A descoberta e recuperação da espada do Rei D. Dinis é um acontecimento histórico que suscita fascínio e admiração. Conheça os detalhes deste feito! Noutros tempos, uma boa espada nas mãos certas podia fazer a diferença entre o fim de um reino ou o início de outro. Esta arma chegou a ter uma grande importância. Estando bem afiada e com o peso adequado, uma espada podia ser eficaz para quem a empunhava.
Um rei tinha de ter uma espada de qualidade, porque com ela poderia salvar a sua própria vida ou o reino. O brandir de uma espada podia ter essa fatalidade. Portugal teve reis com boas espadas. Uma delas esteve envolvida num mistério.
A espada do Rei D. Dinis foi finalmente descoberta e recuperada
O desejo
O rei D. Dinis expressou em testamento o seu desejo. Pouco antes de morrer, o monarca expressou a vontade de ser sepultado no Mosteiro de Odivelas. Desta forma, não queria que os seus restos mortais ficassem em Alcobaça, lugar de repouso de outros reis que o antecederam. D. Dinis foi o primeiro a ser sepultado numa igreja, numa última tentativa de afirmar o poder da coroa.
O Mosteiro de Odivelas foi um projeto que o monarca apadrinhou desde a sua fundação. Por isso, é nesse edifício que D. Dinis ainda repousa. No entanto, o Mosteiro ficou destruído significativamente, após o terramoto de 1755.
Entre 1900 e 2015, este edifício funcionou como um espaço do Instituto de Odivelas. No ano seguinte, em 2016, o DGPC iniciou uma campanha de intervenção para a sua conservação e restauro.
Os mistérios
Os restos mortais do “Rei Lavrador” encontram-se presentes numa magnífica sepultura, situada sob arcadas góticas, que os diversos restauros realizados deixaram marcas. A cabeça da estátua ficou demasiado grande e a espada chegou a desaparecer.
Muitas das figuras presentes na obra foram restauradas com argamassa ou desapareceram por completo. Os anos não foram meigos para o rei e os restauros de má qualidade realizados não geraram resultados simpáticos. O que terá acontecido à espada? Há cerca de sete séculos que esta espada estava dada como desaparecida.
A descoberta
Os trabalhos de conservação do túmulo de D. Dinis começaram em 2016. Nesse ano, foram identificados os materiais ali presentes, tendo ainda sido apuradas as técnicas a usar.
Através da introdução de um endoscópio, restos osteológicos humanos e restos de tecido foram identificados. Encontravam-se misturados com materiais procedentes de obras contemporâneas, nomeadamente entulho, cimento, folhas e madeira. Esta sonda permitiu revelar que era possível abrir o túmulo do monarca sem danificar o seu conteúdo.
Medidas a tomar
Através da inspeção radiográfica feita na sequência de uma intervenção de conservação e restauro do túmulo descobriu-se esse elemento em 2020, o que resultou numa grande surpresa para os especialistas.
A DGPC explicou no seu site que primeiro foi realizada uma “inspeção radiográfica”. Nessa fase dos trabalhos, foi identificada uma espada “que apesar de ter a ponteira destacada, se encontrava em relativamente bom estado de conservação”.
Por isso, os técnicos responsáveis pelo restauro a realizar tiveram então de equacionar os diversos cenários possíveis, “relativamente à permanência ou ao levantamento da espada”.
Investimento
O projeto de conservação e restauro da arca tumular e do estudo aos restos mortais do monarca foi inédito em Portugal. Este projeto foi promovido pela autarquia de Odivelas com a supervisão da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC). Foi necessário realizar um investimento municipal que superou a maquia dos 215 mil euros.
Finalidade
O objetivo estabelecido é o de estudar os diversos aspetos associados à vida do Rei, seja a fisionomia, a estatura ou as patologias de que este padecia, bem como a morte, permitindo saber-se mais sobre o processo de sepultamento escolhido, as vestes reais, entre outros detalhes interessantes acerca desta pessoa que se tornou num dos monarcas portugueses mais relevantes da nossa história.
As testemunhas
A arqueóloga Maria Antónia Amaral dirigiu uma equipa que desenterrou, por fim, a espada que se encontrava “desaparecida”. Na verdade, apenas se encontrava escondida por panos e roupas do Rei.
Os trabalhos de restauro no túmulo começaram em maio de 2019. No entanto, foi só um ano depois que a espada do rei foi descoberta, através da inspeção radiográfica.
A espada foi finalmente desenterrada na segunda-feira, dia 24 de outubro de 2022, numa operação realizada por técnicos de arqueologia e restauro, com todos os cuidados. O histórico momento da recuperação da espada foi realizado frente a testemunhas ilustres, nomeadamente pelas funções que assumiam.
Entre outras pessoas que testemunharam o momento no Mosteiro de Odivelas encontravam-se Isabel Cordeiro (pela secretária de Estado da cultura), Hugo Martins (pelo presidente da Câmara Municipal de Odivelas), Edgar Valles (pelo vereador da cultura), João Santos, diretor-geral e Rita Jerónimo, subdiretora-geral da DGPC.
Reações
A arqueóloga Maria Antónia Amaral, que foi coordenadora do projeto Estudo D. Dinis e diretora do Castelo de São Jorge, esteve presente no local. A especialista explicou: “Nós não sabíamos como íamos encontrar esta espada que se encontrava do lado direito do rei e estava escondida pelos panejamentos”, tendo defendido que se trata de “uma espada rara em todo o mundo”.
A arqueóloga acrescentou pormenores relevantes sobre a arma que o Rei empunhava, “era uma espada de aparato. Digamos que não era uma espada que o rei levasse para a guerra, uma vez que está cheia de decoração e tem um peso muito grande na parte do punho».
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A espada
O túmulo onde o rei se encontra está datado de 1325. Este túmulo já tinha sido anteriormente aberto, nomeadamente em 1938. Contudo, nessa época, os investigadores não se aperceberam da presença da espada, mas ela estava no túmulo do sexto rei de Portugal desde a sua morte.
Como há poucos exemplares europeus de espadas régias, esta peça apresenta um valor excecional, seja em termos da história de arte, da história, da arqueologia e do restauro. Esta espada é feita de ferro. Ela apresenta um punho de prata com aplicações em esmalte de várias cores.
A arma tem uma bainha de madeira que poderá encontrar-se revestida por couro. O artefacto terá ainda de ser alvo de conservação e estudo de uma equipa especializada para essas funções.