Quando se fala no nascimento de Portugal, o nome de Guimarães surge quase instintivamente. É lá que está inscrito, com orgulho, “Aqui nasceu Portugal”. É lá que D. Afonso Henriques terá dado os primeiros passos. É lá que a nossa memória coletiva aponta como o berço da nação. Mas e se lhe disséssemos que esse berço teve, afinal, mais do que uma almofada?
Santa Maria da Feira, com o seu imponente castelo a vigiar o tempo e a história, pode ter sido o verdadeiro coração onde pulsou o primeiro grito de independência. Escondida entre os corredores da memória nacional, esta cidade do distrito de Aveiro foi palco de alianças secretas, planos ousados e decisões que mudariam para sempre o rumo do país.
O castelo que guardou os primeiros sonhos de liberdade
Muito antes de ser uma pacata cidade conhecida pela Viagem Medieval ou pela fogaça tradicional, Santa Maria da Feira já se impunha como um centro de poder. O seu castelo, uma joia da arquitetura militar medieval, ergue-se sobre uma colina como um sentinela do passado. As suas pedras guardam segredos que poucos conhecem – segredos de traições, alianças, estratégias e coragem.
No século XI, esta fortaleza era uma das mais relevantes do Condado Portucalense. A sua posição estratégica fazia dela uma peça essencial no tabuleiro político e militar que se desenhava com a Reconquista Cristã e a luta pela afirmação de um território autónomo.
Ermígio Moniz e a semente da revolta
Após a morte do conde D. Henrique, a regência da condessa D. Teresa mergulhou o condado em turbulência. A sua ligação ao nobre galego Fernão Peres de Trava gerou tensão entre os senhores da terra. Sentiam-se traídos. O poder estava a ser desviado para mãos estrangeiras.
Foi neste cenário que Ermígio Moniz, senhor de vasta influência e senhor da região da Feira, emergiu como uma figura chave. Junto com outros nobres portugueses, começou a conspirar. Não por ambição desmedida, mas por um ideal maior: o de ver Portugal nas mãos de um verdadeiro líder — D. Afonso Henriques, o jovem que ousou enfrentar a própria mãe.
Muitos dos encontros decisivos, das articulações políticas e das estratégias militares terão sido delineadas na sombra segura do Castelo da Feira. Ali se preparou o que viria a ser o confronto em Guimarães, onde a história seria finalmente escrita com sangue e bravura.
O Castelo da Feira: guardião da nossa identidade
A imponência do Castelo da Feira não é apenas visual — é simbólica, explica a VortexMag. É uma lembrança viva da força e resiliência de um povo que quis ser dono do seu destino. As muralhas ovaladas, a torre de menagem, as ameias… cada pedra parece sussurrar histórias de conspiração, de coragem e de esperança.
Séculos depois, a estrutura foi reforçada e remodelada, sobretudo no século XV pelos Condes da Feira, mas a alma que ali habita permanece a mesma: a alma de um território que foi muito mais do que um palco secundário — foi um bastião da identidade nacional.
Guimarães ou Santa Maria da Feira?
Esta não é uma competição entre cidades, mas uma tentativa de dar a cada lugar o reconhecimento merecido. Guimarães foi, sem dúvida, o palco da grande batalha. Mas Santa Maria da Feira foi o bastidor onde se ensaiou o espetáculo que haveria de mudar tudo. Foi a forja onde se moldou o espírito de um rei e de um país. Ambas as cidades têm o direito de serem lembradas, não como rivais, mas como cúmplices na gestação de Portugal. Uma sem a outra, talvez nada tivesse acontecido.
A memória que não pode ser esquecida
Hoje, Santa Maria da Feira continua viva, vibrante, orgulhosa do seu legado. As ruas que sobem até ao castelo ecoam passos antigos. Os visitantes que ali chegam talvez não saibam que estão a pisar solo sagrado — solo onde nasceu a vontade de um povo em ser livre.
É tempo de recuperar essa memória. De dar voz aos heróis que não cabem nos manuais escolares. De reconhecer que o nascimento de Portugal foi, como todas as grandes histórias, feito de muitas mãos, muitas vozes e muitos lugares.
Porque, no fundo, o berço de uma nação não é apenas onde nasce o seu rei — é onde nasce o seu espírito.
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Pelo amor de Deus e da verdade !!! … O Castelo da Feira nada teve a ver com a independência de Portugal, Márcio Magalhães !!! … Apesar do esforço e tentativas que os Feirenses fazem … para se colocarem na origem dos acontecimentos … e com a fantochada da Viagem Medieval … tudo é ficção forjada que tem iludido um ou outro historiador !!! … O Castelo da Feira estava longe de mais dos acontecimentos … que surgiram em Guimarães … e foram resolvidos na Batalha de S.Mamede !!! … Apesar dum cronista referir o Castelo da Feira … isso ficou cabalmente demonstrado … pelo célebre e rigoroso medievalista Dr. Almeida Fernandes … que foi erro dum copista … que em vez de referir o Castelo de FARIA, … próximo de Guimarães, e que esteve na Batalha de S.Mamede, ao lado Afonso Henriques, … escreveu Feira em vez de FARIA !!! … Por amor á verdade e á nossa História … sejamos rigorosos e não propalemos inventonas … que até a folclórica viagem medieval … procura ingloriamente justificar !!!