Burlas em parquímetros voltam às ruas. À primeira vista, parece uma cena resgatada de outras décadas: parquímetros, moedas e o tradicional papel no vidro do carro. Num tempo em que as aplicações de estacionamento e os pagamentos digitais parecem dominar, seria natural pensar que este tipo de fraude tinha desaparecido. Mas nos últimos meses, vários condutores em Portugal têm denunciado o reaparecimento de um truque antigo — agora com uma versão mais sofisticada e difícil de detetar.
Como funciona o esquema fraudulento
A técnica continua a ser engenhosa na sua simplicidade. O burlão introduz uma moeda verdadeira no parquímetro, mas manipula ou bloqueia o mecanismo interno para que a máquina não registe corretamente o pagamento ou devolva o dinheiro de forma dissimulada.
O método tradicional consistia em inserir um pedaço de plástico, fita adesiva transparente ou até cola no orifício das moedas, fazendo com que estas ficassem presas ou fossem rejeitadas, permitindo ao burlão recuperá-las mais tarde.
A nova versão: mais discreta e perigosa
Hoje, a fraude ganhou uma nova dimensão. Em vez de bloquear totalmente o mecanismo, os burlões recorrem a pequenos adaptadores — muitas vezes metálicos ou impressos em 3D — que permitem a passagem da moeda, mas fazem com que o parquímetro registe apenas parte do valor inserido.
Imagine-se colocar 1€ e o equipamento registar apenas 0,20€, imprimindo um talão com muito menos tempo do que o pago. Isto provoca dois problemas sérios:
- O condutor acredita que estacionou legalmente, mas na realidade o tempo comprado é insuficiente.
- O burlão consegue, mais tarde, manipular novamente a máquina para obter moedas ou enganar outros condutores.
O caso real no centro de Lisboa
No coração da capital, um condutor inseriu 2€ esperando estacionar por cerca de duas horas. No entanto, o talão indicava apenas 40 minutos.
Sem tempo para verificar, seguiu caminho. Quando regressou, tinha uma multa no para-brisas.
Ao conversar com outros condutores na área, descobriu que todos tinham enfrentado o mesmo problema no mesmo parquímetro.
As autoridades, chamadas ao local, encontraram um adaptador colocado no interior da máquina, responsável pela manipulação do registo.
Porque é tão difícil de detetar
- O talão é impresso normalmente, apenas com menos minutos do que o devido.
- O parquímetro não exibe mensagens de erro ou alertas.
- Como poucos condutores conhecem a tarifa exata por minuto, raramente se percebe a diferença.
- O esquema pode ser montado e desmontado em poucos minutos, dificultando a captura do burlão em flagrante.
Como se proteger desta burla
- Conhecer previamente o preço de estacionamento por hora na zona utilizada.
- Confirmar o tempo indicado no talão antes de se afastar do parquímetro.
- Privilegiar pagamentos digitais por aplicação ou MB Way, menos suscetíveis a manipulação.
- Comunicar de imediato qualquer comportamento anómalo da máquina à polícia ou à entidade responsável.
- Evitar o uso de moedas de valor elevado, que possam atrair atenção.
E se já tiver sido vítima?
Se verificar que o tempo no talão não corresponde ao valor pago, conserve o comprovativo e fotografe o parquímetro, mostrando claramente a hora e o local. Contacte a entidade gestora e relate o sucedido. Em caso de multa, essa prova pode ser fundamental para contestar a penalização, sobretudo se houver outros registos semelhantes na mesma área.
O risco adicional das moedas “enganadas”
Para além do prejuízo no estacionamento, refere a Leak, este tipo de burla pode servir de isco para crimes mais graves. Burlões experientes observam condutores que permanecem demasiado tempo junto ao parquímetro ou que parecem confusos, aproveitando a distração para furtar carteiras ou arrombar veículos.
A fraude moderna não precisa de hackers ou tecnologias complexas. Por vezes, basta uma pequena peça de metal para provocar prejuízos e transtornos significativos. Por isso, antes de se afastar do carro, verifiaszque sempre se o valor pago corresponde ao tempo impresso. Pequenos cuidados podem evitar multas injustas… e proteger o seu bolso.
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