A expressão “tirar os três vinténs” continua a ser conhecida nos dias de hoje, mas poucos sabem a verdadeira história por trás desta curiosa frase popular. A sua origem remonta a uma antiga tradição em que uma pequena moeda de prata, chamada “amuleto dos três vinténs”, era oferecida às raparigas desde tenra idade e usada ao pescoço até ao dia do casamento. Na noite de núpcias, essa moeda era entregue ao marido, simbolizando a transição para a vida de mulher casada.
Os três vinténs foram cunhados pela primeira vez durante o reinado de D. Pedro II e continuaram a ser produzidos até ao reinado de D. Miguel, que capitulou em 1835 com a convenção de Évora-Monte. Com o passar do tempo, a moeda desapareceu gradualmente da circulação, mas a expressão e o seu simbolismo permaneceram enraizados na cultura popular.
O significado cultural e a tradição
A tradição dizia que as mães ofereciam às filhas uma moeda de três vinténs logo ao nascerem, furando-a para que pudesse ser usada ao pescoço. Este amuleto não era apenas um ornamento, mas um símbolo de pureza e proteção da virgindade até ao casamento.
Apenas na noite de núpcias a jovem retirava a moeda, entregando-a ao marido. Assim, quando alguém procurava no pescoço de uma mulher e não encontrava a moeda, sabia que ela “já tinha perdido os três vinténs”, ou seja, já era casada.
Este costume estava tão enraizado que os rapazes mais atrevidos tentavam perceber se a jovem ainda “tinha os três vinténs” antes de se declararem. Durante séculos, a virgindade feminina foi considerada essencial para a honra da família e para um casamento digno, o que fez com que esta expressão permanecesse em uso durante gerações.
Outra possível origem da expressão
Embora a tradição da moeda seja amplamente reconhecida, há quem defenda que a origem da expressão “tirar os três vinténs” pode estar ligada a um antigo costume administrativo dos casamentos. Durante séculos, muitos matrimónios eram arranjados entre famílias e, para garantir que a noiva era “séria e honrada”, era exigida uma certidão de virgindade, emitida por uma parteira ou autoridade local.
Para realizar este atestado, a parteira utilizava uma moeda de três vinténs. Colocava-a sobre o hímen da jovem e, se a moeda caísse para dentro, significava que a virgindade não estava intacta, levando a rapariga a reprovar no teste. Caso contrário, era emitido o chamado “Atestado de Virgindade”, que poderia ser apresentado ao futuro marido e à família.
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Relatos anedóticos de atestados de virgindade
Com o tempo, muitos destes atestados tornaram-se documentos históricos, alguns dos quais chegaram aos nossos dias e revelam expressões curiosas e pitorescas da época. No Arquivo Distrital de Viseu, por exemplo, encontra-se um documento atribuído a uma parteira chamada Bárbara Emília, que certificava a honra de uma jovem com uma descrição singular:
“Eu, Bárbara Emília, parteira que sou de Coira, atesto e certufico pula minha onra, que Maria de Jesus tem as partes fudengas tal e qual como nasceu, insceto umas pequenas noidas negras junto dos montes da crica, que a não serem de nascença, serão porvenientes de marradas de pissa.”
Outro exemplo é um documento registado em Almada, assinado por Maria da Conceição, parteira diplomada, que certificava:
“Eu Maria da Conceição Parteira Diplomada No Concelho De Almada, Declaro Por Minha Onrra Ao Serviço Do Meu Trabalho Que Maria Das Dores Está Séria e Onrrada Têm uns Defeitos Na Coisa Mas Iso Não Quer Dizer Nada São Defeitos Feitos Pelo Trabalho.”
Estes documentos, além de revelarem o rigor e a superstição da época, mostram também o carácter quase anedótico de algumas práticas que hoje parecem impensáveis.
Conclusão
Embora não se saiba com certeza qual das versões deu origem à expressão “tirar os três vinténs”, o que é certo é que tanto a tradição da moeda como os atestados de virgindade foram práticas reais e enraizadas na sociedade portuguesa durante séculos, explica a VortexMag. Estes costumes refletem um passado onde a honra e a virgindade feminina eram profundamente valorizadas, chegando mesmo a ser certificadas oficialmente. Hoje, a expressão mantém-se como uma curiosidade linguística, recordando tempos que, felizmente, ficaram para trás.