mandou construir uma pequena igreja, a Ermida da Memória. Diz a lenda que, desde então, a imagem tem sido venerada, o que contribuiu para o nome dado ao local, Sítio de Nossa Senhora de Nazareth.
A edificação do Santuário teve início no século XIV, sendo depois remodelado e ampliado ao longo dos séculos. Hoje, acolhe numerosos peregrinos e turistas, sendo estes oriundos de diferentes partes do mundo. Em setembro, realizam-se as “Festas em Honra de Nossa Senhora da Nazaré” (CNSN), mobilizando a vinda de vários Círios.
Lenda da Dama do Pé de Cabra
Existem versões distintas acerca da Lenda da Dama do Pé de Cabra. Eis uma das mais populares…
Há muitos séculos, na aldeia histórica de Marialva (na região da Beira Alta), vivia uma bela donzela. Como era muito formosa deixou um nobre encantado com a sua beleza. Ele pretendia desposá-la. Por isso, encomendou os serviços de um sapateiro, pedindo-lhe que este fizesse uns sapatos para a donzela.
No entanto, o nobre pretendia fazer uma surpresa. Por isso, o sapateiro deveria arranjar uma forma de conseguir um molde dos pés da donzela, de modo aos sapatos servirem na perfeição nos pés da donzela.
O sapateiro espalhou farinha nos pés da cama da donzela. Foi essa a estratégia usada para acertar no tamanho do pé da donzela. Assim, quando ela pisasse a farinha, deixaria a marca no chão.
Contudo, o sapateiro olhou para a forma das pegadas deixadas no chão e constatou que a donzela tinha “pés de cabra”. O sapateiro indiferente, mas competente e profissional, fez uns sapatos perfeitamente adequados aos pés da donzela. Mas, quando o nobre entregou o presente à donzela, a donzela percebeu que já todos sabiam do seu defeito. Por isso, o seu desgosto fez com que ela se atirasse da torre do castelo.
A donzela tinha o nome de Maria Alva. A torre do castelo, mesmo em ruínas, pode ainda ser vista. Diz a lenda que é possível ver a Dama do Pé de Cabra vaguear na torre de menagem do castelo…
Lenda do Galo de Barcelos
Diz a lenda que, em plena época medieval, ocorreu um crime na cidade de Barcelos. Os habitantes de Barcelos viviam dias alarmados com um crime que tinha ocorrido, pois o criminoso andava a solta. A pessoa que cometera o crime não tinha sido descoberta, o que levava a que o pânico se instalasse. Era necessário apanhar o culpado.
Até que surgiu na cidade um galego considerado suspeito. Rapidamente, as autoridades
decidiram prender o homem. O galego fez juramentos de inocência, afirmando estar apenas de passagem, indo em peregrinação a Santiago de Compostela, pois pretendia cumprir uma promessa. Sendo o galego um devoto fiel de São Paulo e da Virgem Santíssima, queria fazer como era tradição na época uma peregrinação. Contudo, o galego foi condenado à morte, na forca.
O galego, desesperado com a decisão, pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara, algo que teve a devida autorização. Levaram o galego à residência do magistrado. O magistrado encontrava-se numa grande sala com alguns amigos, num banquete animado. O galego, sabendo que estava inocente, reforçou a sua inocência e, depois de apontar para um galo assado que se encontrava sobre a mesa, afirmou algo inesperado. Perante a incredulidade dos presentes, ele afirmou:
– “É tão certo eu estar inocente, como é certo que esse galo cantará quando me enforcarem!”
A inusitada afirmação levou os presentes às gargalhadas. Foram muitos os risos. Mas, prudentemente, não se tocou no galo, para testar a veracidade do galego. Pelo sim, pelo não, o galo não foi comido. O juiz empurrou o prato para o lado, mas ignorou o apelo de inocência.
O que era tido como impossível, aconteceu. Após o peregrino ser enforcado, o galo (apesar de se encontrar assado) ergueu-se na mesa e cantou. Perante uma audiência assustada, o galo cantou. Todos os que riram e gozaram com o pobre galego perceberam que o galego peregrino era mesmo inocente.
O juiz, consciente do seu erro, correu para a forca e descobriu que o galego se salvara, graças a um nó que tinha sido mal apertado. O juiz deu ordem para se libertar imediatamente o homem.
De acordo com a lenda, alguns anos mais tarde, o galego terá voltado a Barcelos com o objetivo de esculpir o Monumento do Senhor do Galo em louvor à Virgem Maria e a Santiago Maior. Este monumento encontra-se atualmente no Museu Arqueológico de Barcelos.
O artesão Domingos Côto terá sido o primeiro a criar o primeiro galo em cerâmica, baseado nesta lenda. O Galo de Barcelos tornou-se numa figura popular, símbolo da cidade e do país. Hoje, este objeto decorativo (que pode ser feito em cerâmica, madeira ou noutros materiais) é o souvenir português mais famoso!
Leia também:
- Top 10 dos Mitos Urbanos em Portugal
- O Porto é uma nação: lendas e mitos da cidade Invicta
NCultura
Se leu “8 Lendas Portuguesas que são histórias tradicionais fascinantes” e gostou do nosso artigo, deixe-nos o seu comentário com a sua opinião ou sugestão para mais artigos deste género!
Se gostou deste tema, pode procurar outros artigos sobre Histórias no NCultura.
Se tem outros temas que pretende que sejam explorados pelo NCultura, deixe-nos sugestões.
Se é apaixonado/a pelo mundo das Curiosidades e Pessoas, fique a saber que há mais artigos no NCultura, sobre essas temáticas.
Se tem interesse em saber mais sobre outros temas que não encontra no NCultura, pode sempre deixar-nos sugestões sobre temáticas que possam ser exploradas. Se sente uma paixão imensa pela Cultura, visite-nos diariamente. Terá muitos artigos que irá adorar!