Recordaremos um Rei envolvido em polémica, focando alguns episódios surpreendentes. Terá sido D. Sebastião abusado? Há quem defenda que sim. Reis de Portugal: D. Sebastião “O Desejado” ou… o Abusado? São 34 os reis (4 dinastias) que fazem parte da História de Portugal, que conta com quase nove séculos. Houve reis mais emblemáticos, reis mais cruéis, reis mais polémicos. Se uns foram responsáveis por feitos marcantes, outros tiveram momentos menos gloriosos.
Existem pequenas preciosidades que revelam valores questionáveis. Há reis que cometeram traições e reis que foram traídos. Há traumas que foram desenvolvidos, nomeadamente após o Terramoto de Lisboa. Ser rei representava ser sempre o centro de todas as atenções, por isso a vida dos monarcas fascinava todos na época e continua a fascinar os historiadores e curiosos sobre a temática. Neste artigo, centraremos a nossa atenção em D. Sebastião.
D. Sebastião “O Desejado” ou… o Abusado?
O mito
O nascimento de D. Sebastião, “o Desejado” foi muito celebrado, pois o neto de D. João III veio ao mundo numa época em que se temia um problema de sucessão na coroa portuguesa. Desenvolveu-se, tornou-se religioso e um militar zeloso. Foi o décimo sexto rei de Portugal (1557-1578), num reinado bastante curto. Para ganhar prestígio militar, empenhou-se nessa área e preparou um exército para combater os Mouros.
Contudo, D. Sebastião desapareceu em plena batalha de Alcácer Quibir, no norte de África. Um acontecimento marcante que ajudou a que ele se tenha transformado num mito. O seu desaparecimento ou a sua morte em plena batalha levou a uma crise dinástica que colocou no trono português os reis de Espanha, pois não deixou descendência, fazendo com que a coroa portuguesa fosse entregue aos Filipes de Espanha. Os espanhóis assumiram o trono por sessenta anos.
O mito do “Sebastianismo” revela a esperança de que o Salvador regressasse um dia, numa manhã de nevoeiro. D. Sebastião regressaria para salvar o país de todos os seus problemas.
D. Sebastião (1554-1578) “O Desejado” ou… o Abusado?
É defendido por alguns historiadores que D. Sebastião terá sido violado por um padre jesuíta, ainda antes de celebrar os 10 anos de idade. Um padre pedófilo terá abusado D. Sebastião. A tese é de Harold Johnson, historiador da Universidade da Virgínia.
A tese de que D. Sebastião pode ter sido vítima de pedofilia está presente na investigação: “Um pedófilo no palácio ou o abuso sexual de El-Rei D. Sebastião de Portugal”. O resultado da investigação está presente no livro “Dois Estudos Polémicos”.
Contexto
O eventual problema de sucessão na coroa portuguesa tornou o nascimento de D. Sebastião um momento muito celebrado. O neto do Rei D. João III era uma criança que cresceu sem pais. Nunca conheceu o seu pai, o príncipe D. João, pois 18 dias antes de D. Sebastião nascer, o pai morreu. Enquanto a sua mãe, D. Joana de Áustria, teve de o deixar, tinha ele apenas 3 meses, tendo ido para Castela, a mando do irmão, Filipe II.
O seu tio-avô, cardeal D. Henrique, que era inquisidor-geral do reino, escolheu o padre jesuíta Luís Gonçalves da Câmara, como tutor do futuro Rei. Os cronistas descreveram este homem como “gago”, “feio” e “cego de um olho”.
O abusado
D. Sebastião terá sido abusado pelo seu tutor. Antes dos 10 anos, D. Sebastião contraiu gonorreia que é uma doença sexualmente transmissível, causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae. Esta bactéria infeta o revestimento da uretra, do reto e da garganta ou das membranas que cobrem a parte frontal do olho (conjuntiva e córnea).
As pessoas que sofrem desta doença têm frequentemente uma secreção a sair pelo pénis ou pela vagina e necessitam de urinar com mais frequência e urgência. D. Sebastião passou a expelir fluidos seminais regularmente.
O historiador Harold Johnson defende que o Monarca sofreu abusos sexuais do sacerdote, pois esta é uma doença só transmissível sexualmente. Uma das consequências possíveis da gonorreia é a cegueira, algo de que Luís Gonçalves da Câmara padecia.
O aviso
A Rainha D. Catarina de Áustria, a avó de D. Sebastião, foi avisada por meio de uma carta, enviada por um aio do Rei de que o padre jesuíta já conhecia a “natureza” do rapaz. Defendeu na carta que o Padre estaria a controlar a sua mente, uma escolha de palavras que não terá sido inocente, pois deixa subentendido que o Padre teria abusado do Rei.
Certo é que a Rainha Catarina, em 1566, afastou o jesuíta da corte, o que é mais um indício para quem sustenta a tese de que o padre terá abusado do neto do Rei. D. Sebastião acabou por desaparecer cedo, sem deixar descendência.
Na sua juventude, terá evitado contactos com mulheres. No livro “Reis que Amaram como Rainhas”, Fernando Bruquetas de Castro defende que houve vários encontros com homens e que estes foram relatados por cronistas da época.
A tese politicamente incorreta do investigador americano foi praticamente ignorada pelos biógrafos de D. Sebastião, em Portugal.
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