Se o seu coração pulsa por história, aventura e pela magia de tempos antigos, então prepare-se para uma experiência que o transportará para um passado longínquo e vibrante. A Citânia de Briteiros, um majestoso povoado fortificado da Idade do Ferro, ergue-se orgulhosamente no cimo do monte de São Romão, em Guimarães, como um testemunho vivo da alma celta que outrora floresceu nestas terras. Este é um dos mais impressionantes legados da cultura celta em Portugal, um lugar onde o eco dos galaicos ainda sussurra entre as pedras, evocando um tempo de bravura, espiritualidade e conexão profunda com a natureza.

Os Celtas: guerreiros, artistas e guardiões da natureza
Os celtas, um povo que marcou a história da Europa e da Ásia Menor entre o final do segundo milénio a.C. e o início do primeiro milénio d.C., eram muito mais do que guerreiros destemidos. Eram uma tapeçaria de povos unidos por uma língua comum, mas tecida com uma diversidade rica em tradições, organização social e crenças espirituais. A sua arte, marcada por formas intricadas e simbólicas, refletia uma sensibilidade única, enquanto a sua espiritualidade, profundamente enraizada na natureza, celebrava os ciclos da vida, os rios, as florestas e as montanhas.
Em Portugal, os celtas fixaram-se sobretudo no norte e noroeste, dando origem à região da Gallaecia, que se estendia até à atual Galiza. Aqui, os galaicos, ou calaicos, construíram os seus lares em castros — povoados fortificados que se erguiam em pontos estratégicos, como sentinelas de pedra no topo das colinas.
Estes castros, protegidos por muralhas robustas, abrigavam comunidades que viviam da agricultura, da pecuária, da metalurgia e do comércio, mantendo viva uma ligação quase sagrada com a terra que os sustentava. As habitações, de planta circular ou retangular, eram feitas de pedra e barro, com telhados de colmo ou telha, e muitas vezes incluíam pátios onde o gado era guardado, um reflexo da simplicidade e da funcionalidade que caracterizavam a vida quotidiana dos galaicos.
A cultura celta em Portugal não se fechou sobre si mesma. Pelo contrário, foi moldada por contactos com outros povos que cruzaram o seu caminho: fenícios, cartagineses, romanos e, mais tarde, suevos. Cada um destes encontros deixou marcas na língua, na arte e nos costumes dos galaicos, criando uma cultura híbrida, mas que nunca perdeu a sua essência. Até ao século VI d.C., os galaicos preservaram a sua identidade, resistindo às tempestades da história, até serem finalmente integrados no reino suevo.
Citânia de Briteiros: um tesouro Celta no coração de Guimarães
No topo do monte de São Romão, a 336 metros de altitude, a Citânia de Briteiros ergue-se como uma joia arqueológica, um dos castros mais significativos da cultura celta em Portugal. Com uma área de cerca de 24 hectares, este povoado oferece uma vista de tirar o fôlego sobre o vale do rio Ave e as serras que o abraçam, como se o próprio cenário quisesse contar histórias de tempos imemoriais. Habitado desde o Neolítico ou Calcolítico, como atestam as gravuras rupestres na encosta nascente do monte, o castro atingiu o seu esplendor entre os séculos II a.C. e I d.C., albergando cerca de 1500 almas que ali construíram as suas vidas.
A Citânia de Briteiros é um exemplo sublime da organização urbana dos celtas portugueses. As muralhas que a protegiam, com portas e torres estrategicamente posicionadas, eram um escudo contra os perigos externos, enquanto no interior uma rede de ruas delineava os espaços públicos e privados. As habitações, algumas circulares, outras retangulares, eram o coração pulsante do povoado, com pátios internos que acolhiam o gado e cisternas que guardavam a preciosa água. Construídas com pedra e barro, cobertas por colmo ou telha, estas casas eram um testemunho da engenhosidade e da resiliência dos galaicos.
Mas a Citânia não era apenas um lugar de morada. Era um espaço de comunhão, de rituais e de espiritualidade. No seu interior, encontramos o edifício central de reuniões, onde as decisões coletivas eram tomadas, e dois balneários que serviam para rituais de purificação. Um destes balneários abriga a célebre Pedra Formosa, uma laje adornada com motivos geométricos e zoomórficos que servia de entrada para uma sauna — um portal para a purificação do corpo e da alma. Há ainda um santuário, provavelmente dedicado a uma divindade local ligada à água e à fertilidade, que nos lembra a profunda ligação dos celtas com as forças da natureza.
A arte celta também brilha na Citânia de Briteiros. Além da Pedra Formosa, as escavações revelaram cerâmicas delicadas, objetos de metal, vidro e osso que contam histórias de artesãos habilidosos e de um povo que comerciava com terras distantes. Cada peça é um fragmento de vida, uma janela para um mundo onde a beleza e a funcionalidade caminhavam de mãos dadas.

A descoberta e o legado da Citânia de Briteiros
A história da Citânia de Briteiros começou a ser desvendada no século XVI, quando o cronista Duarte Nunes de Leão a mencionou na sua Descrição do Reino de Portugal. Contudo, foi no século XIX que o arqueólogo Francisco Martins Sarmento deu vida a este lugar, iniciando escavações em 1874 que continuariam até à sua morte, em 1899. Sarmento, com um amor fervoroso pela história, identificou a Citânia como um castro celta, recuperou objetos preciosos e dedicou-se a mostrar ao mundo o seu valor inestimável. O seu trabalho foi um ato de devoção, uma ponte entre o passado e o futuro.
Após Sarmento, a Citânia continuou a ser estudada e preservada ao longo dos séculos XX e XXI, com campanhas arqueológicas que aprofundaram o nosso entendimento deste lugar mágico. Em 1910, foi classificada como Monumento Nacional, um reconhecimento da sua importância para a identidade cultural de Portugal. Hoje, a Citânia é gerida pela Sociedade Martins Sarmento, uma instituição que perpetua o legado do arqueólogo, garantindo que as ruínas sejam cuidadas e que a história dos galaicos continue a inspirar gerações.
Para quem deseja mergulhar ainda mais fundo nesta viagem no tempo, o Museu da Cultura Castreja, localizado no Solar da Ponte, em Briteiros, é uma paragem obrigatória. Gerido pela Sociedade Martins Sarmento, o museu exibe uma coleção permanente de objetos encontrados na Citânia, desde cerâmicas a ferramentas, que nos permitem tocar a história com os olhos. Além disso, oferece uma biblioteca especializada em arqueologia e história, um convite para os mais curiosos explorarem ainda mais.
Uma viagem que toca a alma
Visitar a Citânia de Briteiros é mais do que uma simples viagem — é uma peregrinação ao coração da história celta em Portugal, explica a VortexMag. É caminhar sobre as mesmas pedras que os galaicos pisaram, sentir o vento que acariciava os seus rostos, imaginar as vozes que ecoavam entre as muralhas. É um convite para se conectar com um povo que, apesar dos séculos, ainda vive nestes vestígios, nas pedras, nos objetos, nas paisagens que os rodeiam.
Se procura uma experiência que desperte os sentidos e a imaginação, não hesite. Suba ao monte de São Romão, deixe-se envolver pela magia da Citânia de Briteiros e descubra um Portugal ancestral que pulsa com vida, coragem e beleza. Este é um lugar onde o passado ganha vida, onde a história sussurra em cada pedra, e onde o espírito celta o espera para contar a sua história. Venha, e deixe-se encantar.
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Sensacional. A história é linda. Quanta obra linda que faziam com os escassos recursos que tinham. Uma viagem no tempo.
Parabéns pela matéria. Excelente!