Quando morreu, a rainha era uma das pessoas mais ricas de todo o país. D. Leonor de Avis foi a fundadora das Misericórdias para ajudar os mais pobres.
A rainha D. Leonor foi uma figura que ficou para a história pelo seu percurso de vida singular. Viveu tempo suficiente para conhecer 4 reis, a saber D. Afonso V, seu tio; D. João II, o seu marido; D. Manuel I, o seu irmão; e D. João III, o seu sobrinho.
Ficou para sempre conhecida pela sua ligação à maior rede de assistência social, as misericórdias, tendo sido responsável pela criação da primeira, em 1498, a Misericórdia de Lisboa.
Porém, há quem diga que o seu lado caridoso não era para todos, já que se consta que não tenha acompanhado o marido quando este faleceu aos 40 anos, supostamente envenenado. Saiba mais sobre esta figura da história de Portugal.
D. Leonor de Avis fundou a maior rede de assistência social: as Misericórdias
D. Leonor era oriunda da mais alta nobreza portuguesa. Nasceu filha do infante D. Fernando e de D. Brites, sendo por isso neta, pelo lado do pai, do rei D. Duarte, e neta, pelo lado da mãe, do primeiro duque de Bragança, D. Afonso. Faleceu em 1525, com 67 anos de idade, no palácio de Xabregas. Está sepultada no Convento da Madre de Deus, em Lisboa.
A sua fortuna começou a ser construída desde cedo. Com 12 anos contraiu matrimónio com o seu primo e príncipe herdeiro, D. João, embora o enlace só tenha sido oficializado quando ela completou os 15 anos.
Por essa ocasião, em setembro de 1473, o irmão D. Diogo oferece-lhe o dote, nada mais, nada menos, do que a vila e fortaleza de Lagos, a qual valia 10 mil cruzados de ouro. Além disso, por essa altura, recebeu ainda da mãe joias e o enxoval (nesta época, o seu pai já havia falecido).
Do sogro e tio, D. Afonso V, recebeu ainda rendas em Lisboa, Sintra, Torres Vedras e Óbidos. Como princesa, ficou com a vila de Sintra. Alguns anos depois, já em 1481, é o próprio marido, D. João II, que lhe oferta terras como Aldeia Galega, Aldeia Gavinha, Alenquer, Alvaiázere, Óbidos, Torres Novas e Torres Vedras.
Conspirações e mortes
O ano de 1484 foi marcante para a história do país, mas também de D. Leonor. Nesse ano, D. João II põe fim a uma conspiração da nobreza, matando com as próprias mãos o cunhado (irmão de D. Leonor), D. Diogo, Duque de Viseu. Isto, depois de no ano anterior ter ordenado o assassinato do Duque de Bragança (seu primo e primo de D. Leonor) por traição.
D. Leonor sofreu muito com a perda do seu irmão e com o receio de que o rei pudesse também tirar a vida a outro seu irmão, D. Manuel, Duque de Beja. Para tentar evitar a morte, D. Manuel oferecia anualmente à rainha 100 arráteis de açúcar da Madeira.
A morte do filho
D. Leonor perdeu um filho à nascença.
Contudo, tal não aconteceu com o seu filho D. Afonso. No entanto, quis o destino que uma queda de cavalo ditasse a morte de D. Afonso, em julho de 1491.
D. Afonso casara, em 1490, com uma filha dos reis D. Fernando de Aragão e D. Isabel de Castela, matrimónio de grande importância para Portugal, já que constituía uma boa oportunidade para um rei português governar toda a Península Ibérica.
Todavia, tal não aconteceu e, à dor imensa já sentida por D. Leonor, seguiu-se o rebaixamento de D. João II querer legitimar um filho bastardo, neste caso D. Jorge.
D. Leonor não o permitiu, ficando assim o seu irmão D. Manuel como o primeiro na linha de sucessão ao trono de Portugal.
A doença de D. João II
Com todos estes acontecimentos, o matrimónio de D. João II com D. Leonor ficou abalado.
Assim, mesmo quando o rei ficou doente e foi aconselhado a partir para o Algarve, D. Leonor não foi com ele. Em outubro de 1495, em Alvor, D. João II vivia os seus últimos dias. Porém, mesmo tendo sido informada de tal, D. Leonor negou ir ter com o marido para o ver uma última vez.
Assim, D. Leonor ficou viúva com 37 anos, tendo o seu irmão, D. Manuel I, subido ao trono, muito graças ao apoio que a irmã lhe prestou toda a vida. Como sinal de gratidão, D. Manuel I ofertou a D. Leonor novas terras e ordenou-a rainha, durante a sua ida a Castela, em 1498.
A fundação da primeira Misericórdia
Em 1498, enquanto D. Manuel I se encontrava em Castela, a rainha D. Leonor reuniu o apoio do frei Miguel Contreiras e de D. Jorge da Costa, o cardeal Alpedrinha, para fundar a primeira Misericórdia portuguesa.
Posteriormente, outras foram fundadas no país, sempre assentes nos “compromissos” e nas “14 obras de Misericórdia”, que consideravam aspetos espirituais e corporais.
Atualidade
Atualmente, as Misericórdias mantêm a missão de outros tempos, continuando a respeitar os princípios enunciados nas “14 obras de Misericórdia”, os quais são:
Obras corporais
- Dar de comer a quem tem fome
- Dar de beber a quem tem sede
- Vestir os nus
- Acolher os peregrinos
- Visitar os doentes
- Visitar os presos
- Sepultar os mortos
Obras espirituais
- Dar bons conselhos
- Ensinar os ignorantes
- Corrigir os que erram
- Consolar os que estão tristes
- Perdoar as injúrias
- Suportar com paciência as fraquezas do próximo
- Rogar a Deus pelos vivos e pelos defuntos
Hoje em dia, existem 387 Misericórdias ativas no nosso país que, diariamente, apoiam aproximadamente 165 mil pessoas. A ajuda prestada tem, sobretudo, a ver com apoio social e prestação de cuidados de saúde.
Em termos patrimoniais, as misericórdias portuguesas possuem mais de 1000 imóveis de interesse arquitetónico e 82 museus e núcleos museológicos.
Isto significa que, mais de 500 anos depois, o legado da rainha D. Leonor permanece vivo e de boa saúde, constituindo um pilar social fundamental que continua a prestar auxílio àqueles que mais precisam.
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