Há diversas histórias associadas a D. Pedro I. Uns defendem ter sido um rei extremamente cruel; outros gostam de referir que ele era vingativo. Eis alguns dados curiosos.
D. Pedro é um dos reis mais emblemáticos da história de Portugal que se encontra repleta de momentos memoráveis. Ao longo de quase 900 anos, Portugal teve mais de 3 dezenas de reis.
Muitos deles cometeram erros grosseiros. Outros foram autores de conquistas memoráveis. Outros, ainda, estão na origem de grandes descobertas para o país e para o mundo.
Embora haja muito para falar quando se trata de D. Pedro I, a verdade é que existem algumas referências que alertam para a sua crueldade…
D. Pedro I, o cruel, justiceiro e castrador
Contexto histórico
Como se sabe, a Dinastia Afonsina tem o seu início com D. Afonso Henriques, “O Conquistador”, que reinou entre 1143 e 1185. Entre o fundador do reino até D. Pedro I, sucederam-se diversos reis. Foram eles: D. Sancho I (“O Povoador”, que reinou entre 1185 e 1211), D. Afonso II (“O Gordo”, que reinou entre 1211 e 1223), D. Sancho II (“O Capelo”, que reinou entre 1223 e 1248), D. Afonso III (“O Bolonhês”, que reinou entre 1248 e 1279), D. Dinis (“O Lavrador”, que reinou entre 1279 e 1325) e D. Afonso IV (“O Bravo”, que reinou entre 1325 e 1357).
D. Pedro I
D. Pedro I, o “O Justiceiro”, filho de D. Afonso IV e de D. Beatriz de Molina e Castela, nasceu em Coimbra, no dia 08 de abril de 1320.
Ele teve a oportunidade de gozar de diversas uniões. Primeiro, uniu-se a D. Branca e, posteriormente, a D. Constança Manuel. Mas foi com D. Inês de Castro que D. Pedro viveu um amor trágico que se eternizou para a história.
D. Pedro I reinou entre 1357 e 1367, sem a mulher que tanto amou. O rei faleceu em Alcobaça, mais precisamente no dia 18 de janeiro. D. Fernando I, “O Formoso”, que era um dos seus filhos, assumiu o trono, tendo reinado entre 1367 e 1383, foi o último rei da Dinastia Afonsina.
Seguiu-se um período sem rei, momento que ficou conhecido como Interregno 1383-1385, sendo D. João I a começar a 2ª Dinastia (que ficou conhecida como Dinastia de Avis ou Joanina).
Relação com Inês
Inês era filha de Pedro Fernandez de Castro, um nobre galego. Ela chegou a Portugal em 1340, estando destinada a servir como dama de companhia de D. Constança Manuel que era mulher do infante D. Pedro.
Inês era uma mulher muito bela e isso foi algo que chamou a atenção de D. Pedro, que a seduziu. Inês tornou-se amante de D. Pedro. D. Constança convidou Inês para madrinha de D. Luís, seu segundo filho, visando acabar com a relação iniciada entre Inês e o seu marido, D. Pedro I.
Contudo, D. Luís morreu com menos de um mês. D. Constança faleceu em 1345, depois de dar à luz D. Fernando (que veio a tornar-se o último rei da Dinastia Afonsina).
O escândalo
D. Pedro ficou viúvo. Depois, assumiu o concubinato, algo que escandalizou a corte. A manifestação da sua paixão por Inês foi muito mal recebida num país que se encontrava assolado pela Peste Negra, pois era visto como uma manifestação de desinteresse para com os assuntos do governo.
Apesar da união entre o futuro rei e a fidalga galega estar a ser condenado pela corte, temendo-se consequências políticas, a relação durou. Inês teve quatro filhos de D. Pedro, um deles morreu e três sobreviveram, entre eles dois varões (D. João e D. Dinis).
O rei impõe a sua lei
D. Afonso IV, seu pai, nunca apoiou a relação do seu filho com Inês, chegando até a recear que tal relação colocasse em perigo os direitos do seu neto, esse sim, seu legítimo herdeiro.
D. Fernando, filho de D. Pedro, poderia ficar em perigo devido à influência exercida pelos irmãos de Inês. Por isso, para o Rei, a relação representava uma séria ameaça para Portugal.
Depois de ouvir os conselhos de três homens da sua confiança, ele mandou matar Inês, que vivia com o seu filho. Os 3 conselheiros do Rei eram Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e um inimigo dos Castros, de seu nome Diogo Lopes Pacheco.
D. Afonso IV, pai de D. Pedro I, mandou matar Inês de Castro. O momento aconteceu no dia 7 de janeiro de 1355. Inês foi degolada em Coimbra, enquanto D. Pedro andava à caça.
Acontecimento
D. Pedro I, quando a viu morta, originou uma guerra civil. O reino vivia um cenário de guerra. De fevereiro de 1355 a agosto de 1356 viveram-se dias negros. D. Pedro expressou a sua fúria até ao momento em que o seu pai, D. Afonso IV, morreu, nesse mesmo ano.
Assim, D. Pedro I herdou o seu trono. Herdeiro do trono atacava províncias inteiras, visando a conquista de castelos. Depois, revelava a sua fúria e arrasava terras de cultivo.
Sede de vingança
D. Pedro I vivia obcecado pela vingança. Queria apanhar os homens responsáveis pela morte de Inês. Por isso, fez um acordo de extradição com Pedro I, “o Cru”, rei de Castela (que era seu primo), tendo recebido Álvaro Gonçalves e Pêro Coelho, em troca de dois nobres castelhanos que se encontravam exilados em Portugal.
Os portugueses que se encontravam refugiados no reino de Castela tiveram assim a sua punição, tendo sido levados para Santarém. Os dois assassinos tiveram um final cruel, de acordo com o que foi relatado por Fernão Lopes.
D. Pedro “a Pêro Coelho mandou arrancar o coração pelo peito e a Álvaro Gonçalves pelas espáduas. E tudo o que se passou seria coisa dolorosa de ouvir. Finalmente el-rei mandou-os queimar. E tudo foi feito diante dos paços onde ele estava, de maneira que, enquanto comia, olhava o que tinha mandado fazer”. Diogo Lopes Pacheco, o terceiro assassino, conseguiu fugir para França, tendo-se salvo destas dores agonizantes.
Inês, a Rainha
D. Pedro surpreendeu a corte em julho de 1360, pois afirmou que em 1354 tinha casado secretamente com Inês de Castro. O rei mandou trasladar os restos mortais pouco depois dessa data, tendo o corpo de Inês sido destinado ao Mosteiro de Alcobaça.
A relação escondida
As suas relações com D. Constança Manuel, Inês de Castro e Teresa foram do conhecimento de todos. Mas o que poucos sabiam, é que o Rei terá tido uma paixão proibida com o escudeiro Afonso Madeira.
Esta paixão por um homem seguramente que, na época, não seria vista com a mesma tolerância que hoje se impõe. Fernão Lopes defendeu que o Rei “amava (o escudeiro) mais do que se deve aqui dizer”. Afonso cometeu o erro de se envolver com uma dama da corte e o rei revelou outra vez a sua crueldade.
Fernão Lopes descreveu que o Rei mandou “cortar-lhe (a Afonso) aqueles membros pelos quais os homens mais apreço têm”. Do mal o menos: terá pensado Afonso Madeira que se curou “mas engrossou nas pernas e no corpo e viveu alguns anos com o rosto engelhado e sem barba”.