D. Dinis, um dos monarcas mais emblemáticos da história de Portugal, governou o país durante 46 anos, consolidando-se como um rei culto, estratega e visionário. Conhecido como o “Rei Poeta” pela sua vasta obra literária em galaico-português e como o “Rei Lavrador” devido à sua forte aposta na agricultura e no desenvolvimento rural, D. Dinis desempenhou um papel crucial na formação e estabilização do reino português.
Infância e ascensão ao trono
Nascido a 9 de outubro de 1261, Dia de São Dinis, em Lisboa, D. Dinis era filho de D. Afonso III e D. Beatriz de Castela. Inicialmente, estava previsto que se chamasse Sancho, mas devido a um conflito entre o seu pai e o tio-avô Sancho IV de Castela, a escolha do nome foi alterada.
Pouco se sabe sobre a sua infância, mas há registos de que, aos 10 anos, passou algum tempo na corte do seu avô materno, Afonso X de Castela, onde terá desenvolvido a sua paixão pela poesia e pela cultura.
Aos 17 anos, em 1279, D. Dinis subiu ao trono, herdando um país politicamente instável e com relações tensas com a Igreja.
Uma das suas primeiras decisões foi negociar com a Santa Sé para restaurar a paz em Portugal, uma vez que o seu pai, D. Afonso III, havia sido excomungado devido a disputas sobre bens e privilégios da Igreja. Esse restabelecimento das relações foi essencial para a estabilidade do reino.
Casamento com Isabel de Aragão
D. Dinis viu no casamento uma estratégia política e escolheu Isabel de Aragão como sua esposa. O matrimónio foi celebrado por procuração em Barcelona em 1282, quando Isabel tinha apenas 10 anos. A cerimónia oficial em Portugal realizou-se em Trancoso, e o casal estabeleceu residência em Coimbra.
Deste casamento nasceram dois filhos legítimos: D. Constança e D. Afonso, futuro rei D. Afonso IV. No entanto, D. Dinis teve vários filhos fora do casamento, que acabaram por ser educados e protegidos pela própria rainha Isabel, hoje conhecida como a Rainha Santa.
Reformas e desenvolvimento do reino
O reinado de D. Dinis ficou marcado por diversas reformas e avanços estratégicos. O monarca investiu fortemente na organização e desenvolvimento do território, promovendo a agricultura e implementando políticas que favoreciam os camponeses.
- Aposta na agricultura: Concedeu terrenos a quem não possuía propriedades e incentivou a exploração agrícola em larga escala. No Entre Douro e Minho, distribuiu terras em casais agrícolas, o que deu origem a várias povoações. Em Trás-os-Montes, adotou um regime coletivista, onde as terras eram administradas por grupos que partilhavam recursos e infraestruturas comunitárias, como fornos de pão e moinhos.
- Pinhal de Leiria: Embora frequentemente associado à criação do Pinhal de Leiria, os registos indicam que D. Dinis terá expandido e protegido esta floresta com o objetivo de fornecer madeira para a construção naval e a defesa costeira.
- Comércio e economia: O rei fomentou o comércio interno e externo, estabelecendo feiras e regulamentando as trocas comerciais. Também reforçou a atividade piscatória e incentivou a construção naval.
A primeira Universidade Portuguesa e a oficialização da Língua Portuguesa
Um dos feitos mais notáveis de D. Dinis foi a fundação da primeira universidade portuguesa em 1290, inicialmente sediada em Lisboa e posteriormente transferida para Coimbra. Esta instituição tornou-se um centro de conhecimento e excelência, formando gerações de intelectuais e administradores.
Outro marco significativo do seu reinado foi a oficialização da língua portuguesa. Em 1297, D. Dinis determinou que a “língua vulgar” – o galaico-português – passasse a ser utilizada nos documentos oficiais e na corte, em substituição do latim. Este ato reforçou a identidade nacional e contribuiu para a unificação cultural do reino.
O Tratado de Alcanizes e a estabilização das fronteiras
No plano diplomático, D. Dinis teve um papel essencial na definição das fronteiras de Portugal. Em 1297, assinou o Tratado de Alcanizes com Fernando IV de Castela, um acordo que estabeleceu definitivamente as fronteiras entre os dois reinos, garantindo a posse de terras como Olivença e Riba-Côa para Portugal. Este tratado consolidou a integridade territorial do país, evitando conflitos prolongados com Castela.
Conflitos familiares e últimos anos
Apesar do seu sucesso como governante, os últimos anos do reinado de D. Dinis foram marcados por conflitos familiares. Entre 1319 e 1324, enfrentou uma guerra civil contra o seu próprio filho e herdeiro, D. Afonso, que contestava a influência dos irmãos bastardos do rei e a sua sucessão. O conflito foi resolvido antes da morte do monarca, mas a relação entre pai e filho nunca mais foi a mesma.
A relação com a Rainha Santa Isabel também sofreu após a guerra civil. Isabel afastou-se da corte e dedicou-se a obras de caridade e religiosidade, vindo mais tarde a ser canonizada pela Igreja Católica.
Morte e legado
D. Dinis faleceu a 7 de janeiro de 1325, em Santarém, com 63 anos – uma idade avançada para a época. Foi sepultado no Mosteiro de Odivelas, um local que ele próprio mandou construir. Análises modernas ao seu túmulo revelaram que o rei tinha uma constituição física robusta, possuía cabelo e barba ruivos e morreu com todos os dentes intactos, sinal de uma saúde notável para a sua época.
O legado de D. Dinis permanece até hoje como um dos mais importantes da história portuguesa, refere a VortexMag. A sua visão estratégica, o seu compromisso com a cultura e a língua, bem como o seu empenho na economia e na diplomacia, fizeram dele um dos monarcas mais respeitados da sua era. A sua influência perdura na identidade nacional, na língua que falamos e na organização do território português, tornando-o um verdadeiro pilar da história de Portugal.