A calçada portuguesa tem muita história, está presente em diversos países e encanta pela sua beleza e singularidade. Até encantou o New York Times…
A calçada portuguesa apresenta uma beleza singular. Esta forma de decorar os pisos permite a criação de diversos padrões e até de desenhos e tornam qualquer chão numa tela. Há exemplos de calçada portuguesa que são como belos quadros que se encontram “pintados no chão”.
A calçada portuguesa tornou-se famosa pelos encantos que gera. A sua popularidade fez com que ela fosse constantemente copiada. A calçada portuguesa está presente em países como Brasil, Cabo Verde, Timor, entre outros destinos com presença portuguesa.
Ela até serviu de inspiração a outras calçadas espalhadas pelo mundo fora. Um jornal de elevada reputação internacional deixou-se seduzir pelos charmosos mosaicos portugueses.
Calçada portuguesa encantou o New York Times
A fonte
O jornal norte-americano New York Times dedicou um artigo destinado a elogiar a calçada portuguesa. No artigo In Lisbon, a Carpet of Stone Beneath Their Feet (um tapete de pedra debaixo dos nossos pés), é possível confirmar que esta publicação não poupa nos elogios à calçada portuguesa.
O artigo
Nesse artigo do The New York Times assinado pela jornalista Kathleen Beckett, são muitos os adjetivos que elogiam a beleza do trabalho português. O jornal norte-americano defende que o estilo decorativo em questão é só luso, mas que o passado colonial e histórico de Portugal permitiram exercer a sua influência. Este artigo homenageia a calçada portuguesa e exalta as suas qualidades.
Existem exemplares que visam contar um pouco da sua história. O seu valor artístico é inquestionável. Se no passado a calçada portuguesa estava centrada nos artistas calceteiros, recentemente o famoso artista Vhils liderou um projeto que visou prestar homenagem à fadista Amália Rodrigues, em Alfama. Vhils (Alexandre Farto) recorreu à calçada portuguesa para a criação dessa obra de arte.
Confira a obra “Calçada” (Portrait of Amália Rodrigues), Lisbon, Portugal, aqui.
A origem
Sabia que a calçada portuguesa surge devido a um rinoceronte? Parece surpreendente, mas é verdade. A origem da calçada portuguesa está diretamente relacionada com Ganga, o rinoceronte mais popular de sempre. Esse momento histórico ficou registado nas cartas régias.
Foi por instrução do Rei D. Manuel I que se procedeu ao início do calcetamento das ruas de Lisboa. O exigente procedimento foi realizado entre os dias 20 de agosto de 1498 e 8 de maio de 1500. A calçada portuguesa foi colocada num contexto em que se estava a preparar o cortejo do rei.
Era neste evento que as novas riquezas provenientes do Oriente seriam apresentadas. O rinoceronte branco com o nome Ganga encontrava-se entre os grandes destaques desse evento. Ora, era necessário criar algo que pudesse prevenir que Ganga espalhasse lama no momento da sua passagem, pela comitiva e por si próprio.
Era normal nessa altura do ano as ruas estarem com lama, o que tornaria o evento menos bonito. No momento de passar o rinoceronte Ganga, iria salpicar tudo de lama e calcar o chão com as suas pesadas patas, por isso, era necessário uma calçada. As ruas foram calcetadas para esse evento.
Evolução da Calçada portuguesa
Com o passar do tempo, a técnica necessária para calcetar as ruas foi sendo aperfeiçoada e melhorada, até chegar ao século XIX, onde surge a fórmula reconhecida como calçada portuguesa.
Apesar de ter origem no século XV, a calçada portuguesa tal como a conhecemos remonta ao século XIX. Corria o ano de 1842 quando um grupo de prisioneiros (os “grilhetas”) realizou uma calçada em calcário no Castelo de São Jorge (em Lisboa) onde estavam presos. O seu trabalho maravilhou tudo e todos.
Após essa obra, seguiu-se a obra da Praça do Rossio, que foi concluída em 1848. Essa obra chamou-se de Mar Largo e foi uma homenagem aos Descobrimentos Portugueses. Essa calçada estava cheia de motivos associados ao mar, encontrando-se nela caravelas, rosas-dos-ventos, conchas, peixes, estrelas e ondas do mar. As pedras calcárias brancas e pretas que são típicas na calçada portuguesa passaram a revestir passeios, praças, pracetas e até obras de arte.
Calçada portuguesa
A calçada portuguesa tem o mundo aos seus pés e está nos pés de todo o mundo. Passear por Lisboa ou noutra cidade portuguesa revela-se uma experiência singular. A calçada portuguesa é uma constante, por isso olhar para o chão representa quase o mesmo que olhar para as paredes de um museu; é como olhar para quadros.
Existem obras de arte únicas. Na calçada portuguesa, podemos apreciar formas, composições e ângulos incríveis. Há padrões e figuras, há história e estórias. O hábito dos portugueses passearem pelas calçadas pode levar a que, por vezes, se passe sem nos darmos conta do seu encanto, como o segurança do museu passeia pelas galerias, sem valorizar devidamente cada uma das obras de arte.
Exemplares de excelência
1 Rua de Sampaio Bruno, em plena Baixa do Porto.
2 Padrão dos Descobrimentos, junto ao famoso Padrão dos Descobrimentos, é possível ver um mapa do mundo.
3 Avenida do Mar (Funchal, Madeira).
4 Rua João Tavira, Funchal, Madeira há grande variedade de quadros calcetados com pedras brancas e pretas.
5 Nos Paços das Escolas está o símbolo da Universidade de Coimbra. Ele está presente no Pólo I da Universidade. A insígnia encontra-se bem desenhada com pedras de calcário em formato irregular.
6 Praça do Império, Lisboa, em frente ao Mosteiro dos Jerónimos. Aqui, poderá encontrar motivos decorativos, como a esfera armilar ou os signos do Zodíaco…
7 Praça Marquês do Pombal, Vila Real de Santo António, onde encontrará as armas de Lisboa e dois corvos pousados numa caravela.
8 Avenida da Liberdade, Lisboa
9 Praça Gonçalo Velho Cabral, em Ponta Delgada, São Miguel, Açores. Aqui, poderá ver uma calçada portuguesa que permite apresentar um padrão ornamental e onde existem motivos decorativos de beleza singular.
10 Praça Rodrigues Lobo, Leiria, o branco e o preto típicos da calçada portuguesa encontram-se espalhados por toda a praça.
11 Praça do Município, Lisboa, está presente um desenho da autoria do pintor Eduardo Nery. O artista apresenta-nos um desenho geométrico, composto por um padrão de triângulos e de retângulos, um autêntico “tapete” de pedra.