O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, deu este domingo, no Jornal da Noite da SIC, as primeiras explicações públicas sobre o trágico acidente do Elevador da Glória, que vitimou 16 pessoas e deixou mais de 20 feridos. Em declarações marcadas pela emoção e pela firmeza, o autarca garantiu que as famílias das vítimas terão respostas e não afastou a possibilidade de se demitir caso fique provado que existiu “erro político” da sua parte.
“Foram dias de luto e de dor”
Carlos Moedas recordou que a prioridade imediata, após o acidente, foi estar ao lado dos lisboetas e das famílias das vítimas:
“Foram dias de luto, de dor profunda. A minha missão foi estar no terreno, olhar nos olhos das famílias e assegurar-lhes que terão uma resposta. Farei tudo o que está ao meu alcance para que a verdade seja conhecida.”
O autarca, contudo, não deixou de lamentar o que considerou ser “aproveitamento político” durante os dias de luto nacional e municipal.
Demissão em cima da mesa, mas cenário afastado
Questionado sobre a responsabilidade política no acidente, Carlos Moedas afirmou de forma categórica que se demitirá caso se prove falha política direta da sua parte:
“Se alguém provar que a Câmara não deu as condições necessárias à empresa responsável pela manutenção, que houve cortes no orçamento, que não se investiu no equipamento ou que a manutenção foi diminuída por minha ação, eu demito-me no próprio dia.”
Ainda assim, afastou este cenário, reiterando que a manutenção estava em dia e que a segurança dos equipamentos foi sempre uma prioridade.
Ascensores suspensos e vistorias ao detalhe
Moedas anunciou também a suspensão preventiva das operações em todos os outros elevadores históricos da cidade. O objetivo, frisou, é garantir segurança total antes de autorizar a retoma.
“Não vou permitir que Lisboa volte a passar por uma tragédia destas. Até termos a certeza do que aconteceu, todos os sistemas estão a ser revistos, com vistorias ao detalhe, até ao milímetro.”
Críticas ao PS e a Alexandra Leitão
A entrevista foi ainda marcada por fortes críticas ao Partido Socialista, a quem acusou de radicalização. Sobre Alexandra Leitão, candidata socialista, Moedas classificou-a como “dissimulada” e “cínica”, afirmando que esta não pede a sua demissão diretamente, mas incentiva apoiantes, como Pedro Nuno Santos e Brilhante Dias, a fazê-lo.
O autarca fez também questão de recordar que, em 2018, houve um acidente semelhante com o Elevador da Glória, sem vítimas, mas que não encontrou qualquer relatório sobre esse episódio, sublinhando a necessidade de maior transparência.
Marcelo Rebelo de Sousa fala em responsabilidade política
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, reagiu igualmente ao acidente, sublinhando que Carlos Moedas tem responsabilidade política. No entanto, considerou que, a um mês das eleições autárquicas, caberá aos eleitores pronunciar-se. O Chefe de Estado destacou ainda as muitas dúvidas que persistem, desde o motivo para o cabo ter cedido até à falha na redundância do sistema e à incapacidade da inspeção visual detetar a rutura iminente.
Relatório técnico confirma falha do cabo
O primeiro relatório técnico confirmou que o acidente foi causado pela rutura do cabo que ligava as duas cabinas. O documento esclarece que, no momento da falha, o guarda-freios acionou de imediato os sistemas pneumático e manual, mas sem sucesso. As cabinas perderam equilíbrio em segundos e atingiram velocidades na ordem dos 60 km/h antes do primeiro embate.
Os especialistas acrescentam que os travões não foram concebidos para imobilizar as cabinas sem o contrapeso garantido pelo cabo, pelo que não constituíam um verdadeiro sistema redundante.
Ainda assim, confirmaram que a manutenção estava em dia e que, na manhã do acidente, havia sido realizada uma inspeção visual programada. Contudo, a zona exata onde o cabo acabou por ceder só seria detetável com desmontagem, algo que não fazia parte do procedimento habitual.
Uma cidade em choque, uma verdade por descobrir
O acidente do Elevador da Glória deixou Lisboa mergulhada na dor e na indignação. Para muitos, trata-se de uma tragédia que expõe fragilidades na gestão do património histórico e coloca em causa a confiança dos lisboetas nos serviços públicos.
Enquanto os relatórios técnicos avançam e as responsabilidades continuam a ser apuradas, cresce a expectativa de respostas claras e de medidas que impeçam novas tragédias.
Carlos Moedas insiste que não se afastará das suas responsabilidades e que lutará para que a verdade seja revelada:
“Daqui ninguém sai. Alguém demitir-se agora seria um ato de cobardia.”