Um inimigo invisível e altamente destrutivo está a aproximar-se das fronteiras de Portugal, despertando preocupação crescente entre apicultores, ambientalistas e autoridades europeias. Trata-se do Tropilaelaps mercedesae, um parasita microscópico que ataca impiedosamente as abelhas e que pode representar uma verdadeira catástrofe para os ecossistemas e para a agricultura nacional.
Este ácaro, responsável por uma doença conhecida como tropilaelapsose, tem vindo a alastrar-se a grande velocidade a partir do Leste europeu. A sua presença já foi confirmada em países como o Uzbequistão, Azerbaijão, Irão, Tajiquistão e, mais recentemente, na Ucrânia. Com a proximidade geográfica à Península Ibérica, as autoridades espanholas estão em alerta máximo — e o risco de entrada em Portugal é real e iminente.

O que é o Tropilaelaps mercedesae e por que é tão perigoso?
O Tropilaelaps mercedesae é um ácaro parasita que infesta colónias de abelhas, alimentando-se das larvas e pupas. Esta espécie tem um ciclo de reprodução extremamente rápido, o que facilita uma disseminação exponencial dentro das colmeias.
Ao contrário de outros parasitas, este ácaro desenvolve-se em apenas sete dias, permitindo infestações massivas num curto espaço de tempo. O impacto? Colónias inteiras podem colapsar rapidamente, comprometendo gravemente a produção de mel, a polinização e, consequentemente, a estabilidade de vários setores agrícolas.
Além disso, o Tropilaelaps mercedesae agrava um problema já conhecido na apicultura europeia: a varroose, causada pelo também temido ácaro Varroa destructor. Quando ambos os parasitas infestam a mesma colónia, os danos são devastadores.
Sintomas, diagnóstico e desafios no controlo
Detetar a presença do Tropilaelaps mercedesae nas colmeias é um desafio. Os sintomas iniciais são facilmente confundíveis com os da varroose, o que pode atrasar o diagnóstico e permitir que o parasita se espalhe silenciosamente.
As abelhas infetadas apresentam fraqueza generalizada, abdómen encurtado, asas deformadas e patas danificadas — sinais de sofrimento que indicam um sistema colapsado.
Segundo o Ministério da Agricultura de Espanha, o parasita pode ser encontrado tanto em crias como em abelhas adultas, e exige vigilância constante e técnicas de diagnóstico especializadas. Os tratamentos existentes, além de escassos, ainda não demonstraram eficácia universal.
A ameaça real às abelhas portuguesas
As abelhas não são apenas produtoras de mel — são pilares essenciais da biodiversidade. Através da polinização, garantem a reprodução de inúmeras espécies vegetais, o que impacta diretamente a produção agrícola e o equilíbrio dos ecossistemas naturais, explica o Postal do Algarve.
Com a aproximação deste parasita às fronteiras de Portugal, o risco de uma crise ambiental e agrícola torna-se cada vez mais plausível. O alarme é legítimo: Portugal não pode permitir que o Tropilaelaps cruze a fronteira. As autoridades espanholas já publicaram uma ficha técnica sobre a tropilaelapsose, com instruções específicas para apicultores. Recomenda-se uma monitorização rigorosa das colmeias, o reforço das medidas de biossegurança e a cooperação entre laboratórios e entidades europeias.
O que está a ser feito — e o que ainda falta fazer
A prevenção e a deteção precoce são as únicas armas eficazes neste momento. A União Europeia está a reforçar os protocolos sanitários e a promover o intercâmbio de informação científica entre países. Mas é fundamental envolver os apicultores na linha da frente — são eles que, no terreno, podem travar a expansão deste inimigo silencioso.
É urgente apostar em formação, apoio técnico e campanhas de sensibilização. Cada colmeia protegida conta. Cada atraso na resposta pode significar o desaparecimento de milhares de abelhas.
Um apelo à consciência coletiva
Num mundo já pressionado por alterações climáticas, pesticidas e perda de habitats, as abelhas enfrentam agora mais um adversário. E este adversário é pequeno, quase invisível — mas de impacto brutal.
Proteger as abelhas é proteger a vida. É garantir alimentos nas nossas mesas. É defender o equilíbrio natural de que todos dependemos.
O avanço do Tropilaelaps mercedesae deve ser encarado como um alerta urgente para toda a sociedade: autoridades, produtores, consumidores e cidadãos comuns.
Portugal ainda vai a tempo de evitar o pior. Mas o tempo está a esgotar-se.
Stock images by Depositphotos