Alenquer, popularmente conhecida como a vila-presépio, viu nascer o maior humanista português: Damião de Góis.
Portugal tem muitas terras interessantes, cheias de história. Há aldeias, vilas e cidades que se tornaram especiais para os portugueses, porque serviram de palco a acontecimentos marcantes da nossa história ou porque foram locais onde nasceram personalidades que serão para sempre recordadas pelos portugueses.
Um desses destinos é Alenquer, que viu nascer uma pessoa que conquistou o seu lugar nos manuais portugueses de história. Conheça melhor Alenquer, um destino interessante onde nasceu Damião de Góis.
Em Alenquer nasceu o maior humanista português
Alenquer encontra-se presente numa encosta, num local que permite criar um cenário incomum. A beleza do local valer-lhe-ia o título de Presépio de Portugal. Alenquer encontra-se na Estremadura, sendo um dos 15 concelhos que integra o distrito de Lisboa.
A vila é um destino encantador, com séculos de história. A paisagem é deslumbrante, sendo emoldurada pelas colinas da Serra de Montejunto e pela planície ribatejana, onde predomina o motor ancestral da sua economia, a vinha.
A vila teve um papel importante em diferentes momentos da história do nosso país. Alenquer é conhecida por causa das Festas do Império do Divino Espírito Santo e por ser predileta de Camões. Além disso, serviu de Berço de Damião de Góis.
História
O primitivo núcleo habitacional de Alenquer (como castro ou povoado de encosta) terá sido romanizado (séculos II a.C. a III d.C.). O Museu Municipal apresenta algumas peças de origem lusitano-romanas que foram encontradas na Barradinha. Destacam-se entre elas uma mísula ou capitel de mármore branco e um fragmento de asa de ânfora com marca de oleiro.
Entre os séculos III e VIII, aconteceram as invasões bárbaras. Vários povos passaram por aqui, nomeadamente alanos, vândalos, suevos e visigodos. O historiador Guilherme Henriques defendeu que a fundação do castelo de Alenquer deu-se com a entrada dos visigodos em território português.
A povoação e o seu castelo foram conquistados em 1148, pelas forças de D. Afonso Henriques (1112-1185). Esse momento histórico aconteceu no contexto da Reconquista cristã da Península Ibérica. Surgiu, então, o repovoamento e a reconstrução das suas defesas.
Em 1212, Alenquer é entregue a D. Sancho I. Nesse mesmo ano, o monarca atribuiu foral. Este diploma não especifica os limites do termo da vila, porque tratava apenas da consolidação de uma situação já existente.
Em 1302, D. Dinis concederá novo foral à vila, que seria reformada no ano de 1510, na sequência da reforma dos forais que D. Manuel promoveu.
O concelho de Alenquer foi constituído após o processo liberal que ocorreu entre 1832 e 1855, algo que aconteceu no período que corresponde, culturalmente, às gerações do Romantismo.
Damião de Góis (1502-1574)
Damião nasceu na vila de Alenquer, no dia 2 de fevereiro de 1502. Ele era filho do almoxarife de Alenquer. Rui Dias de Góis era o nome do seu pai. A sua mãe, D. Isabel Gomes Limi, era descendente de fidalgos flamengos.
Damião de Góis ficou órfão de pai no ano de 1513. Tinha apenas 11 anos, quando foi recebido no paço de D. Manuel. Nesse local, Damião fez a sua formação, obtendo diferentes tipos de conhecidos relevantes.
Ele tinha apenas 20 anos quando partiu para Antuérpia. Por aí, ele desempenhou o cargo de Secretário da Feitoria portuguesa.
Nos anos seguintes, prestou serviço em diferentes partes da Alemanha, Flandres, Barbante e Holanda, participando em negócios de muita importância.
Em 1533, após várias missões diplomáticas, abandonou as funções e dedicou-se ao que lhe interessava verdadeiramente: os ideais humanistas.
Damião de Góis mudou-se, então, para Basileia. Ele viveu com Erasmo de Roterdão. Posteriormente, seguiu para Pádua. Por lá, frequentou a Universidade local durante quatro anos. Entre os seus amigos, estavam personalidades como: Buonamici, Sadoleto, Lutero e Bembo.
Ao longo da sua vida, publicou várias obras humanistas e historiográficas, quase sempre em latim.
Damião de Góis foi feito prisioneiro durante a invasão francesa da Flandres. Mais tarde, foi libertado graças à ação de D. João III que o trouxe para o nosso país.
Foi nomeado guarda-mor dos arquivos reais da Torre do Tombo e também foi escolhido pelo cardeal D. Henrique para escrever a crónica oficial do rei Manuel I, obra que ficou completada em 1567.
Contudo, o seu trabalho, o que escrevia e o que defendia trouxeram problemas, e ele tornou-se num alvo para a Inquisição e até com famílias nobres.
Damião de Góis estava agora sem a proteção do cardeal-regente. Ele foi preso. Posteriormente, foi sujeito a um processo no Santo Ofício e, mais tarde, em 1572, foi transferido para o Mosteiro da Batalha.
Acabou por ser abandonado pela família e, mais tarde, apareceu morto, a 30 de janeiro de 1574. Foi encontrado na sua casa de Alenquer, havendo suspeitas de assassinato. Damião de Góis foi enterrado na igreja de Santa Maria da Várzea, da mesma vila, que mandara restaurar em 1560.
Foi colecionador de espécies greco-romanas, musicólogo, diplomata e historiógrafo. Ele será recordado como uma das figuras mais proeminentes do Humanismo português. Damião de Góis promoveu um contacto que proporcionou uma ligação entre Portugal e os grandes humanistas da época.
O castelo, ex-libris local
Esta fortaleza é um castelo gótico, erguido num local estratégico, estando bem ajustada à topografia do terreno. Nos primeiros anos do século XIII, o Castelo de Alenquer era encarado como uma das praças-fortes mais importantes da região imediatamente a norte de Lisboa.
Terá sido no século V, que a história do Castelo de Alenquer começou, quando os Álanos atacaram os Visigodos instalados na Península Ibérica. Nessa época, os Álanos fundaram a povoação para consolidar a sua presença na região. A povoação foi fundada no território que atualmente reconhecemos como Alenquer. Na época, denominaram a povoação de Alan Cana (“Templo dos Alanos”).
Cerca de 150 anos mais tarde, os Visigodos conseguiram reconquistar esta região. Eles conseguiram manter esse território até ao período das conquistas muçulmanas. Os mouros souberam aproveitar os recursos defensivos que se encontravam no local e aproveitaram para edificar na zona uma fortaleza. Esta, face às suas características, era muito difícil de ultrapassar.
Durante 4 séculos, esta fortaleza esteve na posse dos mouros. No entanto, no ano de 1148, mais precisamente no Dia de São João, Dom Afonso Henriques decidiu ser altura de juntar mais um castelo ao recente reino de Portugal. Realizou um cerco que durou 2 meses, até ao momento em que os muçulmanos finalmente desistiram e abandonaram o Castelo.
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Lenda de Alenquer
Segundo reza a lenda, na manhã da batalha decisiva, quando D. Afonso Henriques se refrescava no rio, observou que se encontrava um cão (alão) na muralha. Ao contrário do que seria de esperar, o fiel vigilante não assinalou a presença de estranhos que se encontravam tão perto da muralha. O animal não ladrou.
O rei português encarou essa atitude como bom presságio e ordenou o ataque afirmando: “Alão quér”! Segundo a lenda, terão sido estas palavras que deram origem ao nome da povoação de Alenquer.
Posteriormente, travou-se um combate difícil do qual os cristãos saíram vitoriosos.
Acerca do cão que tinha o nome “Alão” é contada outra lenda. Diz-se que o cão passava todas as noites nas muralhas. Ele tinha sempre a chave do castelo na boca. Guardava-a para a entregar na casa do governador.
Tendo conhecimento disso, os cristãos prenderam uma cadela a uma oliveira próxima. O cão ficou atraído pela cadela. Por isso, ao ser seduzido, desviou-se do seu trajeto habitual caindo na armadilha.
Os cristãos apanharam o cão desta forma, alcançando assim as chaves que o animal transportava. A conquista da fortaleza terá sido mais fácil devido a essa estratégia.
Por isso, no brasão do concelho, é possível observar um cão que se encontra junto das muralhas. Há também uma cercadura com 14 rosas, uma flor por cada freguesia do município.