A atmosfera sobre Portugal prepara-se para uma nova fase de forte instabilidade meteorológica, marcada por chuvas persistentes, trovoadas intensas e ondulação marítima significativa. Tudo indica que um jato polar particularmente ativo se aproximará do país nos próximos dias, alterando de forma profunda o estado do tempo e trazendo um cenário tipicamente outonal, mas com intensidade acima da média.
De acordo com o modelo europeu ECMWF, a segunda semana de novembro será dominada pela passagem sucessiva de frentes frias e pela formação de depressões atlânticas cavadas, impulsionadas por um índice NAO (Oscilação do Atlântico Norte) em valores negativos — uma combinação que favorece a chegada de chuvas abundantes e ventos fortes a Portugal continental.
O papel do jato polar: o “rio de ar” que muda o tempo em Portugal
A corrente de jato polar é um canal de ventos intensos, com velocidades que podem ultrapassar os 200 km/h, localizado entre 9 e 16 quilómetros de altitude. É esta corrente que separa as massas de ar frio polar das massas de ar quente subtropical e, quando se desloca mais a sul, transporta consigo instabilidade, precipitação e descidas acentuadas de temperatura.
Segundo o ECMWF, o jato polar vai apresentar uma trajetória sinuosa sobre a Península Ibérica, descendo de latitude e aproximando-se do território português. Esta ondulação vai favorecer a formação de depressões intensas junto à costa atlântica, capazes de gerar chuvas fortes, trovoadas e vento intenso.
A análise do portal Meteored reforça esta tendência, indicando que as oscilações do jato em latitudes mais baixas criarão condições ideais para o desenvolvimento de sistemas frontais ativos, responsáveis por aguaceiros persistentes e períodos de chuva contínua.
Chuva generalizada e persistente: Norte e Centro serão os mais afetados
Entre 10 e 16 de novembro, as previsões meteorológicas são claras: a chuva vai dominar praticamente todo o território continental. As anomalias positivas de precipitação — valores acima da média — deverão abranger as regiões do Minho, Trás-os-Montes, Beira Litoral, Beira Alta, Beira Baixa e até o Algarve.
Nas zonas do Noroeste, como Viana do Castelo, Braga, Porto e Aveiro, poderão acumular-se entre 100 e 150 milímetros de precipitação ao longo da semana.
Em Viseu, Coimbra e Leiria, os valores deverão situar-se entre 60 e 75 milímetros, e mesmo no Algarve prevêem-se chuvas persistentes, embora com menor intensidade.
No arquipélago da Madeira, o tempo também será chuvoso, ainda que com acumulados mais modestos.
Açores: a exceção no meio da tempestade
A única região que escapará a este padrão húmido será o arquipélago dos Açores. O anticiclone dos Açores, que tende a manter-se estável nesta fase, deverá garantir condições mais secas do que o habitual, com anomalias negativas de precipitação entre -10 e -30 milímetros. Será, assim, um raro refúgio de tranquilidade meteorológica num Atlântico fortemente perturbado.
O regresso da NAO negativa e o impacto em Portugal
O índice NAO (North Atlantic Oscillation) desempenha um papel determinante neste cenário.
Quando assume valores negativos, como acontecerá na segunda semana de novembro, as depressões atlânticas deslocam-se mais para sul, atingindo com maior frequência a Península Ibérica.
Esta configuração atmosférica reforça a passagem de frentes frias e aumenta a probabilidade de chuva intensa e ventos fortes sobre o território português.
Os meteorologistas alertam que a sucessão de sistemas frontais poderá prolongar a instabilidade por vários dias consecutivos, com curtos intervalos de acalmia.
O modelo europeu ECMWF aponta ainda para a possível formação de uma vasta depressão atlântica, com mais de 2000 quilómetros de diâmetro, cuja parte mais ativa poderá atingir Portugal continental — um cenário que traria precipitação intensa e agitação marítima severa.
Dias mais críticos e incertezas nas previsões
Os dias 12 e 13 de novembro surgem, para já, como os mais críticos da semana, com chuvas torrenciais, trovoadas localizadas e vento forte, de acordo com as simulações do ECMWF.
Contudo, os especialistas lembram que as previsões a médio prazo comportam sempre incertezas, especialmente quando envolvem sistemas dinâmicos como o jato polar.
Ainda assim, o padrão meteorológico é claro: Portugal atravessará um período de marcada instabilidade outonal, com chuva persistente, trovoadas frequentes, vento intenso e ondulação marítima significativa — sobretudo nas regiões Norte e Centro e na costa ocidental.
Um outono de contrastes e desafios
O regresso do jato polar e a persistência da NAO negativa trazem um outono mais ativo, intenso e imprevisível.
Este regime atmosférico, apesar de causar inconvenientes e possíveis inundações locais, é vital para reabastecer os solos e as reservas hídricas do país, especialmente após um verão prolongado e seco, explica o Postal.
As autoridades de proteção civil e o IPMA deverão emitir alertas meteorológicos nas próximas horas, alertando para o risco de cheias rápidas, vento forte e agitação marítima.
Tudo indica que, nos próximos dias, o guarda-chuva será o acessório indispensável — e que Portugal viverá um dos períodos mais típicos, intensos e dinâmicos do outono europeu.
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