Portugal é um país repleto de locais deslumbrantes, onde a história e a paisagem se entrelaçam de forma única. Entre esses tesouros, destaca-se o magnífico Castelo de Almourol, uma fortificação que parece saída de um conto de fadas, erguida sobre uma pequena ilha rochosa em pleno leito do rio Tejo, no concelho de Vila Nova da Barquinha, distrito de Santarém. A cerca de 1h30 de Lisboa, este monumento não é apenas uma joia arquitetónica medieval — é um verdadeiro portal para o passado, envolto em mistério e romantismo.

Uma fortaleza com raízes antigas
O Castelo de Almourol carrega séculos de história, e a sua origem é, ainda hoje, envolta em debate. Sabe-se que, antes da Reconquista Cristã no século XII, o local — então conhecido como Almorolan — era ocupado por mouros.
No entanto, vestígios arqueológicos sugerem que a área foi habitada muito antes, com possíveis ocupações por Lusitanos ou mesmo Pré-Romanos. Posteriormente, os romanos terão passado pela região, deixando a sua marca.
Em 1129, após a reconquista da região por forças cristãs lideradas por D. Afonso Henriques, o castelo foi entregue à poderosa Ordem dos Templários.
A fortificação que hoje conhecemos começou então a ganhar forma, sendo reconstruída com traços característicos da arquitetura militar templária: uma planta quadrangular robusta e uma imponente torre de menagem, destinada a resistir a qualquer invasor. Uma epígrafe no local indica que as obras terminaram em 1171, e o castelo passou a integrar uma linha defensiva essencial para proteger o território português.
Do abandono à redescoberta romântica
Com a queda da Ordem dos Templários no século XIV e a transferência das suas propriedades para a Ordem de Cristo, o Castelo de Almourol perdeu a sua importância estratégica.
Com o passar dos séculos e a mudança da capital para Lisboa, a fortaleza foi lentamente esquecida, até ser quase reduzida a ruínas. O devastador terramoto de 1755 contribuiu para o seu declínio, deixando marcas visíveis na estrutura.
No entanto, o século XIX trouxe uma nova vida a Almourol. Em plena época do Romantismo, onde a nostalgia pelo passado medieval inspirava escritores, pintores e arquitetos, o castelo foi redescoberto e alvo de restauros. A sua aura mística e localização pitoresca fizeram dele um símbolo perfeito da idealizada Idade Média.
No século XX, a fortificação viveu ainda outro capítulo curioso: foi adaptada para servir como residência oficial e palco de eventos durante o período do Estado Novo, após uma intervenção entre as décadas de 1940 e 1950. Em 1919, havia já sido classificado como Monumento Nacional, reconhecimento merecido para uma fortaleza com tamanha carga histórica e cultural.

As lendas que resistem ao tempo
Para além do seu peso histórico, o Castelo de Almourol está envolto em lendas e histórias de amores proibidos e traições trágicas. Uma das mais conhecidas conta a paixão impossível entre a filha de um emir sarraceno e um cavaleiro cristão. Encantada pelo jovem, a moura revelou-lhe os segredos do castelo. Porém, o cavaleiro traiu a sua confiança e usou a informação para liderar um ataque à fortaleza. Quando os cristãos conquistaram o castelo, a jovem e o seu pai, desolados, escolheram a morte, atirando-se das muralhas para o rio.
Outra versão da lenda sugere que o espírito da moura ainda vagueia pela ilha nas noites de lua cheia, chorando pela sua traição e pelo destino trágico da sua família. Quem visita o local ao entardecer sente muitas vezes que o próprio Tejo sussurra histórias antigas ao vento, alimentando a aura mágica do lugar.
Um destino inesquecível
Diz a VortexMag que visitar o Castelo de Almourol é mais do que uma viagem ao passado — é uma experiência que marca a memória. A travessia de barco até à pequena ilha, com o reflexo do castelo a dançar nas águas do Tejo, prepara-nos para uma imersão em séculos de história, romance e mistério. Do topo da torre de menagem, a vista panorâmica sobre o rio e a paisagem envolvente é de cortar a respiração.
Independentemente de se ser amante de história, caçador de lendas ou simples apreciador de paisagens deslumbrantes, Almourol oferece algo de especial a cada visitante. E quando chega o momento de partir, é difícil não olhar para trás uma última vez, como se a própria ilha nos chamasse de volta. Afinal, há locais que parecem destinados a permanecer eternamente vivos na nossa imaginação — e o Castelo de Almourol é, sem dúvida, um deles.
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