Conheça melhor a história de D. Catarina de Bragança, uma mulher que sabia que o seu marido lhe era infiel, mas que teve diversos méritos que merecem destaque!…
Por vezes, diz-se que a vida é curta, pois há tanto para fazer e tão pouco tempo para realizar os nossos desejos. Um país tem uma longevidade distinta. Portugal conta com quase 900 anos de história, desde que D. Afonso Henriques fundou o nosso reino.
De lá para cá, houve diversos reis. Seguiram-se depois os Primeiros-Ministros e os Presidentes, como homens que lideraram a nação. É no tempo dos reis que sucedeu uma série de peripécias que interessa recordar. Por exemplo, a vida de uma princesa que dava um autêntico filme de Hollywood…
D. Catarina de Bragança: de estéril ao marido infiel
O casamento
A princesa D. Catarina de Bragança (1638-1705) foi filha do rei português D. João IV. O seu casamento com o rei Carlos II de Inglaterra revelou-se uma preciosa vitória para a diplomacia nacional na Guerra da Restauração contra a Espanha.
O casamento ocorreu no dia 30 de maio. A cerimónia ajudou ao reconhecimento da independência (reconquistada em 1640), pelas potências europeias. A cerimónia foi realizada no Reino Unido, mais precisamente em Portsmouth.
O Alentejo foi beneficiado com a chegada de 2700 soldados, uma regalia que foi um prémio pelo enlace. Este grupo de homens ingleses, bem preparados, visava guarnecer a região portuguesa, pois era o espaço onde a guerra se encontrava mais acesa.
A realidade
A cerimónia encantou, mas o relacionamento não foi o mais feliz. A princesa saiu de Lisboa com grande pompa. Tinha apenas 23 anos quando partiu a bordo do navio Royal Charles.
Provavelmente tinha outra expectativa quando subiu a bordo do navio comandado pelo conde de Sandwich, momento histórico em que foi escoltada por uma frota de 20 barcos de guerra. No entanto, ela desconhecia que estava destinada a um casamento infeliz e que iria durar 23 anos.
Inglaterra
Era dia 25 de maio quando chegou a Inglaterra, momento em que ocorreu um percalço.
No percurso, D. Catarina ficou debilitada, depois de contrair uma infeção na garganta e, para piorar o seu estado de espírito, quando chegou, o noivo não se encontrava no local para a receber.
Assim, atrasou-se a cerimónia por um tempo excessivo, quase uma semana, momento em que ocorreu a sua entrada solene em Londres.
A dura realidade
O rei Carlos II sempre teve muitas amantes e, pouco tempo depois do casamento, voltou a exibir Barbara Villiers (conhecida por Lady Palmer) em público. A sua principal amante tornou-se, mais tarde, na duquesa de Cleveland, tendo sido mãe de cinco dos 12 filhos bastardos do rei D. Carlos.
D. Catarina aceitou-a como dama de companhia, depois de ter sido persuadida pelos seus conselheiros. Assim, facilmente se percebe que foram muitas as humilhações sentidas ao longo dos anos seguintes.
Louise de Keroualle, uma mulher francesa que era duquesa de Portsmouth, revelou-se uma influência nociva, pois tratava-se de outra concubina real. O Rei Carlos II procurava estas duas mulheres (Barbara Villiers e Louise de Keroulle), mas não deixava de procurar consolo noutras, quando se sentia mais entediado.
Amantes do rei Carlos II
Barbara Villiers e Louise de Keroulle foram amantes do Rei D. Carlos, mas existiram outras mulheres na vida do monarca, nomeadamente Catherine Pegge e Eliizabeth Killigrew. Outras mulheres que entraram na longa lista de amantes reais foram Moll Davies e Nell Gwyn, ambas atrizes.
D. Catarina sabia da infidelidade do rei e aceitava o seu comportamento com elevadas doses de paciência. Enquanto não tinha filhos legítimos, o Rei não parava de somar filhos bastardos. Assim, a rainha vivia ainda com o drama da infertilidade, sendo a ausência de filhos mais uma arma usada contra si.
O casamento
A relação não era boa. Havia amantes e ausência de filhos, o que tornava a relação num barril de pólvora. O casamento com a rainha, que era católica, não era bem visto pelos políticos protestantes. Por isso, o mesmo só foi consumado devido à generosidade do seu dote.
Pelo casamento realizado com D. Catarina, Inglaterra recebeu 2 milhões de cruzados em dinheiro. Além disso, também recebeu outros presentes bem valiosos, nomeadamente a praça-forte de Tânger (que se encontra em Marrocos), mas também a cidade e feitoria de Bombaim, que se encontra na Índia.
D. Catarina e o Rei D. Carlos
A rainha não tinha uma vida fácil. A ausência de filhos gerava pressões e as traições eram encaradas pela rainha apenas como um mal menor. É que, além de diversas pressões, havia ainda as diversas acusações de que foi alvo.
No entanto, apesar das diferenças, a verdade é que D. Carlos II sempre protegeu a mulher das intrigas políticas. Aliás, apesar dos autores ingleses terem retratado a rainha de forma deplorável, como sendo feia, baixinha, roliça, além de revelar dentes salientes, esse retrato seria feito pelo preconceito e pela pouca simpatia que D. Catarina gerava.
O rei até elogiava a beleza dos olhos de Catarina e a rainha foi responsável pela introdução do chá na corte britânica, na alteração da baixela, devendo-se-lhe a substituição dos pratos de metal pela loiça de porcelana.
O fim da aventura
No ano de 1685, D. Carlos II declarou a sua conversão ao catolicismo, quando se encontrava no leito de morte, algo que terá acontecido por influência da mulher. Como não tinha tido filhos com a rainha, sucedeu-lhe Jaime II, que era seu irmão e que era católico.
Os ingleses consideraram uma afronta, havendo uma preferência por Guilherme de Orange, um holandês protestante. D. Catarina encontrava-se sempre sob suspeita, pois os olhos intolerantes dos protestantes fizeram com que ela vivesse em sobressalto durante o reinado do cunhado, o qual culminou em 1689 com a “Gloriosa Revolução“.
Só em 1692 é que D. Catarina teve autorização para regressar a Portugal, 30 anos depois de ter partido. D. Catarina recolheu-se no palácio da Bemposta, em Lisboa. Apesar da influência não ser a mesma, ainda teve a oportunidade de desempenhar um papel político importante, nomeadamente quando apoiou a assinatura do Tratado de Methuen, em 1703. Além disso, na ausência do irmão D. Pedro II, ainda assumiu a regência do reino, primeiro em 1704 e depois em 1705. D. Catarina morreu com 67 anos, no dia 31 de dezembro de 1705.