A partir de 1 de janeiro, Espanha entra definitivamente numa nova era da segurança rodoviária. A clássica imagem do condutor parado na berma, a caminhar com um triângulo na mão em plena autoestrada, passa a fazer parte do passado. No seu lugar surge a baliza V-16, um pequeno dispositivo luminoso que promete fazer uma grande diferença — e que já está a gerar dúvidas, curiosidade e polémica, sobretudo entre quem circula entre Portugal e Espanha.
Mas afinal, o que muda mesmo? Quem é obrigado a usar este novo sistema? E porque é que esta decisão está a ser vista como um marco histórico na segurança rodoviária europeia?
Um gesto banal que custou demasiadas vidas
Durante décadas, colocar o triângulo de sinalização foi um gesto automático, quase mecânico. No entanto, os números revelaram uma realidade inquietante: centenas de condutores foram atropelados enquanto tentavam sinalizar uma avaria ou acidente.
Segundo dados analisados pela Direção-Geral de Trânsito (DGT) espanhola, uma parte significativa dos atropelamentos mortais em vias rápidas ocorreu precisamente nesse momento crítico — quando o condutor sai do veículo, muitas vezes em zonas de fraca visibilidade, com tráfego intenso e sem qualquer proteção. A pergunta tornou-se inevitável: faz sentido obrigar alguém a sair do carro para se proteger?
A resposta foi clara. Não.

Baliza V-16: pequena, luminosa e ligada ao Estado
A baliza V-16, também conhecida como Help Flash, é um dispositivo luminoso intermitente que pode ser colocado no tejadilho do automóvel sem sair do veículo. Basta abrir a janela, posicionar a baliza e ativá-la.
Mas o verdadeiro salto tecnológico vai muito além da luz.
Os modelos homologados estão ligados diretamente aos sistemas da DGT, permitindo:
- Alertar automaticamente as autoridades
- Informar outros condutores em tempo real
- Integrar a sinalização em aplicações de navegação
- Ativar painéis informativos nas estradas
Tudo isto acontece em segundos, sem chamadas, sem formulários, sem risco físico. É a tecnologia ao serviço da vida.
Visível a um quilómetro, invisível ao perigo
A luz intermitente da baliza V-16 pode ser vista até 1.000 metros de distância, mesmo em condições adversas como nevoeiro, chuva intensa ou noite cerrada. Ao contrário do triângulo, que depende da correta colocação e da atenção dos outros condutores, a baliza cria um alerta imediato e dinâmico, reduzindo o risco de colisões secundárias — aquelas que acontecem após uma primeira avaria e que tantas vezes agravam tragédias.
Triângulos proibidos? Não. Mas tornaram-se obsoletos
Apesar da mudança, o triângulo não passa a ser ilegal em Espanha. O próprio diretor da DGT, Pere Navarro, foi claro: quem quiser sair do carro e colocar o triângulo, pode fazê-lo.
Mas a questão já não é legal. É prática. É segurança. É bom senso.
Num país onde o novo dispositivo é mais eficaz, mais seguro e mais rápido, o triângulo tornou-se um símbolo de um tempo ultrapassado.
Veículos estrangeiros: o que muda para os portugueses?
Aqui surge uma das dúvidas mais frequentes.
- Condutores com matrícula portuguesa não são obrigados a ter baliza V-16 em Espanha.
- O triângulo continua a ser aceite e válido.
Isto acontece porque se trata de uma regra nacional espanhola, que não pode ser imposta a veículos matriculados noutros países.
Da mesma forma:
- Em Portugal, o triângulo continua a ser obrigatório
- A baliza V-16 pode ser usada, mas não substitui o triângulo
- Veículos espanhóis em Portugal podem circular apenas com V-16, mesmo sem ligação ativa aos sistemas espanhóis
É um equilíbrio delicado entre legislação nacional e convenções internacionais.
A Convenção de Viena e o princípio da equivalência
A Convenção de Viena sobre Tráfego Rodoviário estabelece que cada país pode aceitar dispositivos de sinalização equivalentes aos exigidos, desde que sejam impostos pela legislação do país onde o veículo está matriculado.
É este princípio que permite a coexistência de regras diferentes sem criar um caos jurídico nas estradas europeias.
No entanto, a tendência é clara: a segurança ativa está a substituir a sinalização passiva.
Atenção às falsas balizas: nem todas são legais
Um alerta importante: nem todas as luzes intermitentes vendidas como “V-16” cumprem os requisitos legais espanhóis.
A partir de 2026, só serão válidos dispositivos homologados e conectados, capazes de comunicar automaticamente com a DGT. Comprar modelos não certificados pode resultar em multas e, pior ainda, em falhas graves numa situação de emergência.
Mesmo para quem não é obrigado a usar, é essencial perceber que segurança não é estética, é funcionalidade real.
Uma mudança que pode contagiar a Europa
Espanha foi pioneira, refere o Notícias ao Minuto, mas não está sozinha. Vários países europeus acompanham de perto os resultados desta medida.
Se os dados confirmarem uma redução significativa de atropelamentos e acidentes secundários, a baliza V-16 poderá tornar-se o novo padrão europeu nos próximos anos.
A história da segurança rodoviária mostra que muitas das grandes mudanças começaram assim: discretas, técnicas, mas com impacto profundo.
Quando a informação faz a diferença entre um susto e uma tragédia
Mais do que uma nova regra, esta mudança representa uma nova mentalidade: a vida do condutor vem primeiro.
Conhecer estas alterações antes de entrar na estrada não é apenas uma questão de cumprir a lei. É uma forma concreta de viajar com mais consciência, mais preparação e mais segurança.
Porque, no fim, uma simples luz intermitente pode ser a diferença entre chegar a casa… ou nunca lá chegar.
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