O elevador do Bom Jesus de Braga é muito mais do que um simples meio de transporte. É um monumento vivo, um símbolo de identidade bracarense e uma verdadeira joia da engenharia que atravessou séculos sem perder o encanto. Inaugurado em 1882, este elevador centenário não só revolucionou a mobilidade urbana na época, como também se tornou numa das atrações turísticas mais visitadas de Braga. Entre história, curiosidades e a sua beleza única, o elevador continua a despertar emoções e a conquistar corações de todos os que o experimentam.
Um marco histórico de 140 anos
O mês de março de 2022 assinalou os 140 anos da inauguração do elevador do Bom Jesus de Braga, considerado o mais antigo do mundo em funcionamento.
Criado para vencer os 573 degraus que separam a base do monte do santuário, este elevador tornou-se uma alternativa acessível e inovadora ao árduo escadório do Bom Jesus, um percurso que exige grande esforço físico. Desde então, tornou-se parte integrante da vida da cidade, transportando diariamente milhares de pessoas, entre fiéis, turistas e curiosos.

A visão ousada de Manuel Joaquim Gomes
Por detrás desta obra-prima esteve Manuel Joaquim Gomes, um empresário bracarense visionário, conhecido como o “Burnay do Minho”. Começou modestamente na panificação, mas com talento, determinação e alianças estratégicas, tornou-se num dos homens mais influentes da cidade.
Com a colaboração do engenheiro suíço Nikolaus Riggenbach e do jovem engenheiro luso-francês Raul Mesnier de Ponsard, Manuel Joaquim Gomes idealizou um sistema moderno e revolucionário que ainda hoje se mantém em funcionamento.
Um sistema único no mundo
O elevador do Bom Jesus distingue-se por ser o único no mundo a utilizar um sistema de contrapeso de água. Cada cabine possui um reservatório com capacidade para 5.850 litros.
Quando a cabine superior é enchida, o peso faz com que desça, puxando a cabine inferior para cima. Ao chegar ao sopé do monte, a água é libertada, e o ciclo repete-se. Simples, engenhoso e ecológico, este processo continua a ser um exemplo pioneiro de sustentabilidade.

Engenharia sustentável antes do tempo
Muito antes de o conceito de “sustentabilidade” ganhar protagonismo, o elevador do Bom Jesus já funcionava com um modelo exemplar. A água utilizada não provém da rede pública, mas sim das minas e fontes do próprio monte.
Isto significa que o sistema não consome energia elétrica, nem gera poluição, tornando-o uma obra-prima ecológica que sobreviveu intacta às mudanças tecnológicas de mais de um século.
Património mundial e orgulho nacional
O reconhecimento não tardou. Em 2019, o Santuário do Bom Jesus do Monte, juntamente com o seu icónico elevador, foi classificado como Património Mundial da UNESCO. Este título reforça a importância cultural e histórica desta estrutura, colocando-a ao nível dos monumentos mais valiosos do planeta.
Uma experiência inesquecível
Viajar no elevador do Bom Jesus de Braga não é apenas um ato funcional; é uma experiência que desperta emoções. Em apenas dois a quatro minutos, os passageiros percorrem os 267 metros de rampa inclinada, imersos na beleza natural envolvente. O ranger suave dos carris, a frescura da serra e o deslizar da cabine tornam o momento único, misturando nostalgia, história e encantamento.

Curiosidades fascinantes
Durante a sua construção, algumas árvores foram abatidas para abrir espaço à rampa, e a madeira foi reaproveitada para sustentar os carris. Este detalhe mostra a engenhosidade e o pragmatismo da época. A obra demorou cerca de dois anos a ser concluída, mas a robustez do sistema é tão notável que ainda hoje se mantém em perfeito funcionamento.
Uma herança para as gerações futuras
O elevador do Bom Jesus é muito mais do que um transporte centenário: é um testemunho de inovação, de resiliência e de respeito pela natureza. É também um símbolo de Braga e de Portugal, uma herança viva que deve ser preservada e celebrada pelas gerações futuras.
Quem visita Braga e não experimenta o elevador do Bom Jesus, perde a oportunidade de sentir na pele a ligação entre passado e presente, tradição e modernidade, devoção e inovação.