Descubra a incrível saga de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, dois destemidos pioneiros que desafiaram os limites do impossível! No ano de 1922, o nosso país encontrava-se num contexto delicado, emocionalmente desgastado pela guerra e o fracasso da 1ª República fazia-se sentir. Portugal lidava ainda com o peso de uma herança pesada, o seu passado glorioso.
Cerca de 4 séculos antes, o nosso país apresentava diversos heróis que eram protagonistas de feitos notáveis que os colocaram na História. Os portugueses ergueram o primeiro império global da História, algo que impressionou a humanidade. Uma nação com apenas 1,5 milhões de habitantes conseguiu evidenciar-se num planeta com países muito mais poderosos.
Gago Coutinho e Sacadura Cabral: a vitória impossível contra o Atlântico
Gago Coutinho e Sacadura Cabral emergiram como figuras relevantes neste cenário. Ambos os homens apresentam um projeto de dimensão global ao governo português. O plano passava por colocar Portugal novamente nas bocas do mundo.
O objetivo destes homens foi o de desenvolver o primeiro sistema de navegação aérea. Eles queriam efetuar a primeira travessia aérea do Atlântico Sul e comprovar ao mundo a seu valor.
É importante compreender que naquela época o mundo das viagens de avião era muito diferente. Então, só se tinham realizado 3 travessias aéreas de dimensão significativa. Essas viagens recorriam sempre à observação de referências em terra para a definição do rumo a tomar. Tratava-se de uma navegação à vista.
O cientista Gago Coutinho, com o seu engenho e talento, desenvolve o sextante de horizonte artificial que, com um sistema de cálculos, permitiu a ambos a possibilidade de viajar com enorme precisão entre dois pontos bem distantes.
Ora, em teoria, essa vantagem de conhecimentos colocava estes portugueses na vanguarda da aviação mundial. Sacadura Cabral era visto como um militar visionário. Este homem adquiriu 3 hidroaviões em Inglaterra, todos do modelo F III D. Estes aparelhos foram modificados a pedido, conforme os requisitos estabelecidos para a viagem.
O plano
Como era necessário abastecer a máquina numa viagem desta envergadura, o governo português providenciou um barco de apoio para os acompanhar ao longo do percurso. Este veículo permitia assegurar o reabastecimento da aeronave, sempre que necessário, pois numa distância destas a necessidade manifestar-se-ia por várias ocasiões.
22 de março de 1922
Nesta data, iniciou-se a primeira etapa da jornada idealizada. Os dois portugueses levantaram voo no Tejo. Gago Coutinho e Sacadura Cabral voaram num hidroavião batizado de Lusitânia. O seu destino era Las Palmas.
O voo protagonizado por estes homens demorou quase 8 horas. O hidroavião apresentou um consumo de gasolina muito superior ao previsto. Contudo, o voo do Lusitânia foi realizado sem ter havido qualquer incidente.
2 de abril de 1922
Nesta data, é iniciada a segunda etapa do projeto. Este voo é feito com destino a Cabo Verde. Os portugueses voaram ao longo de 9 horas. Gago Coutinho e Sacadura Cabral bateram os seus recordes. No entanto, os portugueses depararam-se com um problema, após amararem.
O consumo de gasolina era excessivo. O que restava poderia não ser suficiente para a jornada seguinte. A viagem prevista visava ligar Praia (situada em Cabo Verde) a Fernando Noronha (situada no Brasil).
Portanto, perante este problema, havia uma decisão difícil a tomar. Gago Coutinho e Sacadura Cabral equacionam desistir da viagem. A alternativa passava por reabastecer o hidroavião num local anterior a Fernando Noronha.
O destino
O local destinado ao reabastecimento existia. Tratava-se do rochedo de São Pedro. A dimensão deste lugar era reduzida, inferior a 1 campo de futebol. Por isso, Gago Coutinho e Sacadura Cabral tinham em mãos uma missão espinhosa. A proeza de amarar junto a este rochedo ou encontrá-lo representava por si só um feito maior que toda a travessia.
Estes heróis não hesitaram no momento de decidir. Preferiram arriscar perderem-se no meio do Atlântico a deixar os milhões de portugueses desapontados. O povo vivia a aventura destes heróis com grande entusiasmo.
18 de abril de 1922
Nesta data, Gago Coutinho e Sacadura Cabral iniciam a mais longa e histórica etapa da travessia. O percurso total é de 908 milhas que permitiriam ligar Portugal (Cabo Verde) ao Brasil (Rochedo de São Pedro). Esta etapa representava o maior desafio enfrentado pela aviação mundial até então. Durante largas horas, no horizonte dos portugueses, apenas haveria o Atlântico.
O desenlace
Após poucas horas de voo, Sacadura Cabral verifica que poderia não haver combustível suficiente para esta etapa.
Entre a gasolina gasta só pela descolagem e a que foi evaporando durante a noite devido às temperaturas elevadas de Cabo Verde, perdeu-se muito combustível. Sacadura Cabral reconhecia que ambos estavam dependentes das condições de vento.
O relatório
No relatório do capitão, encontram-se as anotações de Sacadura Cabral, conclusões esclarecedoras sobre esse momento:
- (…) O lógico, o prudente, seria voltar para trás, mas a má impressão que se produziria, se assim fizéssemos, seria enorme. (…)
- (…) Desde que partimos de Lisboa tínhamos colocado a vida em risco e, nestas condições, o melhor era ir até onde a gasolina permitisse. (…)
O cenário
Num momento em que somente restavam 3 litros de gasolina no tanque do hidroavião, o penedo de São Pedro surge no campo de visão, finalmente, para alívio de ambos. Ora, nesse momento, Cabral inicia com o Lusitânia as manobras de amaragem.
Contudo, nesse contexto, confirma-se o seu pior receio. Percebia-se que naquele final de tarde de mar agitado, o penedo não fornecia o abrigo indispensável para uma amaragem segura.
Falta de condições de segurança
Nestas condições adversas, a ondulação do mar agitado arranca um dos flutuadores do hidroavião durante a amaragem, afundando o Lusitânia. Apesar deste triste fim na aventura de Cabral e Coutinho, ambos os portugueses salvaram-se. A dupla realizou um feito sem precedentes na história da aviação até então.
O feito
Cabral e Coutinho tinham levantado voo a partir de uma ilha. Ambos voaram ao longo de 11 horas e 21 minutos. Ao longo do percurso, percorreram 908 milhas. Em boa parte do trajeto, os portugueses apenas tiveram o Atlântico no horizonte.
O cientista e o militar fizeram algo notável: conseguiram amarar junto a um rochedo minúsculo perdido no meio do Atlântico. Fizeram-no sem qualquer ajuda exterior, recorrendo a meios de navegação aérea que eles próprios desenvolveram.
A conclusão
O nosso país estava em êxtase. A proeza orgulhava Portugal. O governo português enviou a segunda aeronave comprada em Inglaterra ao encontro destes heróis. Essa aeronave foi batizada de Portugal, simbolicamente.
O objetivo do envio desta aeronave era evidente. Com ela, Cabral e Coutinho, os novos heróis nacionais a realizarem feitos internacionais, iriam levantar de Fernando Noronha. Ao pilotar a aeronave Portugal até aos rochedos, eles poderiam sobrevoá-los e terminar a travessia que ambicionaram.
11 de maio de 1922
Nesta data, inicia-se nova travessia, após sobrevoarem os rochedos de São Pedro. Os portugueses dirigem-se para Fernando Noronha. Contudo, ocorre uma avaria no motor que os obriga a uma amaragem de emergência.
Avaria
Posteriormente, os portugueses tentaram descolar várias vezes. Contudo, não foi possível cumprir esse objetivo. A aeronave encontrava-se demasiado danificada. Por isso, Coutinho e Cabral estavam perdidos no meio do Atlântico sob a forma de náufragos.
O salvamento
Em Fernando de Noronha, um navio de apoio português aguardava-se. A sua ausência gerou preocupação. Por isso, o navio emitiu um SOS, após estranhar a demora do regresso da aeronave. Então, um cargueiro inglês respondeu ao SOS. Cabral e Coutinho foram encontrados perdidos no mar.
A sobrevivência
Estes 2 portugueses conseguiram mais um feito, ao acabarem por sobreviver 9 horas no mar, enquanto náufragos. Contudo, os heróis nacionais não estavam completamente satisfeitos. Coutinho e Cabral pediram que lhes enviassem o terceiro hidroavião que foi comprado em Inglaterra. Assim, eles poderiam completar a aventura.
O sucesso
Foi desta forma que tudo aconteceu. Por isso, o trajeto final revelou-se um sucesso absoluto. Coutinho e Cabral contribuíram para que o homem voasse pela primeira vez com recurso à navegação astronómica.
O mundo da aviação (e não só) rendeu-se aos feitos desta dupla, definida como “bravos aviadores portugueses”. Esta viagem revelou-se uma vitória que contribuiu para o progresso da humanidade.
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Portugal de ouro
Cerca de 400 anos depois de Portugal ter dado novos mundos ao mundo, o nosso país tinha voltado a mostrar o seu valor internacionalmente. Esta dupla de heróis portugueses tinha acabado de alcançar uma vitória impossível contra o Atlântico.
Os ingredientes para o sucesso internacional foram os mesmos. Tal como no passado, o recurso à ciência e à tecnologia foram importantes, mas sem a capacidade de levar a coragem até onde a loucura começa. Nenhum desses sucessos seria alcançado. Os portugueses ousaram fazer o que ainda não tinha sido feito.