Os Açores, um arquipélago de rara beleza e importância histórica, têm vindo a ser alvo de discussões fascinantes sobre o seu passado. Diversas descobertas arqueológicas em várias ilhas do arquipélago estão a gerar polémica, sugerindo a presença humana muito anterior à chegada oficial dos portugueses, em 1427. Estas evidências, que vão desde estruturas em pedra até objetos encontrados em escavações, têm levado investigadores a questionar e reavaliar a história conhecida das ilhas e até da navegação no Atlântico.
Embora o estudo destes vestígios ainda esteja em andamento e careça de conclusões definitivas, o debate está lançado, despertando a curiosidade de arqueólogos, historiadores e entusiastas. Afinal, se estas descobertas forem confirmadas, significará que povos como os celtas, fenícios, cartagineses ou romanos poderão ter passado por aqui muito antes, possivelmente aproveitando a chamada “volta do Atlântico” – a rota marítima obrigatória para o Mediterrâneo e o Norte da Europa, influenciada pelos ventos dominantes de nordeste.
Caso se prove a origem pré-portuguesa destes achados arqueológicos, a história do arquipélago e da navegação atlântica terá de ser reescrita. Neste artigo, destacamos oito das evidências mais intrigantes que apontam para a possível habitação ou passagem de civilizações antigas pelos Açores.

1. Estrutura geológica das Lages (Ilha Terceira)
Na ilha Terceira, encontra-se a suposta necrópole das Lages, uma estrutura impressionante escavada em tufo vulcânico. Medindo sete metros de altura, possui um teto semelhante a uma abóbada romana e 178 nichos organizados em sete níveis, formando um padrão semicircular.
As semelhanças desta construção com columbários romanos, como o de Castle Boulevard, datado de há 3.000 anos, são notáveis. Estruturas semelhantes foram também identificadas no Vale do Elá e em Beit Lehi, ambas na região do Mediterrâneo, reforçando a hipótese de uma origem antiga e possivelmente romana para esta construção.

2. Coluna romana em Angra do Heroísmo
Nas proximidades da Grota do Medo, a norte de Angra do Heroísmo, foi encontrada uma base de pedra que, segundo o investigador espanhol António Colmenero, contém uma inscrição atribuída à época romana. Esta coluna faz referência ao imperador Marco Opelio Macrino, nascido na Mauritânia. A descoberta levanta questões sobre possíveis contactos entre os romanos e estas ilhas remotas.

3. Construções megalíticas na Grota do Medo (Terceira)
Ainda na zona da Grota do Medo, há um conjunto de construções megalíticas, incluindo antas, restos de torres e outros vestígios arqueológicos. Uma amostra de matéria orgânica recolhida de uma pia escavada na rocha foi datada por um laboratório americano em 950 anos, levantando novas questões sobre a ocupação pré-portuguesa da ilha.

4. Templos no Monte Brasil (Terceira)
O Monte Brasil é outro local repleto de mistérios. As cisternas ali encontradas podem ser hipogeus ou templos semelhantes aos construídos pela civilização fenício-púnica no Mediterrâneo, há mais de 2.000 anos. Entre os elementos identificados, destacam-se altares, pias, cadeiras escavadas na rocha e buracos que sustentavam postes, sugerindo coberturas leves. Estes templos podem ter sido dedicados à deusa Tanit, associada ao culto da água.

5. Genes dos ratos e a presença Viking
Estudos genéticos realizados em ratos domésticos encontrados nos Açores revelaram algo surpreendente: os seus genes são mais semelhantes aos de ratos da Suécia, Dinamarca, Noruega e Islândia do que aos de Portugal. Esta descoberta sugere que navegadores nórdicos – como os vikings – poderão ter passado por estas ilhas muito antes dos portugueses.

6. Estátua da Ilha do Corvo
No século XV, aquando do reconhecimento da ilha do Corvo, foi descoberta uma estátua de pedra representando um cavaleiro a cavalo. Durante o reinado de D. Manuel, partes da estátua foram enviadas para o soberano, mas os fragmentos acabaram por se perder. O local onde a estátua foi encontrada ainda é conhecido como “promontório do Marco”, em alusão à sua importância histórica.

7. Pirâmides misteriosas da Ilha do Pico
Na ilha do Pico, encontram-se várias estruturas piramidais concentradas numa área de 6 km², na zona da Madalena. Durante escavações, foram encontrados anzóis, ferramentas de basalto, conchas e fragmentos de cerâmica, sugerindo atividade humana antiga. A função destas pirâmides continua a ser alvo de debate, mas a sua disposição e localização estratégica apontam para uma construção intencional e possivelmente ritualística.

8. Relheiras de Cabrito (Terceira)
Trilhos esculpidos na pedra, conhecidos como relheiras, são visíveis em várias partes da Terceira, explica a VortexMag. Estudos indicam que estas relheiras foram cobertas por piroclastos de uma erupção vulcânica ocorrida há mais de mil anos, tornando-as muito anteriores à chegada dos portugueses. A sua origem e propósito continuam a intrigar investigadores.
Conclusão
As evidências acumuladas sugerem que os Açores têm uma história muito mais rica e complexa do que se acreditava anteriormente. Cada novo achado arqueológico lança mais luz sobre a possibilidade de contacto humano com estas ilhas antes do século XV.
Se estas teorias se confirmarem, a narrativa histórica sobre os Açores, a descoberta do arquipélago e as rotas de navegação atlântica terão de ser revistas. Independentemente das conclusões finais, estas descobertas destacam a importância de continuar a explorar o passado das ilhas e preservar os seus tesouros arqueológicos.