Os portugueses devem ficar a saber mais sobre a aldeia submersa no Gerês que se tornou numa atração imperdível.
Há muitos segredos escondidos debaixo de água. Há algo de fascinante em descobrir parte da história escondida debaixo de água. O Titanic afundou e o encontro com os seus destroços foi emocionante. Há naus e caravelas de outros tempos debaixo do mar. Até há aviões. São atrações que guardam muitos segredos, muita informação, alguns até podem guardar tesouros!…
A água pode revelar-se poderosa e engolir uma aldeia inteira! Em Portugal, há uma aldeia que ficou submersa devido à construção de uma barragem. Esta aldeia tem história e não merece ser esquecida!… Os portugueses devem ficar a saber mais sobre a aldeia submersa que se tornou numa atração imperdível.
A história da milenar aldeia submersa no Gerês
Localização
Vilarinho da Furna é uma atração singular presente no norte de Portugal. Esta pequena aldeia encontra-se em pleno coração minhoto. Curiosamente, Vilarinho da Furna não é fácil de descobrir, pois encontra-se submersa. Esta aldeia está encrostada entre as serras do Gerês e da Amarela, num espaço territorial que se situa no concelho de Terras de Bouro.
O momento
Vilarinho da Furna é uma aldeia que se encontra submersa nas águas do rio Homem, desde 1971.
História
Não é fácil descobrir a origem de Vilarinho da Furna, devido à falta de documentação histórica que possa dar informações seguras e precisas. Segundo alguns estudos realizados, é possível apontar uma origem provável.
Desta forma, a origem deste antigo aldeamento pode remontar até ao ano de 75 d.C., data que assinala o momento da construção da estrada Geira.
A Via XVIII
Esta via tem muita história. A estrada Geira é conhecida como Via Nova ou Via XVIII do Itinerário de Antonino. Esta estrada romana é considerada uma das estradas romanas mais bem conservadas da Península Ibérica.
Os marcos
Esta estrada conta com o maior número de miliários (281) remanescentes. Os marcos miliários visavam marcar as vias romanas.
Eles eram colocados ao longo das estradas indicando as milhas percorridas, isto é, eles indicavam os 1000 passos que os separavam entre si (cada milha corresponde a 1480 metros, sensivelmente). Os miliários apresentavam uma forma cilíndrica e podiam ser epigrafados; ter informação relevante.
Ligação
A Via XVIII ligava duas importantes cidades do noroeste da Ibéria. São elas: Bracara Augusta (que se encontrava no território que pertence à atual cidade de Braga, em Portugal) e Astúrica Augusta, antiga capital da província da Galécia, que se situava na
atual cidade Astorga, que se encontra em Espanha, antiga capital do convento asturicense. Este era um percurso de CCXV milhas (são 318 quilómetros, aproximadamente).
Esta via foi construída pelos romanos, quando estes dominavam a Península Ibérica. A intenção dos romanos era unir a cidade de Braga (Portugal) a Astorga (Espanha). Atualmente, o percurso pode ser feito pelos peregrinos do Caminho de Santiago.
Desconhecimento
É impossível identificar com rigor o ano da edificação dos primeiros traços de Vilarinho da Furna. No entanto, existem provas da passagem dos romanos e da sua instalação pela região. Os romanos construíram a via Geira. Além disso, também arquitetaram a construção de três pontes nas imediações.
O início do fim
Muito tempo após os romanos, Vilarinho da Furna foi terra de cerca de 300 habitantes portugueses. Foi no século passado que o curso da história do Vilarinho da Furna terminou.
A multinacional Energias de Portugal (EDP) decidiu construir uma central hidroelétrica de 125 MW. Foi devido à construção da barragem, que os habitantes da aldeia perderam a maioria do seu património. Ele ficou escondido nas águas do rio Homem.
Visibilidade
No entanto, os vestígios da aldeia de Vilarinho da Furna não desapareceram por completo. Neste recanto perdido no mapa, que se encontra praticamente isolado, ainda é possível observar algumas das ruínas de casas que outrora integraram Vilarinho da Furna.
São parte das impressões deixadas pela antiga população desta aldeia. Só é visível em períodos de seca, quando o nível das águas do rio desce. Também pode ser visível quando a atual barragem liberta água para efetuar a limpeza do espaço.
Características
Vilarinho da Furna foi outrora decorada com construções de dois pisos. As habitações desta antiga aldeia apresentavam o piso térreo e o andar superior. O primeiro era destinado a guardar o gado e as máquinas agrícolas, enquanto o outro servia de habitação.
Espírito comunitário
Vilarinho da Furna era conhecida pelo regime comunitário. Este encontrava-se instaurado na antiga aldeia. O povo local funcionava autonomamente, independente da legislação geral ou nacional.
No passado, a elaboração das normas a seguir por determinadas povoações era realizada por uma junta. Esta junta era constituída por 6 elementos e era dirigida por um zelador. A junta era composta pelos chefes de família eleitos, do sexo masculino.
Contudo, as mulheres poderiam ter uma participação ativa no sistema de gestão, especialmente se estas mulheres fossem viúvas ou se o marido estivesse emigrado.
Modo de vida
As pessoas da aldeia asseguravam o seu sustento. Ele era colhido diretamente da terra e era complementado com a pecuária. As terras aráveis eram escassas em Vilarinho da Furna e as zonas de pastagens encontravam-se distribuídas pelos topos das colinas.
Devido a estes fatores, as pequenas habitações de Vilarinho da Furna foram sendo construídas à beira-rio.
Indemnização reduzida
No ano de 1970, após ter sido realizada a venda do local, existiam cerca de 57 famílias de Vilarinho da Furna para realojar. A indemnização que foi atribuída pela EDP aos antigos moradores revelou-se muito baixa.
Por via disso, a população da antiga aldeia levou todos os pertences até as telhas das casas, só foi deixado para trás o que era inevitável, nomeadamente as paredes, que eram feitas de pedra. Elementos que, outrora, ajudaram a proteger o lar destas pessoas, tornaram-se lar de peixinhos.
História engolida
Foi no ano de 1972, foram explodidos os muros que continham as águas do rio. Num ápice, a água engoliu Vilarinho da Furna e toda a sua história. Por ironia, foi devido à construção da barragem e à subsequente inundação da aldeia, que a história de Vilarinho da Furna conseguiu resistir ao tempo.
Desde então até à atualidade, o fascínio pelas ruínas fantasmagóricas de Vilarinho da Furna permanece. Ele continua a ser alimentado e divulgado por quem explora este território…
Amizades
Vilarinho da Furna ficou submersa nas águas límpidas do Gerês. No entanto, os antigos habitantes da aldeia não perderam o contacto entre si. Estas pessoas foram as responsáveis pela criação de uma associação designada de A Furna, que foi criada em 1985.
Esta associação foi criada com o objetivo de preservar o que restou da antiga aldeia comunitária. Foi devido a esta iniciativa que foram fundados espaços que são atualmente atrações interessantes, como o Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna, o Museu Subaquático de Vilarinho da Furna e o Parque de Merendas de Vilarinho da Furna.
Atualidade
Mais de quarenta anos depois, o lugar ainda pode ser visitado. O acesso deve ser feito a pé, durante pouco mais de um quilómetro, sendo realizado sobre terra batida.
As pessoas que visitam o local deixam os relatos de uma experiência singular. A paisagem é única e adjetivada de forma positiva, sendo “de cortar a respiração”. A beleza natural é deslumbrante.
Na estação mais quente, podem avistar-se famílias reunidas no local a aproveitar os dias de maior calor. Estas pessoas descansam nas águas da albufeira criada pela barragem.
Experiência
Estas pessoas nadam por cima de ruínas milenares, cheias de história, de memórias. Todo o circuito encontra-se aberto ao público. Este local continua a ser um ponto de interesse. Há quem defenda que Vilarinho da Furna é um local de paragem obrigatória para quem visita o Gerês. Este local é gerido e vigiado pelos ancestrais residentes.
Custo
A entrada neste local é cobrada. Tem o custo de 3 euros, dependendo da época do ano. O valor concedido é por uma boa causa, uma vez que o dinheiro concedido reverte a favor dos antigos habitantes de Vilarinho da Furna.
Os sentinelas, devido à construção da barragem, perderam os vestígios do berço para o rio. Parte das suas memórias encontra-se submersa. As suas recordações sobre a sua infância, sobre a sua vida familiar, sobre as suas amizades ficaram perdidas, escondidas pela água, submersas.