Desde tempos imemoriais, o Palácio de Mateus tem encantado os visitantes com a sua beleza singular e a sua arquitetura imponente, erguida com esmero entre vinhas e jardins que se estendem pelas encostas do Douro. Contudo, para além do seu esplendor, existem histórias que envolvem o palácio numa aura de mistério e tragédia, marcadas por fantasmas e lendas que assombram a memória dos seus antigos proprietários. Conta-se que uma maldição paira sobre os seus corredores, onde o eco dos lamentos e das perdas reverbera a cada entardecer, deixando uma marca profunda na história desta quinta centenária.

As raízes de um legado amaldiçoado
A origem desta suposta maldição remonta à época em que o palácio era habitado por uma família nobre, cujas ambições e paixões foram, ao longo dos anos, salpicadas por tragédias inesperadas.
Segundo relatos antigos, alguns membros da linhagem teriam desafiado os desígnios do destino, causando rixas e inimizades que teriam desferido uma sentença sombria sobre as gerações futuras.
A lenda conta que, numa noite de tempestade, um juramento foi profanado, selando o destino da família com a promessa de que nenhum gesto de felicidade duraria sem ser entrecortado por um infortúnio.
O Palácio que vive de memórias
Passeando pelos salões e corredores do Palácio de Mateus, é possível quase ouvir passos silenciosos e sentir o peso do tempo. Testemunhos de antigos criados e moradores afirmam que, nas horas em que a luz do sol se esvai, sombras inexplicáveis surgem entre as paredes de pedra, como se espíritos atormentados ainda vagueassem por ali, relembrando as dores e os segredos de outrora.
Há quem diga ter visto, através das janelas empoeiradas, figuras escuras que desapareciam ao primeiro olhar, deixando para trás uma sensação de desolação e pesar.
Um episódio que se destaca na memória popular ocorreu durante uma restauração dos espaços interiores do palácio, na década de 1990.
Segundo relatos de trabalhadores, enquanto procediam à limpeza de um dos antigos aposentos, estranhas vozes sussurravam palavras inaudíveis, e portas batiam sozinhas, num ritmo que lembrava passos apressados.
O medo e a perplexidade dominaram o ambiente, e os operários, em uníssono, decidiram abandonar o local, deixando o episódio como mais um capítulo da lenda que envolve a propriedade.

Tragédias familiares e o sopro do infortúnio
Os relatos de tragédias familiares não se limitam apenas aos sussurros dos fantasmas. A história do Palácio de Mateus está repleta de episódios de perdas irreparáveis: casamentos desfeitos, amores proibidos, disputas que culminaram em duelos e a morte súbita de alguns dos seus membros. Uma das histórias mais pungentes narra a de uma jovem herdeira, cuja vida foi ceifada de forma abrupta numa noite de inverno. Consta que, após uma discussão acalorada com o seu amado, ela foi vista a caminhar sozinha pelos jardins do palácio, onde, segundo testemunhas, uma brisa fria a envolveu num abraço gelado, levando-a para nunca mais voltar.
Este episódio, marcado pela dor e pela súbita partida, alimentou ainda mais as lendas sobre uma maldição que não poupava nem os corações mais puros.
O peso do destino e a busca por redenção
Apesar das histórias sombrias, há também uma dimensão de esperança e redenção na narrativa do Palácio de Mateus. Alguns membros da família, marcados pelas tragédias, teriam dedicado as suas vidas a tentar apaziguar os espíritos que, segundo a lenda, assombravam o local.
Rituais, orações e até mesmo a realização de missas solenes foram organizados na tentativa de quebrar o feitiço e trazer de volta a paz para os que lá residiam. Assim, o palácio passou a ser visto não só como um monumento de opulência e beleza, mas também como um santuário onde o passado e o presente se entrelaçavam, num constante diálogo entre a vida e a morte.
As lendas que envolvem o Palácio de Mateus foram, com o passar dos anos, transmitidas oralmente, ganhando contornos de mito e realidade. Durante visitas guiadas, especialistas relatam episódios e curiosidades, convidando os visitantes a refletirem sobre o peso das escolhas e a impermanência da existência humana.
A maldição, real ou imaginária, tornou-se um símbolo dos erros e dos infortúnios que a ambição pode trazer, servindo de alerta para aqueles que se atrevem a desafiar o destino.
Um património de beleza e mistério
Hoje, o Palácio de Mateus continua a fascinar tanto os amantes da história como os adeptos do paranormal. A sua arquitetura imponente, os jardins meticulosamente cuidados e os interiores repletos de história são o cenário perfeito para que se revivam momentos de glória e de dor.
Para os visitantes, o palácio é uma experiência que vai além do simples deslumbramento estético; é uma viagem ao coração de uma tradição repleta de segredos e lendas que, de alguma forma, ainda ecoam pelos corredores do tempo.
Cada pedra, cada sala, parece guardar a memória de um passado conturbado, onde a felicidade era sempre seguida por momentos de profunda tristeza. E assim, entre a beleza sublime e os ecos do infortúnio, o Palácio de Mateus permanece como um testemunho de uma história rica e multifacetada, onde o amor, a dor e a esperança se entrelaçam num destino marcado por uma maldição que desafia o tempo.
Conclusão
A maldição do Palácio de Mateus é uma narrativa que desperta a imaginação e convida a uma reflexão profunda sobre o caráter efémero da vida e os mistérios que o destino reserva.
Entre fantasmas e tragédias familiares, o palácio revela-se como um monumento vivo, que continua a emocionar e a surpreender, mantendo viva a memória de uma época em que o amor e a ambição se misturavam num turbilhão de sentimentos contraditórios.
Cada visita torna-se, assim, uma oportunidade de contacto com a história e de partilha de uma herança que, apesar de dolorosa, enriquece a alma e deixa uma marca indelével no coração de todos que se deixam envolver pelo seu encanto.
Fontes
Diário de Notícias, 1998
Revista História Viva 2003
RTP – Reportagem “Lendas do Mateus”, 2019