A poucos dias do Natal, um cenário de incerteza e angústia instala-se entre centenas de famílias portuguesas. Muitos camionistas nacionais encontram-se retidos em várias autoestradas francesas, vítimas de uma greve de agricultores que está a bloquear algumas das principais vias de circulação do país. A paralisação, que se prolonga há vários dias, está a impedir o normal trânsito de mercadorias e ameaça comprometer o regresso destes profissionais a Portugal a tempo da consoada.
Para quem vive da estrada, o Natal já é, muitas vezes, passado longe de casa. Este ano, porém, o drama ganha contornos mais duros: há motoristas parados sem previsão clara de retoma da circulação, a dormir nos camiões, longe da família e sem garantias de quando poderão retomar viagem.
Profissionais retidos sem respostas nem prazos
Segundo informações avançadas pelo Correio da Manhã, José Almeida, camionista com três décadas de experiência, é um dos muitos portugueses bloqueados numa autoestrada francesa.
“Temos sido bombardeados com várias greves”, relatou, sublinhando que, apesar de já ter vivido situações semelhantes, a frequência e intensidade dos protestos em França parecem estar a agravar-se.
A incerteza é o fator mais desgastante. Sem horários definidos, sem alternativas viáveis e com rotas completamente cortadas, os motoristas veem-se obrigados a esperar, muitas vezes durante horas ou dias, em condições difíceis e com custos pessoais e profissionais elevados.
“Centenas” de camionistas portugueses afetados
O caso de José Almeida está longe de ser isolado. Manuela Teixeira, gerente da empresa de transportes Euro Ariz, sediada em Marco de Canaveses, confirmou que tem pelo menos três motoristas retidos em França, mas admite que o número total de portugueses afetados poderá ascender a várias centenas.
“Eles estão a ficar preocupados que não consigam vir a Portugal para o Natal”, afirmou. A responsável garante que tudo fará para evitar que os motoristas passem a quadra festiva fora de casa, mas reconhece que a situação foge ao controlo das empresas.
“Não quero que os meus motoristas passem o Natal fora”, sublinhou, espelhando a angústia de muitos empresários do setor.
Bloqueios com tratores e protestos agrícolas em escalada
A origem dos bloqueios está numa greve dos agricultores franceses, que contestam uma política governamental de abate de gado doente, adotada no âmbito de uma epidemia de dermatite contagiosa. Para pressionar o Governo, os manifestantes recorreram a uma forma de protesto recorrente em França: o bloqueio físico das autoestradas com tratores e maquinaria agrícola pesada.
Estes protestos ganharam ainda maior peso num contexto de forte tensão política e económica. França rejeitou recentemente um acordo comercial entre a União Europeia e os países do Mercosul, um tratado em negociação há mais de 25 anos e que previa a redução progressiva de tarifas comerciais num mercado de cerca de 780 milhões de pessoas. A decisão agravou o clima de contestação no setor agrícola, já pressionado pela concorrência internacional e pelas exigências ambientais.
Impacto direto nas famílias, empresas e cadeias de abastecimento
As consequências vão muito além do desconforto momentâneo. Cada camião parado representa atrasos na entrega de mercadorias, prejuízos financeiros para as empresas e pressão adicional sobre cadeias logísticas já fragilizadas.
Para os motoristas, o impacto é também emocional: o medo de falhar o Natal em família, depois de semanas ou meses na estrada, pesa tanto como o cansaço físico.
Empresas de transporte enfrentam dificuldades acrescidas na gestão de frotas, no cumprimento de contratos e na comunicação com clientes. Ao mesmo tempo, multiplicam-se os apelos à resolução rápida do conflito, sob pena de os efeitos se prolongarem para além da quadra natalícia.
Um Natal marcado pela espera e pela incerteza
Embora a paralisação esteja, para já, prevista até sexta-feira, permanece o receio de prolongamento dos protestos, refere o Postal. Caso os bloqueios se mantenham, muitos camionistas portugueses poderão ver-se obrigados a passar o Natal longe de casa, num cenário que se repete, ano após ano, mas que ganha especial carga simbólica nesta altura do ano.
Entre autoestradas bloqueadas, negociações políticas e protestos sem solução imediata, centenas de famílias portuguesas vivem dias de ansiedade, à espera de uma mensagem, de uma chamada ou de uma notícia que permita, finalmente, fazer as malas e preparar a ceia com todos à mesa.





