Fique a conhecer a época histórica em que aconteceu a épica Batalha de Alcácer-Quibir (ou a Batalha dos três Reis), no ano de 1578.
A história de Portugal é fascinante. Ao longo dos seus quase 900 anos, muitos foram os acontecimentos marcantes que entraram para a nossa história.
A Era dos Descobrimentos revela-se uma época mágica, de conquistas e de prosperidade. No entanto, houve muitos outros acontecimentos de grande relevância. Muitos encheram os portugueses de orgulho, outros colocaram em perigo a existência de Portugal.
São quase 9 séculos inteiros de existência. Muitos desses anos revelaram-se memoráveis, por boas e por más razões. Fique a conhecer mais sobre o ano de 1578, época histórica em que aconteceu a épica Batalha de Alcácer-Quibir.
A Batalha de Alcácer-Quibir (ou a Batalha dos três Reis) em 1578
O contexto
Os portugueses ousaram explorar mares nunca dantes navegados. Há 600 anos tiveram a coragem de fazer o que ainda ninguém tinha feito. Enfrentaram o desconhecido e foram ao encontro de outras terras e contactaram com povos que os europeus ignoravam.
A ambição desmedida dos portugueses estava ligada à determinação em encontrar novas rotas do comércio que pudessem trazer riquezas, conhecimento, prosperidade para o reino português.
D. Sebastião (1554-1578)
D. Sebastião nasceu em Lisboa, na capital portuguesa, mais precisamente no dia 20 de janeiro de 1554. O filho de D. João Manuel (Príncipe de Portugal) e de D. Joana de Áustria, (Princesa de Portugal) ficou conhecido pelo cognome de “O Desejado”.
Ele era muito novo quando subiu ao trono, por isso D. Sebastião teve de aguardar pelo momento certo para assumir a coroa. Durante esse tempo, até 1568, coube ao seu tio-avô a função de gerir os destinos da nação. D. Henrique só assumiu a regência do país até D. Sebastião ter idade suficiente para assumir a coroa.
Infelizmente para o país, após assumir o trono, D. Sebastião arriscou a vida sem assegurar a continuidade do reino. D. Sebastião era bastante novo. Ainda não tinha casado, nem tinha descendência quando arriscou a vida numa batalha que não traria grandes benefícios para o reino português. A sua morte prematura na Batalha de Alcácer-Quibir, em 1578, trouxe sim grandes perdas para Portugal…
A chegada
O jovem rei português era inexperiente e insensato, por isso tomou decisões que se revelaram catastróficas para Portugal. D. Sebastião encontrou-se com Muley Mahamet após desembarcar em Tânger.
Ele recusou a proposta de Muley Moluco de lhe entregar alguns portos em troca de paz. Este homem tinha o plano de cercar o porto de Larache com parte da armada. Já o Rei pretendia liderar a conquista de Alcácer-Quibir, espaço territorial que se localizava a sudeste de Larache.
Contratempos
O rei português teve de enfrentar diversos contratempos e não chegou a alcançar Alcácer-Quibir. O exército foi confrontado logo nas imediações da cidade. D. Sebastião liderava um grupo de soldados que apresentavam riqueza e andavam bem vestidos.
A ‘Crónica do Xarife Mulei Mahamet e d’El-Rei D. Sebastião. 1573-1578’ refere que os homens de D. Sebastião apresentavam trajes curtos e de cores. Eles estavam cheios de botões, repletos de medalhas e de plumas, apresentando ainda colares de ouro, deslocando-se em cavalos bem selados.
O poderio português
Segundo esse documento, ‘Crónica do Xarife Mulei Mahamet e d’El-Rei D. Sebastião. 1573-1578’, o rei português contava com 75 embarcações, existindo ainda alguns galeões e naus grossas, além de contar com o apoio de algumas embarcações estrangeiras, que apresentavam boa artilharia de bronze. Contavam com 17 navios de remos, cinco deles galés, três bergantins e seis navios.
O poderio do inimigo
Mulei Mahamet encontrava-se do lado inimigo, apresentando um poderio distinto. Este homem liderava um poderio onde se destacavam 10 mil cavalos que cercavam a cidade de Alcácer-Quibir.
O sultão de Marrocos apresentava um maior poderio que D. Sebastião. Ele reuniu um exército bem mais extenso do que o português. Os marroquinos apresentavam outra vantagem: um conhecimento aprofundado sobre o terreno onde se daria o confronto com os portugueses.
Assim, o sultão de Marrocos pode fazer uma jogada estratégica, tendo decidido usar apenas parte do seu exército, optando por deixar de fora parte da sua artilharia.
Estratégia portuguesa
D. Sebastião encontrava-se do outro lado do campo, tendo decidido colocar a sua infantaria disposta em quadrado. No entanto, quando iniciou a marcha, o monarca deparou-se com a artilharia moura.
Por isso, os soldados de D. Sebastião foram atacados pela retaguarda, um momento que gerou caos no exército português. Apesar de ter sido surpreendida, os soldados de D. Sebastião conseguiram travar a investida da infantaria moura. A cavalaria portuguesa lidou bem com esse contratempo e conseguiu investir contra o inimigo mouro, afastando-o.
Aparência
Aparentemente, esse momento representava o início de uma vitória para os cristãos. No entanto, tudo não passou de uma ilusão. D. Sebastião foi ingénuo e perdeu na batalha de xadrez com o sultão de Marrocos.
A infantaria moura era experiente, encontrava-se muito bem treinada e usou bem os conhecimentos que tinha sobre o terreno. Os soldados mouros conseguiram reagrupar. Depois, voltou a atacar os portugueses com mais poder, contando já com a ajuda do exército que estava escondido, fora da batalha.
Nesse momento, os mouros contavam ainda com a ajuda dos arcabuzes (o arcabuz consiste numa antiga arma de fogo portátil, que pode ser vista como uma espécie de bacamarte. Nas crónicas portuguesas do século XVI, era vulgarmente chamada de espingarda).
Perante este contexto, o exército português viu-se forçado a entrar em debandada, o que contribuiu para que os soldados se tornassem numa presa fácil para o seu inimigo.
O rei a caminho da batalha
D. Sebastião tinha o objetivo de enfrentar o Xarife Moluco, pessoalmente. Não tinha propriamente a meta de conquistar Larache. Por isso, o monarca reuniu-se com o conselho logo pela manhã. Nesse momento, teve a oportunidade de expor a sua vontade de iniciar a batalha.
O rei português refugiou-se na sua tenda, onde esteve reunido com o Conde de Vidigueira, pessoa com a qual o monarca tinha enorme confiança e, após discutirem os últimos pontos, tomaram a decisão e fizeram o exército levantar tenda e partir.
As formações
Muitos historiadores revelam a mesma visão desse dia da batalha. A descrição feita da formação do exército é semelhante. Luís Sousa defende a mesma posição dos cronistas. A formação do exército terá sido a mesma que em Arzila. Os especialistas partilham da mesma opinião.
Na frente da coluna de marcha, ia Diogo Lopes da Franca, como explorador. Diogo ia a comandar a coluna e a levar a coluna em direção ao campo inimigo, quando viu as tropas inimigas à sua frente, que também se encontravam em coluna de marcha. Por isso, as tropas já se encontravam a pouca distância uma da outra.
O aproveitamento do terreno
Os mouros conheciam o território de forma aprofundada, por isso aproveitavam as irregularidades do terreno a seu favor, usando-as para esconderem as suas tropas. A artilharia ficou escondida no ponto mais alto da elevação, enquanto a infantaria se encontrava por trás.
Já as alas e os contingentes de cavalaria encontravam-se adelgaçados, alargando somente no final, de forma a conseguirem cercar a retaguarda cristã quando juntassem as pontas para poderem combater todos em simultâneo, combatendo por todos os lados.
Cercados
A cavalaria dos mouros surpreendeu os portugueses que os viram a surgir de repente do lado da colina que ocupava todo o campo de batalha. Os portugueses encontravam-se cercados pelos mouros, por todos os lados.
O rei português andou por todo o campo de batalha a dar ordens. Contudo, os cristãos foram surpreendidos pelo fogo da artilharia inimiga que se encontrava escondida por ramos.
Poder do fogo inimigo
Os disparos dos mouros surgiram antes que as tropas portuguesas pudessem reagir. Na primeira linha, estavam 3000 andaluzes e cerca de 3500 gazulas. Na frente, estavam 1000 arcabuzeiros montados. Na segunda linha do inimigo, estavam 2500 elches, além de 4000 azuagos e 1000 cavalos nas alas.
O plano de Abd al-Malik era ter os cristãos ao alcance da artilharia. Ele esperava que eles ficassem nessa posição. Os arcabuzeiros encontravam-se a cavalo quando investiram sobre os portugueses, sendo seguidos pelos arcabuzeiros andaluzes e gazulas. Desta forma, os cavalos tinham rodeado o campo cristão, fazendo o ataque à retaguarda inimiga.
Precipitação
O esquadrão de aventureiros revelou impaciência. Desejava atacar o exército inimigo, que estava presente à sua frente a alvejá-lo. Desta forma, eles Iniciaram o ataque.
Segundo a crónica, os traquejados mercenários que eram realmente muito bons na arte devem ter provocado um grande estrago no inimigo. Eles aproveitaram o momento para partir para cima do exército mouro, sendo depois seguidos pelos esquadrões da vanguarda.
O rei português encontrava-se à frente do batalhão de cavalos da ala esquerda, numa posição em que desconhecia se a ordem de atacar tinha chegado a D. Duarte, que se encontrava na ala direita. Por isso, D. Sebastião apreçou-se a atacar para apoiar os soldados.
Heróis
Nesse momento, os portugueses pareciam uns heróis invencíveis. Os mouros tinham passado para a segunda linha de apoio, percebendo que as descargas dos arcabuzes não conseguiam impedir o avanço dos inimigos portugueses.
Nessa etapa, decidiram formar assim em cunha, contra uma formatura linear. Os aventureiros estavam a atacar apoiados por uma carga de cavalos que era comandada por D. Sebastião. Eles colocaram o inimigo em fuga. O resto da vanguarda visou o fortalecimento deste movimento ofensivo. As 5 primeiras fileiras foram forçadas a andar encontrando-se sob a mira dos canhões inimigos.
O contra-ataque mouro
Abd al-Malik encontrava-se desgostoso pela dissipação dos seus soldados. Ele acabou por ceder à força dos cristãos. No entanto, a vanguarda foi retirada e desarticulada de uma forma natural.
Após o coronel dos aventureiros ter sido abatido, os outros oficiais ficaram tão desorientados que bateram em retirada. Eles abandonaram as cinco primeiras fileiras. Depois, o comando que se encontrava à frente foi isolado no centro do campo e depois ficou cercado pelo inimigo.
Após se terem apercebido da situação, alguns alcaides reuniram a guarda pessoal do xarife e fizeram o contra-ataque. Os restantes terços da vanguarda que seguia atrás dos aventureiros foram esmagados pelos mouros. Ficaram “prensados” pelo inimigo.
Desta forma, perdeu-se o controlo e foram avançando sobre os outros acabando por confundir a segunda linha do exército.
Derrota
Após a vanguarda ter sido derrotada (ou seja, o bloco A), os mouros concentraram a sua atenção sobre a segunda linha. Ela já se encontrava enfraquecida devido à retirada dos terços da sua frente.
Após a formatura ter ficado desfeita, o esquadrão de batalha que foi o bloco B dividiu-se em diversos blocos de soldados que tentaram resistir a todo o custo. Eles colocaram-se por detrás das “carretas convertidas”. Eles encontravam-se organizados em dois esquadrões que estavam fortalecidos pelos mosqueteiros. Os soldados (que eram comandados pelo oficial Francisco da Távora) estavam cansados. Eles tinham combatido sem descanso desde o começo da batalha.
Após a derrota das duas primeiras linhas do exército, a batalha só durou um pouco mais devido à presença de D. Sebastião. O rei português ainda foi animando os soldados que restavam. No entanto, os soldados cristãos foram cercados por completo…
A morte
O corpo do rei português não foi recuperado pelos sobreviventes. O facto de o corpo de D. Sebastião não ter sido encontrado contribuiu para o nascimento do mito. O jovem rei mostrou-se inexperiente e insensato e viveu de forma irresponsável uma aventura que trouxe consequências nefastas para o reino.
D. Sebastião não percebeu a responsabilidade que tinha em liderar os destinos de um reino. D. Henrique I, “O Casto”, ainda chegou a reinar entre 1578-1580. Já D. António I, “O Determinado”, só reinou em 1580. A Era Filipina prolongou-se de 1580 a 1640.
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Sucessão
A verdade é que a morte precoce do monarca colocou o futuro do reino em causa. D. Sebastião morreu sem deixar descendência. O jovem rei contribuiu (ainda que indiretamente) para a entrega da coroa portuguesa aos Filipes de Espanha.
Esta batalha levou ao desaparecimento do rei português, o que representou o início de algo que levou ao surgimento da dinastia filipina, que só aconteceu alguns anos mais tarde.
A dinastia filipina durou 60 anos. Foram três os reis espanhóis que assumiram a coroa portuguesa. Foram eles Filipes (I, II, III).
Ambição militar
O nascimento de D. Sebastião foi muito celebrado, por isso, quando o neto de D. João III veio ao mundo, foi chamado de “o Desejado”. Ele nasceu numa época em que se temia que surgisse um problema de sucessão na coroa portuguesa. No entanto, D. Sebastião cresceu, desenvolveu-se e tornou-se num homem religioso e num militar zeloso.
D. Sebastião foi o 16º rei de Portugal (1557-1578). No entanto, ele teve um reinado bastante curto. O jovem rei português empenhou-se e preparou um exército para combater os Mouros, pois queria ganhar prestígio militar.
O mito de Sebastião
D. Sebastião morreu nesta batalha de Alcácer Quibir, que ocorreu no norte de África. Este foi um acontecimento que deixou marcas. O desaparecimento do corpo do rei ajudou a que ele se tenha transformado num mito.
A ausência do corpo de uma morte que aconteceu numa batalha incompreensível levou a uma crise dinástica que colocou os reis de Espanha no trono português. A coroa portuguesa ficou entregue aos Filipes de Espanha ao longo de sessenta anos.
O mito do “Sebastianismo” surge como forma de esperança de que o Salvador pudesse regressar um dia, chegando numa manhã de nevoeiro, para recuperar o trono. D. Sebastião regressaria como um herói para salvar o país (e os portugueses) de todos os seus problemas.