Em Portugal, já não é possível circular a 120 km/h em toda a extensão da A25. A autoestrada das Beiras Litoral e Alta, uma das principais ligações rodoviárias do país, passou a ter a velocidade máxima uniformizada nos 100 km/h. A medida, que entrou recentemente em vigor, está a gerar forte contestação entre autarcas locais, que exigem esclarecimentos urgentes ao Governo.
O que mudou na A25
De acordo com o Automóvel Club de Portugal (ACP), a alteração elimina os troços onde ainda era permitido circular a 120 km/h, passando toda a via a estar limitada a 100 km/h.
Em vários segmentos, a redução já se aplicava há anos, nomeadamente entre Guarda e Celorico da Beira, onde apenas um curto percurso ainda permitia atingir os 120 km/h.
Depois de Celorico, a restrição voltava a vigorar, só sendo levantada na entrada do distrito de Viseu.
Além disso, pontos estratégicos como a ponte do Côa, a subida da Ribeira das Cabras e curvas mais perigosas já tinham restrições específicas, independentemente das condições visuais da estrada que poderiam, à partida, permitir maior velocidade. A novidade está, portanto, na uniformização da regra, agora aplicada de forma contínua.
Contestação e críticas dos autarcas
Na Região de Aveiro, a decisão foi recebida como uma “surpresa desagradável”. Jorge Almeida, presidente da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA), classificou a medida como “incongruente”, sublinhando que não houve qualquer comunicação prévia às entidades locais.
A CIRA teme repercussões negativas em áreas cruciais como a economia, o turismo e até a atratividade da região para visitantes e investidores. Embora não rejeite totalmente a redução da velocidade, defende que esta deveria restringir-se apenas a zonas urbanas, evitando assim a necessidade de barreiras acústicas.
O Município de Aveiro chegou mesmo a apresentar uma proposta alternativa: aplicar o limite de 100 km/h apenas entre o nó de Esgueira e o nó das Pirâmides, acompanhado de sinalização reforçada e radar. Porém, nunca recebeu resposta por parte das entidades competentes.
Perante o silêncio oficial, a CIRA apelou diretamente ao Governo, à Infraestruturas de Portugal, ao IMT e à Ascendi, exigindo esclarecimentos urgentes e a reposição do limite habitual de 120 km/h em pelo menos parte do trajeto.
O peso das portagens e a insatisfação crescente
A polémica em torno da velocidade soma-se a outra questão que já vinha a alimentar o descontentamento regional: as portagens. Apesar da entrada em vigor, no início de 2025, de um diploma que eliminava taxas em antigas SCUT, a A25 manteve as portagens no troço da Região de Aveiro. Para os autarcas, a conjugação entre a redução da velocidade máxima e a manutenção das portagens representa uma dupla penalização para quem utiliza diariamente esta via.
Empresas, trabalhadores e estudantes sentem-se prejudicados, vendo nesta medida um entrave à mobilidade, à competitividade e ao desenvolvimento regional.
Velocidade reduzida: segurança ou obstáculo?
As autoridades justificam a medida com argumentos de segurança rodoviária. Contudo, para muitos condutores, a descida do limite de 120 km/h para 100 km/h parece desajustada face às características da A25, que em largos troços apresenta boas condições de circulação.
Segundo o Postal, a discussão levanta uma questão central: até que ponto a redução da velocidade contribui realmente para a segurança, ou se acaba por penalizar desnecessariamente os utilizadores? Enquanto não chegam respostas oficiais, cresce a sensação de injustiça e desigualdade entre regiões do país.
Abre-se um precedente
O caso da A25 pode tornar-se um precedente para outras autoestradas portuguesas. Entre preocupações legítimas com a segurança rodoviária e as críticas sobre impacto económico e social, a verdade é que a decisão veio acender um debate mais profundo: qual deve ser, afinal, o equilíbrio entre segurança, mobilidade e justiça para os utilizadores das nossas estradas?