O confronto entre portugueses e castelhanos. Na origem da Batalha de Aljubarrota, estava a crise de sucessão ao trono português.
O ano de 1385 ficou marcado pelo confronto entre as tropas portuguesas comandadas por D. Nuno Álvares Pereira e por D. João I e as forças castelhanas que acabaram derrotadas. Na origem desta batalha, estava a crise de sucessão ao trono português.
A Batalha de Aljubarrota é um dos episódios mais acarinhados da nossa história não só porque Portugal saiu vitorioso, mas também porque conseguiu alcançar essa vitória apesar de estar num número substancialmente inferior ao das forças espanholas. Porém, o engenho de D. Nuno Álvares Pereira mostrou que, mesmo em inferioridade numérica, o exército luso podia sair vencedor.
Perceba um pouco melhor como decorreu este confronto, o que estava em causa nesta batalha e qual foi a estratégia seguida por D. Nuno Álvares Pereira para sair vitorioso deste confronto ibérico. Continue a ler para saber mais.
Batalha de Aljubarrota: como Portugal venceu um exército maior que o seu
Começando por explicar a crise de sucessão que esteve na base deste confronto ibérico, importa dizer que, em 1383, faleceu o rei D. Fernando, cuja filha, D. Beatriz, estava casada com o rei D. João I de Castela. Deste modo, a independência do nosso país ficou ameaçada.
Embora no acordo nupcial dissesse que D. João I de Castela não podia ser rei de Portugal, ele acabou por invadir o nosso país. Portugal dividiu-se, havendo um grupo de apoio e outro detrator do rei espanhol.
Quando o conde Andeiro, o Mestre de Avis é tornado “regedor e defensor do Reino”, tendo a missão de defender o país, com a colaboração de D. Nuno Álvares Pereira. Entretanto, Lisboa estava cercada, situação que se manteve até 1384, altura em que o monarca espanhol reorganizou as tropas, sitia Elvas e invade a Beira Alta.
Ao mesmo tempo, D. Nuno Álvares Pereira foi reconquistando algumas praças que estavam do lado de Castela. Por essa altura, D. Nuno Álvares Pereira decidiu enfrentar as forças castelhanas, seguindo até Leiria.
A batalha
O espaço de encontro entre os exércitos era um planalto com acessos difíceis, os quais prejudicam o inimigo, mas proporcionavam o contra-ataque luso pelos flancos. Porém, havia uma grande desigualdade em número, no que respeitava a ambas as forças.
O exército castelhano teria 5000 lanças (cavalaria pesada), 2000 ginetes (cavalaria ligeira), 8000 besteiros e 15.000 peões, enquanto o português teria 1700 lanças, 800 besteiros, 300 archeiros ingleses e 4000 peões.
A 14 de agosto ambas tropas chegam ao local, mas os castelhanos recuam, porque percebem que estão em desvantagem, no que respeita às condições do terreno. Ainda assim, o exército português segue-os, acabando por se encontrar em Calvaria.
Para se defenderam, as forças portuguesas cavaram fossos e covas de lobo e formaram uma espécie de quadrado. Havia homens na zona chamada de vanguarda e outros nas alas. Assim, os castelhanos sentiram grande dificuldade em atacarem as forças lusas.
Contudo, o ataque acabou por acontecer e os castelhanos conseguiram ferir a vanguarda portuguesa. Porém, foram estrategicamente atacados de flanco, pelas pontas da vanguarda, pelas alas e pela retaguarda portuguesa.
O desfecho da batalha
Portanto, apesar de se encontrarem em maior número, a vanguarda castelhana ficou seriamente abalada, sendo que os restantes membros do exército fugiram.
Em apenas uma hora, as forças portuguesas conseguiram expulsar o rei de Castela que, nessa mesma noite, fugiu para Santarém e, depois, partiu para Sevilha.
Consequentemente, todos os portugueses apoiantes do monarca espanhol acabaram por se render a D. João I.
Quem foi D. João I de Portugal?
D. João I de Portugal nasceu em Lisboa, a 11 de abril de 1357, e faleceu na mesma cidade em 1433. Era filho ilegítimo do rei D. Pedro I de Portugal e da sua amante Teresa Lourenço. Foi entronizado nas cortes de Coimbra.
Para a história, ficou mais conhecido como o Mestre de Avis, mas também como o de Boa Memória. Foi rei de Portugal e dos Algarves de 1385 até 1433, ano em que morreu. Inaugurou a Dinastia de Avis, tendo sido o 10º rei do nosso país.
O papel e a figura de D. Nuno Álvares Pereira
D. Nuno Álvares Pereira foi uma figura central neste confronto, já que a sua estratégia militar foi determinante para a vitória na Batalha de Aljubarrota. Além disso, revelou-se um acérrimo defensor de D. João I e da independência do país.
O Santo Condestável, São Nuno de Santa Maria ou Nun’Álvares como também é conhecido ficou para a história portuguesa do século XIV como um importante nobre e general português.
Destacou-se ainda como estratega, comandante e militar de grande mérito que liderou várias tropas, tendo vencido sempre todas as batalhas que travou. Homem de virtude, serviu de modelo e de referência, nomeadamente pela sua forma de comandar.
N’Os Lusíadas, Luís de Camões descreve-o como: “Por estes vos darei um Nuno fero, Que fez ao Rei e ao Reino tal serviço,” e “Mas mais de Dom Nuno Álvares se arreia. Ditosa Pátria que tal filho teve!”.
Final de vida
No final de vida, vai para o Convento do Carmo, que mandou construir, adotando o nome de Irmão Nuno de Santa Maria, mas sendo mais conhecido pelo povo como Santo Condestável. Aí oferecia refeições aos pobres e distribuía esmolas. Faleceu aí mesmo a 1 de novembro de 1431.
No seu epitáfio, podia ler-se: “Aqui jaz aquele famoso Nuno, o Condestável, fundador da Sereníssima Casa de Bragança, excelente general, beato monge, que durante a sua vida na terra tão ardentemente desejou o Reino dos Céus depois da morte, e mereceu a eterna companhia dos Santos. As suas honras terrenas foram incontáveis, mas voltou-lhes as costas. Foi um grande Príncipe, mas fez-se humilde monge. Fundou, construiu e dedicou esta igreja onde descansa o seu corpo.”
Desde 1951 que se encontra sepultado na Igreja do Santo Condestável, em Lisboa, depois do terramoto de Lisboa ter destruído parcialmente o Convento do Carmo onde jazia.
Foi canonizado pelo Papa Bento XVI, a 26 de abril de 2009.
Quer saber mais sobre a Batalha de Aljubarrota?
Se é um apaixonado por história, nomeadamente pela Batalha de Aljubarrota, saiba que existe um Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota (CIBA), uma iniciativa da Fundação da Batalha de Aljubarrota, que visa preservar o património do Campo Militar de S. Jorge.
A sua área expositiva possui quatro núcleos explicativos da Batalha, nomeadamente exibindo achados arqueológicas feitos no campo de batalha. Há ainda um auditório, onde e possível assistir a um filme que reconstitui a Batalha.
Para visitar tudo, vai precisar de dispor de 1 a 2 horas.
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Muito me enobrece e orgulha o sangue portugues. Gosto e me interesso pela história do nosso querido Portugal.
Sou brasileiro mas tenho muita curiosidade sobre Aljubarrota, a figura do Condestável e outros fatos da história portuguesa. Obrigado pelas informações
Gosto muito de ler os vossos artigos sobre história portuguesa. Muito obrigado
Artigo muito interessante! Temos uma história extremamente rica e apaixonante e como tal só posso elogiar e agradecer pelo vosso trabalho. Penso que há necessidade de relembrar e ensinar o que fomos e o que somos.
Sou brasileiro, bisneto de portugueses e muito interessado na história de Portugal e dos grandes homens que fizeram a nação portuguesa! Parabéns pelo conteúdo.