Acordou hoje com o coração apertado ao perceber que o frigorífico deixou de funcionar durante a noite? Tinha o congelador cheio, alimentos frescos prontos para preparar, e agora tudo parece comprometido? Não está sozinho. O recente apagão que atingiu a Península Ibérica deixou milhões de famílias na incerteza e na ansiedade sobre o estado da sua comida. Numa altura em que cada euro conta e o desperdício pesa na consciência, estas dúvidas tornam-se urgentes.
Afinal, o que ainda pode ser salvo e o que já não tem volta a dar?
O congelador: ainda pode haver esperança
Comecemos pelas boas notícias: se os alimentos estavam bem acondicionados no congelador e a porta se manteve fechada, é provável que ainda estejam em segurança.
Se o congelador estava completamente cheio, pode manter os alimentos congelados por até 48 horas. Se estava apenas meio cheio, este tempo reduz-se para cerca de 24 horas.
A lógica é simples: quanto mais cheio estiver, mais frio consegue reter. Por isso, se tem o hábito de manter recipientes com gelo ou garrafas de água congelada no congelador, deu um passo inteligente — isso ajuda a manter a temperatura baixa por mais tempo.
O frigorífico: quatro horas decisivas
Já o frigorífico é um caso mais delicado. Quatro horas sem eletricidade — é este o limite. Após esse tempo, a comida começa a entrar numa zona de risco. Carnes, peixe, leite, ovos, vegetais frescos e fruta cortada: se passaram esse período sem refrigeração, a recomendação é clara e firme — devem ser deitados fora.
É duro, sim. Mas pense na saúde da sua família. Intoxicações alimentares podem trazer consequências sérias e, muitas vezes, silenciosas. E não, experimentar para “ver se ainda sabe bem” não é uma boa ideia. A regra de ouro é: na dúvida, deite fora.
O que não fazer durante um apagão
Pode parecer contraintuitivo, mas o maior erro que se pode cometer nestas horas é abrir a porta do frigorífico ou do congelador. Cada vez que o faz, permite a entrada de ar quente e acelera o descongelamento.
Por mais curiosidade ou desespero que sinta, mantenha as portas bem fechadas até ter um plano de ação.
Estratégias para prolongar a vida dos alimentos
E se pudesse ganhar umas horas preciosas numa situação como esta? Eis algumas dicas simples, mas eficazes:
- Regule as temperaturas com antecedência: o frigorífico deve estar a cerca de 4 °C e o congelador a -18 °C.
- Tenha sempre gelo preparado (em sacos ou garrafas) no congelador — pode ser a diferença entre salvar ou perder alimentos.
- Tenha uma geleira térmica em casa, pronta a ser usada. Em caso de corte de energia prolongado, poderá transferir os alimentos mais sensíveis e colocar gelo dentro, ajudando a manter a frescura por mais tempo.
- Evite sobrecarregar o frigorífico. Um aparelho com boa circulação de ar interno conserva melhor a temperatura, mesmo durante uma falha de energia.
Preparar é proteger
Este apagão serviu de alerta. É fácil acharmos que estas situações são raras e pontuais, até ao momento em que nos batem à porta. Por isso, preparar-se é um ato de cuidado, não de alarmismo. Tal como temos um kit de primeiros socorros, também devemos ter um “kit de frescura” — com geleiras, blocos de gelo, termómetros alimentares e estratégias bem definidas para saber como agir.
Em resumo:
- Frigorífico fechado: até 4 horas de segurança.
- Congelador fechado e cheio: até 48 horas de segurança.
- Alimentos com alterações de cheiro, cor ou textura: descartar.
- Nunca prove “só para ver” — pode ser perigoso.
- Invista em prevenção inteligente e minimize perdas futuras.
Quando a luz se apaga, acende-se a urgência de proteger o que temos. E numa altura em que tudo custa — do tempo à comida, do dinheiro à saúde — cada medida conta. Que este episódio sirva de lição, não de lamento. Porque o verdadeiro apagão não é o da eletricidade — é o da informação.
Stock images by Depositphotos