Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana são duas povoações encantadoras que se olham, geminadas, como se tivessem um espelho à sua frente. Condé Nast Traveler é um site internacional com grande reputação no mundo das viagens. Recentemente, dedicou um artigo interessante a duas aldeias de países vizinhos que se encontram unidas por um rio. Estas aldeias encontram-se em Espanha e Portugal. Contemplam-se uma a outra e entre si têm um espelho de água.
Às Margens do rio: a história de Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana
Ao longo de séculos, houve um esforço humano para criar fronteiras que visavam a separação entre povos. Levantaram-se fortalezas de defesa que permitiam a proteção de culturas e modos de vida.
A proximidade levou a guerras e conflitos constantes. No entanto, também houve troca de influências, nas línguas e costumes. Alcoutim, no Algarve português, e Sanlúcar de Guadiana, na região andaluza de El Andévalo, revelam que a proximidade teve as suas vantagens.
Ambos os destinos ficam nas águas do rio Guadiana, sendo a sensação de cada uma ser o reflexo da outra. Ambas as localidades apresentam ruas íngremes com paralelos e casas baixas com fachadas caiadas de branco. Parecem gémeas separadas à nascença.
A presença do castelo medieval permite dominar tudo do alto de uma colina, existindo ainda as igrejas. No entanto, o maior destaque está no rio que lhes dá vida. O rio Guadiana não distancia Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana. Pelo contrário, une ambos os locais.
Os habitantes forjaram amizades, viveram amores entre si, partilharam sentimentos de solidariedade, revelando importância em momentos de necessidade.
A viagem até Alcoutim é muito bonita. A paisagem da estrada varia em relação ao que habitualmente se encontra na costa algarvia. As árvores e campos cobertos de flores abundam neste espaço territorial. Há uma explosão de cores e fragrâncias em plena primavera.
As ruas de Alcoutim descem em direção às águas do Guadiana, seguindo um percurso de forma desordenada e caótica. O silêncio instala-se ao longo do ano nesta zona. A tranquilidade só é quebrada em dias de festival. O castelo medieval é testemunha da passagem do tempo. Está presente num local que permite que apresente uma posição predominante sobre as casas.
Foram encontrados vestígios que comprovam que a zona de Alcoutim foi ocupada desde os tempos pré-históricos. No entanto, foram os romanos os primeiros a povoar e a defender o espaço, com uma posição privilegiada numa via navegável da importância comercial do Guadiana. Após a passagem dos povos bárbaros, seriam os árabes a começar a moldar Alcoutim. Contudo, foi após a Reconquista Cristã comandada pelo rei português Sancho II, que o castelo foi devidamente reforçado. Por aqui, é possível usufruir das melhores vistas panorâmicas de Alcoutim.
No passado, os habitantes de Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana foram forçados a ver a outra população como um inimigo. Por isso, houve confrontos. Os poderosos tinham interesse em manter os seus postos fronteiriços.
Os homens do castelo de Alcoutim trocaram tiros de canhão com os homens do castelo de São Marcos, que está presente numa colina alta acima de Sanlúcar. Ao longo do tempo, foram dezenas de ocasiões em que essa realidade de conflito aconteceu.
Atualmente, a fortaleza encontra-se bem preservada. No seu interior, podemos visitar um pequeno museu arqueológico no qual se aprende muito da história de Alcoutim.
É ainda possível encontrar dois templos cristãos com importância. A ermida de Nossa Senhora da Conceição é uma construção religiosa datada do início do século XVI. Neste templo, pode encontrar-se um retábulo de madeira esculpido em ouro, um elemento datado do século XVIII.
Acima do altar é possível ver o brasão de armas de D. João IV. A igreja matriz de Alcoutim é uma construção do século XIV, sendo um dos melhores exemplos da arquitetura renascentista no Algarve.
Junto deste templo encontram-se as águas do Guadiana, um rio que fica entre Alcoutim e Sanlúcar. Como as suas águas correm com alguma força, convém escolher o melhor local para ir a banhos.
Por isso, a praia fluvial do Pego Fundo revela-se a melhor opção para tomar um banho seguro. A água aqui é limpa e refrescante. A praia é um dos locais favoritos da população local durante os dias quentes de verão, encontrando-se cercada pela Natureza.
Se apanhar um dos pequenos barcos em Alcoutim, é possível fazer a travessia até Sanlúcar de Guadiana. Antes de se fazer a viagem, já é uma experiência agradável poder apreciar o magnífico quadro que Sanlúcar de Guadiana proporciona do outro lado do rio.
Após se chegar ao local, já em solo espanhol, visitar o castelo de San Marcos revela-se obrigatório. Desta construção, é possível contemplar a melhor vista panorâmica da área.
Esta fortaleza foi construída na época medieval. Posteriormente, foi ampliada e reforçada diversas vezes entre os séculos XVI e XVIII. O castelo fazia parte do cordão defensivo que se estendia entre Ayamonte e a Galiza e que visava garantir a defesa da fronteira com Portugal.
Atualmente, o seu interior não pode ser visitado. Está reservado para manutenção. No entanto, este é um lugar privilegiado para apreciar o pôr do sol. Tem vistas incríveis.
Posteriormente, pode caminhar pelas ruas do centro de Sanlúcar de Guadiana. Por aqui, também se encontra muita tranquilidade. A atmosfera é especial. Existe até um certo toque boémio. Muitos estrangeiros escolhem morar aqui. Por isso, terá muitos encantos.
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Nos bares de Sanlúcar, é comum ouvir pessoas a falar em inglês, francês ou alemão. Não se tratam (apenas) de simples turistas. Há muitos moradores estrangeiros que encontraram aqui um espaço que lhes garante paz, boa qualidade de vida e um ambiente natural fascinante.
A igreja paroquial de Nossa Senhora das Flores é uma bela construção religiosa. Este templo foi construído no século XVI. No entanto, teve de ser amplamente reparado devido aos danos sofridos pelos diversos conflitos militares e também na sequência do terrível terramoto de Lisboa de 1755.