Com a chegada do verão, os dias tornam-se mais longos, o calor aperta e as idas à praia ou à piscina tornam-se rotina. Nessa descontração típica da estação, muitos condutores optam por calçado leve e prático, como chinelos de dedo ou sandálias. Mas surge, inevitavelmente, a dúvida: será que é permitido conduzir de chinelos em Portugal? E se sim… será seguro?
A resposta pode surpreender — sim, é permitido, mas há muito mais a considerar para além da legalidade. Porque entre o que a lei permite e o que é realmente seguro vai uma distância que, no trânsito, pode custar muito mais do que uma simples multa.
Não é proibido, mas pode ser perigoso
Segundo o Ekonomista, não existe nenhuma proibição legal explícita no Código da Estrada português que impeça um condutor de usar chinelos, sandálias, ou até de conduzir descalço.
Ou seja, não há qualquer multa automática por esta escolha de calçado. No entanto, a ausência de proibição não é sinónimo de recomendação.
O principal risco está na possibilidade de perda de controlo sobre os pedais. Um chinelo pode escorregar, ficar preso entre o acelerador e o travão, ou até embaraçar-se nos tapetes do carro. Um segundo de atraso na travagem, uma hesitação ao acelerar… e o acidente pode tornar-se inevitável.
O mito urbano que teima em persistir
Muitos portugueses ainda acreditam que é ilegal conduzir de chinelos ou sem camisa — mas isso não passa de um mito urbano, transmitido de geração em geração, muitas vezes reforçado pela aparência de informalidade ou descuido.
No entanto, a lei não menciona qualquer tipo de calçado ou vestuário obrigatório.
O que existe, sim, é uma norma de bom senso: o artigo 11.º do Código da Estrada, no seu n.º 2, refere que os condutores devem abster-se de práticas que possam prejudicar a segurança da condução.
E isto abre espaço para interpretação pelas autoridades.
O bom senso também conduz
Apesar de a GNR ou a PSP não multarem diretamente por se conduzir de chinelos, caso haja um acidente ou comportamento de risco, e se for entendido que o calçado teve influência, então o condutor poderá ser responsabilizado por condução negligente. Nestes casos, pode enfrentar coimas entre os 30 e os 600 euros, além de possíveis responsabilidades civis ou criminais.
O mesmo princípio aplica-se a outros comportamentos frequentes no trânsito de verão: conduzir maquilhando-se, comer enquanto conduz, escrever mensagens ou até mudar de roupa — tudo comportamentos não especificamente proibidos, mas claramente perigosos.
Conduzir descalço: sim ou não?
É outro tema que gera dúvidas. A lei não proíbe conduzir descalço, mas tal como acontece com os chinelos, não é recomendado. A falta de aderência e sensibilidade nos pés pode dificultar o controlo eficaz dos pedais. Sem a sola do calçado a oferecer resistência e firmeza, os reflexos podem ser mais lentos e o risco aumenta.
A melhor escolha será sempre um calçado fechado, firme, com sola aderente e que permita uma condução precisa e estável. Sapatos com salto, sandálias frouxas ou chinelos devem ser evitados, por mais tentadora que seja a descontração do verão.
Conclusão: a segurança está nos detalhes
Sim, conduzir de chinelos não é ilegal em Portugal. Mas isso não significa que seja uma decisão inteligente. A condução exige atenção, controlo e reflexos — e tudo isso pode ser comprometido com um simples chinelo mal colocado.
O verão convida à descontração, mas quando estamos ao volante, não há espaço para distrações. A escolha do calçado pode parecer um detalhe insignificante, mas é precisamente nos detalhes que se evita a tragédia.
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