Havai, atual território dos Estados Unidos, teve nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras do século XX uma grande comunidade portuguesa.
Poucas pessoas sabem, mas há uma ligação estreita entre o Havai (Estados Unidos da América) e Portugal. É que entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX, existiu lá uma grande comunidade portuguesa. Surpreendido? Mas é verdade e há vários documentos que o comprovam. Fique a saber tudo sobre esta relação inesperada.
Havai: a terra com fortes ligações a Portugal
Foi em 1914, que a revista Ilustração Portuguesa publicava uma reportagem, em que mostrava o atual Havai, à época denominado de ilhas Sandwich, com uma comunidade portuguesa, composta por cerca de 25.000 emigrantes.
Essencialmente naturais da Madeira e dos Açores, esse grupo era a maior comunidade europeia local. Estes emigrantes tinham um papel determinante na economia havaiana.
Mas, afinal, como tudo se passou
Foi já no século XIX, que o fluxo migratório começou. Em 1878, o navio alemão “Priscilla” conduziu mais de uma centena de portugueses até ao Havai. Já em 1881, o navio britânico Suffolk levou quase 500 açorianos para o Havai. Passado meio ano, foi o Earl Dalhousie que transportou mais de 300 emigrantes dos Açores até ao Havai.
Com o decorrer do século, houve mais insulares a emigrarem para este destino, superando rapidamente os 10.000 de emigrantes portugueses a viver no Havai.
O impacto desta emigração em massa
Este movimento migratório teve um grande impacto no nosso país, pois foi a primeira migração em massa que Portugal protagonizou. A qualidade de vida descrita por quem já estava no Havai ajudava a atrair cada vez mais pessoa para este destino.
Os primeiros emigrantes a rumar até ao Havai eram baleeiros açorianos que já tinham trabalhado na, à época, chamada Nova Inglaterra, isto é, os Estados Unidos da América. Porém, quando chegados ao Havai, os portugueses podiam ir fazer trabalhos muito distintos, como:
- corte da cana-de-açúcar;
- comerciantes;
- proprietários;
- empregados nos serviços do governo e nas grandes casas comerciais e bancárias.
- professores nas escolas americanas.
Muitas vezes, os emigrantes tinham a sua residência construída no mesmo local onde exerciam a sua atividade profissional.
A saudade…
Naquele tempo, como agora, qualquer emigração coloca sempre um desafio: as saudades. Saudades da terra Natal e saudades de quem se deixou para trás.
Se hoje há voos económicos e videochamadas gratuitas, à época nada disto era uma realidade e, por isso, foi difícil para estes emigrantes manterem a ligação com os entes queridos que tinham deixado em Portugal, tendo sido muito poucos aqueles que conseguiram regressar para visitarem quem tinham deixado no seu país.
No entanto, não se pense que a terra Natal foi esquecida. Prova disso é que no Havai havia vários jornais escritos em português e dedicados a Portugal que eram uma das melhores formas de “matar” saudades e não esquecer a língua materna, as raízes e a cultura nacional.
A revista Ilustração portuguesa descreveu na época as funções dos emigrantes da seguinte maneira:
“Embora haja poucos comerciantes estabelecidos, há muitos proprietários, muitos empregados nos serviços do governo e nas grandes casas comerciais e bancárias.
Um grande número de filhos e filhas dos nossos colonos exerce o professorado nas escolas americanas. A maioria dedica-se aos trabalhos das plantações (de cana de açúcar)”.
Importa referir que os portugueses que trabalhavam nas plantações adquiriram terrenos ao Estado que serviam não só para os seus trabalhos no campo, como também para o local onde fixavam a sua residência.
O grande problema para os portugueses era mesmo conseguir manter as ligações com o país de origem e com os parentes que por lá tinham ficado. Uma vez por outra, um emigrante lá conseguia saber informações através de algum companheiro.
Porém, existiam no arquipélago vários jornais escritos em Português dedicados a Portugal.
Tinham prejuízo financeiro para os proprietários, mas cumpriam claramente o objetivo de tentar manter viva a língua portuguesa junto da comunidade.
Por cinco centavos de dólar uma cópia, os leitores do jornal de Língua Portuguesa O Luso, em novembro de 1915, poderiam encontrar histórias de primeira página sobre a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Mexicana, sob as manchetes “Notícias da Guerra” e “Notícias do México”.
O semanário de quatro páginas teve a maior circulação dentre os jornais de Língua Portuguesa publicados no Havai entre 1885 e 1927 e foi o de duração mais longa.
As únicas cópias originais conhecidas de O Luso e de outros oito jornais de Língua Portuguesa da época são parte de uma coleção da Sociedade Histórica do Havai, alojada nos Arquivos e Sítios Históricos dos Lares Missionários do Havai.
Os filhos dos emigrantes pouco sabiam sobre Portugal, pois embora existisse uma escola portuguesa… não existia um professor para ensinar!
No entanto, ainda existem marcas da presença portuguesa naquela zona. Vários havaianos têm apelidos tipicamente portugueses (como Rebelo, Perestrelo, Silva, Soares, Freitas).
Em 1878, trabalhadores portugueses da Madeira e de Açores vieram para o Havai para trabalhar nas plantações. Estes imigrantes trouxeram os seus alimentos tradicionais, incluindo um pastel de massa frita chamado “malasada.” Hoje em dia há inúmeras padarias nas ilhas havaianas especializadas nesta iguaria.
Também o famoso instrumento musical ukulele, que é o cavaquinho em Portugal, chegou ao Havai no século XIX através do madeirense João Fernandes, um homem que emigrou para trabalhar na plantação do açúcar.
Atualmente, o Português é uma língua quase desconhecida no Havai.
Curiosidade
Estima-se que mais de 10% da população do arquipélago do Havai seja luso-descendente. Se ficou interessado neste assunto, saiba que em 2019 foi lançado o documentário “Portuguese in Havaii” (Portugueses no Havai), o qual reúne entrevistas a vários luso-descendentes, como o comediante Frank DeLima e o cantor Glenn Medeiros.
De acordo com a Biblioteca do Congresso, o primeiro emigrante português chegou ao Havai em 1814 e chamava-se João (John) Elliott de Castro, médico do rei Kamehameh.
O documentário tem a duração de 42 minutos e é produzido pela luso-descendente Marlene Hapai, diretora do Imiloa Astronomy Center de Hilo.
Confira algumas imagens do documentário, aqui.
Alguns dados sobre o Havai
Capital: Honolulu
Maior cidade: Honolulu
Condados: 5
Língua oficial: inglês e havaiano
Área total: 28 313,02 km²
População total: 1 455 271 hab.
Fuso horário: UTC−10
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Gostei de ler este documento jornalístico, porque simplesmente desconhecia. Por isso fico muito grato, e Bem haja. Helder Buxo
Claro que gostei, aliás custumo ler , embora ultimamente não tenha lido, por falta de me aparecer no meu Facebook.