Descubra a incrível história de Duarte Pacheco Pereira, o navegador português que pode ter chegado ao Brasil antes de Cabral. Ao longo dos quase 900 anos da nossa história, muitos foram os homens que conseguiram deixar a sua marca. Há em todas as áreas homens que realizaram feitos que os tornaram em figuras marcantes da nossa história. Alguns até terão sido autênticos heróis. Por isso, atualmente, há pessoas que merecem ser destacadas pelas suas qualidades singulares, seja na área da gastronomia, na área da moda, na área literatura, na área da pintura, na área da dança, entre outras.
No passado, eram os reis que se destacavam, os padres, os guerreiros. No presente artigo, iremos centrar a nossa atenção numa pessoa que ficou conhecida como o Aquiles Lusitano.
Duarte Pacheco Pereira, o português que descobriu o Brasil antes de Cabral
Duarte Pacheco Pereira (1460-1533)
Duarte Pacheco Pereira nasceu em 1460, na cidade de Lisboa. Os seus pais foram João Pacheco e D. Isabel Pereira. Duarte Pacheco Pereira foi um homem que demonstrou ter grande erudição. No entanto, dedicou-se às armas tendo revelado também nesta área grandes qualidades.
Pertenceu à guarda real de D. João II, foi capitão-mor da Costa do Malabar e chegou a ser governador de São Jorge da Mina.
A vida
Duarte Pacheco Pereira foi um homem que se distinguiu em vários ofícios. Foi navegador, cosmógrafo português, militar e herói guerreiro durante os reinados de D. João II, D. Manuel I e D. João III.
O seu protagonismo não foi o mesmo de outros navegadores. Será mesmo o navegador português mais subvalorizado! Contudo, ele foi efetivamente um dos grandes navegadores dos séculos XV e XVI.
Duarte Pacheco Pereira assumiu uma missão confiada pelo rei D. João II. Este homem apenas se interessava pela glória do reino, por isso recusou sempre receber quaisquer riquezas como paga dos seus atos. O seu contributo para a glória e história do país é inegável, merecedor dos maiores elogios.
Ele descobriu o Brasil?
A teoria que Duarte Pacheco Pereira descobriu o Brasil é controversa. Todos sabemos que quem descobriu o Brasil foi Pedro Álvares Cabral, certo? Segundo algumas teses, não é assim tão claro, o que nos faz constatar que podemos estar a aprender uma história errada. Não é a primeira vez que acontece e não será a última. A teoria é apresentada no livro “A Confissão do Navegador”. Duarte Pacheco Pereira foi um tripulante que integrou a frota de Álvares Cabral.
O Tratado de Tordesilhas
Sob as ordens de D. João II, Duarte Pacheco Pereira realizou algumas viagens à costa da Guiné. A sua experiência de navegador levou-o a ter um papel importante num acontecimento histórico de grande relevância internacional.
Duarte Pacheco Pereira integrou a delegação portuguesa que negociou e assinou o Tratado de Tordesilhas. A sua competência, em matéria de geografia e de cosmografia, fez com que figurasse entre os membros da delegação portuguesa encarregada de estabelecer os termos do Tratado de Tordesilhas que foram negociados com os castelhanos, em 1494.
Antes de Pacheco Pereira acompanhar Pedro Álvares Cabral na viagem de 1500 que ficou para a história, D. Manuel I encarregou-o de uma expedição especial que estava relacionada com a demarcação da linha estabelecida pelo mesmo tratado. Este momento terá constituído um passo preparatório na descoberta do Brasil.
No entanto, há quem vá mais longe, defendendo um papel mais relevante para Duarte Pacheco Pereira.
Uma fonte encontrada
Existe uma interpretação do livro Esmeraldo de Situ Orbis que contraria a história. Este regimento náutico foi escrito pelo próprio Duarte Pacheco Pereira.
O navegador começou a sua escrita de “Esmeraldo de Situ Orbis” por volta de 1505. No entanto, o documento só foi publicado 400 anos mais tarde. É possível consultar este documento na Biblioteca Municipal de Cascais.
A descoberta oficial
Pedro Álvares Cabral afirmou ter descoberto uma ilha, quando chegou ao Brasil, com a sua numerosa esquadra cabralina. Os livros ensinam-nos que no momento da chegada de Pedro Álvares Cabral com as 13 naus e caravelas, os portugueses desconheciam a existência do Brasil. No entanto, Duarte Pacheco Pereira terá comandado uma expedição secreta antes desse momento.
Por isso, segundo os defensores desta teoria, Duarte Pacheco Pereira terá sido quem descobriu o Brasil. A viagem tinha sido secreta e tinha como objetivo identificar os territórios que pertenciam a Portugal ou a Castela, segundo o Tratado de Tordesilhas, de 1494.
A descoberta do Brasil
Duarte Pacheco Pereira já tinha participado das negociações do Tratado de Tordesilhas, quando percorreu a costa brasileira e o mar do Caribe em finais do século XV. Ora, esta viagem secreta antecedeu a primeira viagem comprovada de um europeu ao território brasileiro.
O espanhol Vicente Yáñez Pinzón terá desembarcado no dia 26 de janeiro de 1500. No dia 22 de abril de 1500, foi a vez de Pedro Álvares Cabral ter desembarcado em Porto Seguro, no litoral sul da Bahia. No entanto, a viagem do navegador Duarte Pacheco Pereiro ao Brasil teria sido em 1498.
O Guerreiro inspirador
Duarte Pacheco Pereira partiu para a Índia e foi o comandante da nau Espírito Santo, na esquadra capitaneada por Afonso de Albuquerque. Após chegar a Cochim, Duarte Pacheco distinguiu-se numas correrias contra o samorim de Calecute. Ele superou-o por várias vezes, conquistando sete vitórias sucessivas. Por isso, o rajá (título real utilizado por monarcas indianos, equivalente a rei ou governante principesco no subcontinente indiano e no sudeste da Ásia) de Cochim nutriu grande admiração pelo bravo guerreiro português.
Desta forma, no momento de Afonso de Albuquerque regressar ao reino, o rajá pediu-lhe que deixasse Duarte Pacheco ficar por lá, de forma protegê-lo dos ataques do samorim que era seu inimigo.
Ora, como Afonso de Albuquerque consentiu, Duarte Pacheco ficou por ali um tempo, ficando como capitão de mar, a liderar cento e cinquenta homens. Afonso de Albuquerque deixou Duarte Pacheco ficar com uma nau, duas caravelas e a chalupa de outra nau tripulada por 100 homens, deixando-lhe ainda mais 50 homens numa tranqueira que levantara em Cochim. Após a realização de várias viagens, nomeadamente à Índia, exerceu o cargo de capitão de S. Jorge da Mina entre 1519 e 1522. Posteriormente, regressou a Lisboa.
A influência
Devido à sua lendária defesa de Cochim, em 1504, Camões prestou uma grande homenagem a Duarte Pacheco Pereira. Na sua obra Os Lusíadas, Duarte recebeu o epíteto de «Aquiles lusitano».
E canta como lá se embarcaria
Em Belém o remédio deste dano,
Sem saber o que em si ao mar traria,
O grão Pacheco, Aquiles Lusitano.
O peso sentirão, quando entraria,
O curvo lenho e o férvido Oceano,
Quando mais n’água os troncos que gemerem
Contra sua natureza se meterem. (…)
Luís de Camões, Os Lusíadas (Canto X)
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Homenagem merecida
O poeta Luís de Camões acabou por fazer a homenagem que Duarte Pacheco Pereira merecia pela importância que teve na história do nosso país. Ao identifica-lo como o “Aquiles lusitano”, comparou-o com um herói reconhecido internacionalmente.
Ora, o navegador merecia uma fama internacional que nunca teve, por isso esta acabou por ser a descrição mais justa que alguém lhe fez. Infelizmente, a história não o tratou tão bem, pois nunca lhe fez uma homenagem tão justa como a que foi feita pelo poeta.
A morte
Duarte Pacheco Pereira morreu em 1533, na capital portuguesa, com 73 anos. É depois da sua morte que a sua lenda é construída.
O historiador português, Joaquim Barradas de Carvalho, é considerado um dos seus biógrafos mais importantes. Ele defendeu que Duarte Pacheco foi um génio comparável a Leonardo da Vinci.
Muito interessante este artigo e totalmente desconhecido por todos.
Um artigo muito interessante face ao actual momento de reflexão histórica!