O rei tem tudo o que quer, mesmo que queira o que não deve, como D. Manuel I que quis mulheres “proibidas”.
Ao longo da nossa história com quase 9 séculos, muitos foram os reis portugueses a demonstrar grande poderio. Uns centraram a sua determinação para a realização de grandes conquistas, conquistando outros reinos. Outros reis preferiram outros desafios…
D. Manuel I conseguiu várias conquistas em diferentes campos de atuação. O monarca foi relevante na Era dos Descobrimentos e dominou na perfeição a diplomacia, através do casamento.
Esta foi uma arte em que o monarca se mostrou imbatível. Ele desposou duas irmãs e até a noiva do filho. O rei tem tudo o que quer, mesmo que queira o que não deve, como D. Manuel I que quis mulheres “proibidas”.
D. Manuel I: o rei que desposou duas irmãs e até a noiva do filho
D. Manuel I
Este é um dos reis da 2ª Dinastia (que ficou conhecida por Dinastia de Avis ou por Dinastia Joanina). D. Manuel I nasceu no dia 31 de maio de 1469, em Alcochete. D. Manuel teve como pais, D. Fernando e D. Beatriz.
“O Venturoso” (como D. Manuel I ficou conhecido) reinou entre 1495 e 1521. O monarca teve uma união com D. Isabel. Posteriormente, D. Manuel I uniu-se a D. Maria de Castela; e, finalmente, houve uma união com D. Leonor.
D. Manuel faleceu no dia 13 de dezembro de 1521, em Belém. D. João III (conhecido como “O Piedoso”) foi o rei que lhe sucedeu. D. João III era filho de D. Manuel I e de D. Maria de Castela.
Reinado
Ao longo do seu reinado, D. Manuel I demonstrou ser um dos reis portugueses mais extraordinários. Ele tornou-se numa das figuras centrais da gesta dos Descobrimentos portugueses.
A sua personalidade era incomum. Era um líder com grandes capacidades. Ele foi um diplomata nato. D. Manuel I liderou os destinos do Reino de Portugal, ajudando a tornar o reino naquilo que os especialistas consideram ter sido o primeiro império global.
Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para a Índia durante o seu reinado. Também foi sob a sua responsabilidade que Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil primeira vez. Durante o reinado de Manuel I, Portugal dominou as Molucas, as ilhas das ambicionadas especiarias.
Por tudo isto, D. Manuel I ficou para a história como um dos homens portugueses mais importantes, tendo um papel determinante na expansão do império. O monarca contribuiu para que Portugal vivesse um período de grande prosperidade económica.
D. Manuel I foi o rei de Portugal que na época era um dos impérios mais poderosos do mundo! O monarca investiu muita da riqueza que alcançou, realizando diversas obras, muitas delas notáveis. Muitas destas obras apresentam um estilo arquitetónico que ficou conhecido pelo seu nome, o estilo Manuelino.
O monarca era um homem profundamente religioso. Este rei aproveitou o fluxo de riquezas que na época aportavam a Portugal para construir vários templos. Foram diversas igrejas e muitos conventos.
O Mosteiro dos Jerónimos é seguramente uma das obras mais marcantes. No entanto, esta obra foi um projeto que se estendeu no tempo. A sua construção apenas ficaria concluído um século mais tarde.
Casamentos
D. Manuel I demonstrou uma personalidade incomum. Este monarca revelou-se um rei que alcançou grandes feitos que levaram à prosperidade de Portugal. No entanto, também foi uma pessoa de muitos amores.
O seu histórico amoroso revela relacionamentos que, embora profundos, tiveram outras curiosidades. Destes relacionamentos saiu uma vasta prole. Nas relações do Monarca, há pontos de ligação que se revelam algo insólitos. No entanto, no século XVI, não era algo tão surpreendente…
União com Isabel
D. Manuel I sabia que tinha de casar e assegurar descendência que permitisse deixar Portugal seguro, fora das garras de Castela, sempre à espreita de uma oportunidade. No entanto, a capacidade diplomática de D. Manuel I era apurada.
O Monarca português, astuto, encontrou a sua noiva, mesmo aqui ao lado, escolhendo Isabel de Aragão, a herdeira do trono castelhano.
Inicialmente, Isabel de Aragão foi avessa ao enlace. Depois, exigiu no contrato de casamento a expulsão de todos os infiéis (mouros e judeus) do Reino de Portugal. Esse contrato foi assinado a 30 de novembro de 1496.
Apesar de reticente, o rei português acabou por concordar com essa imposição, não sem antes arrastar os pés, de forma a permitir a conversão desses infiéis ao cristianismo. Naturalmente, esta foi uma página negra da história do nosso país. A conversão forçada imposta por Manuel I resultou numa tragédia e milhares de judeus correram a fugir do país.
Isabel de Aragão estava reticente com este casamento, devido ao facto de já ter sido casada com D. Afonso, filho de D. João II e herdeiro do trono de Portugal. No entanto, ele foi morto em circunstâncias que ficaram por ser devidamente esclarecidas.
Na Idade Média, os casamentos eram complicados. Muitas tramas diplomáticas eram desenvolvidas. Isabel de Aragão acabou por voltar a casar, desta feita com D. Manuel I.
O monarca nutria grande paixão por Isabel. No entanto, o matrimónio foi de curta duração. Isabel foi rainha por pouco tempo, tendo morrido a dar a luz Miguel da Paz, o seu primeiro filho.
Este infante também não teve grande sorte e acabaria por morrer pouco tempo depois, com a tenra idade de 23 meses. Miguel da Paz era o legítimo herdeiro dos tronos de Portugal, Castela, Leão, Sicília e Aragão. Desta forma, poderia ter havido uma união ibérica e mais além.
União com Maria de Aragão
A morte de Isabel foi um forte abalo para D. Manuel I. O monarca ficou ainda mais abatido com a morte do filho de ambos, Miguel da Paz, porque essas duas fatalidades deixavam Portugal fragilizado. Era preciso voltar a casar para se assegurar um herdeiro legítimo ao trono.
Por isso, D. Manuel teve de escolher uma noiva. A escolha foi surpreendente. O monarca acabou por escolher Maria de Aragão, que era irmã de Isabel, a esposa que tinha falecido recentemente.
Maria de Aragão foi Rainha de Portugal entre 1500 e 1517. Ao longo da sua vida, a rainha deu dez filhos a D. Manuel I. Entre estes filhos encontrava-se o futuro rei do reino, D. João III.
Este relacionamento representou o início de uma ligação profunda entre os dois reinos. No entanto, acabaria por resultar na crise de 1580. A dinastia filipina (Filipe I, Filipe II, Filipe III) surgiu após a morte de D. Sebastião, pouco tempo depois deste rei morrer sem deixar herdeiros.
Os castelhanos apoderaram-se do trono português ao longo de sessenta anos, só abandonando Portugal com a revolução de 1 de dezembro de 1640.
Os diversos partos de Maria resultaram num corpo fragilizado. Maria de Aragão acabaria por falecer no dia 7 de março de 1517. A rainha tinha apenas 34 anos. D. Manuel I ficou mortificado com o desaparecimento da sua segunda esposa.
Maria seria para D. Manuel I o seu grande amor. O casal acabou por ficar sepultado no Mosteiro dos Jerónimos.
União com Leonor da Áustria
No ano seguinte ao falecimento de Maria de Aragão, D. Manuel I acabaria por contrair matrimónio pela terceira vez. E, novamente, D. Manuel fê-lo com polémica. A sua escolha foi novamente controversa.
D. Manuel I tinha a obsessão por tornar-se senhor de toda a Península Ibérica. Essas ambições obrigavam-no a tecer uma trama diplomática complexa. O rei português usava os seus casamentos estrategicamente.
D. Manuel encontrava-se viúvo mais uma vez. Por isso, sentiu que podia usar esse contexto, escolhendo casar com Leonor da Áustria. Contudo, a sua escolha foi surpreendente, uma vez que Leonor representava um ligeiro problema… Ela já era noiva e estava prometida ao seu filho.
O príncipe herdeiro português era a pessoa com quem Leonor da Áustria estava destinada a casar. No entanto, o rei tem tudo o que quer, mesmo que queira o que não deve, como D. Manuel I que quis mulheres “proibidas”. O filho de D. Manuel I é que ficou a perder.
O monarca detinha o poder real, que era absoluto, por isso, D. Manuel I acabou mesmo por casar com quem quis. O rei português casou com Leonor da Áustria que iria ser sua nora…
O desenlace
O casamento entre o monarca e Leonor aconteceu em 1518. D. Manuel I e Leonor tiveram dois filhos, Carlos e Maria de Portugal. A filha de ambos foi uma das mulheres da realeza europeia do século XVI mais fascinantes.
Foi no dia 13 de dezembro de 1521 que D. Manuel I faleceu. Ele tinha 52 anos. O monarca deixou um vasto império. O reinado de D. Manuel I foi um dos mais marcantes da história portuguesa.
O filho, que estava destinado a ser rei, nunca perdoou o pai por essa opção. D. João III veio a suceder ao seu pai. Ele casou com D. Catarina de Áustria e reinou entre 1521-1557.