Desde os dias em que o território integrava a província romana da Galécia até à separação política no século XII, a relação entre estas duas regiões foi moldada por laços de cultura, língua e partilha de território. Ainda hoje, séculos após a separação, existem razões que justificam a reflexão sobre as profundas conexões entre Portugal e a Galiza.
4 razões para Portugal e Galiza voltarem a ser um único país
1. Uma história partilhada e raízes comuns
A história de Portugal e da Galiza começou numa unidade territorial que remonta ao domínio romano, sob a província da Galécia. Posteriormente, ambos os territórios integraram o Reino Suevo, o primeiro reino medieval independente na Europa Ocidental, o que consolidou os laços culturais e administrativos entre as regiões.
Com o surgimento do Condado Portucalense, território que abrangia o norte e o centro do que hoje é Portugal, nasceu a base do que viria a ser o Reino de Portugal. No entanto, foi apenas em 1143, com o Tratado de Zamora, que Portugal se tornou um reino independente.
A partir deste momento, Portugal e Galiza seguiram caminhos distintos: Portugal consolidou-se como um estado soberano, enquanto a Galiza permaneceu integrada no Reino de Leão e, posteriormente, foi absorvida pelo processo de centralização castelhana, culminando na sua integração total em Espanha no século XIX.
2. Um idioma partilhado: o galaico-português como elo cultural
A língua é um dos maiores testemunhos da ligação entre Portugal e Galiza. Ambas as regiões partilham uma origem linguística comum: o galaico-português, uma língua que floresceu durante a Idade Média e que foi utilizada tanto para a comunicação quotidiana como para a produção literária, especialmente na poesia trovadoresca.
Com o avanço da Reconquista Cristã, o galaico-português expandiu-se para sul, tornando-se a língua de colonização das terras reconquistadas. No entanto, com a separação política, os caminhos linguísticos começaram a divergir.
Enquanto o português se afirmou como língua oficial e evoluiu com relativa autonomia, o galego foi marginalizado em favor do castelhano. Apesar disso, as semelhanças entre as duas línguas permanecem evidentes, e muitos galegos ainda conseguem compreender o português, especialmente nas áreas próximas à fronteira.
3. Um potencial económico robusto e estratégico
Se Portugal e a Galiza se unissem hoje, formariam uma potência económica na faixa atlântica da Península Ibérica. Com uma população conjunta de quase 14 milhões de habitantes e um Produto Interno Bruto aproximado de 300 mil milhões de euros, esta união criaria um dos maiores blocos económicos da Europa.
Os principais centros urbanos, como Lisboa, Porto, Vigo, Corunha, Braga e Santiago de Compostela, poderiam integrar uma rede económica e cultural capaz de atrair investimentos internacionais e fomentar o desenvolvimento de setores estratégicos, como o turismo, a indústria naval, as energias renováveis e as tecnologias de informação. Além disso, a proximidade com a comunidade de países lusófonos reforçaria a relevância internacional deste eixo atlântico.
4. A cultura como elo indestrutível
Embora a união política entre Portugal e a Galiza seja improvável nos dias de hoje, a partilha de tradições, festividades e expressões culturais mantém vivas as raízes comuns. A gastronomia, a música e até mesmo o folclore revelam paralelismos surpreendentes, evidenciando que a cultura é um elo indestrutível entre as duas regiões.
As romarias galegas têm paralelos nas festas populares portuguesas, enquanto pratos típicos como o polvo à galega encontram eco na gastronomia do norte de Portugal. O fado e a música galega, embora distintos, partilham uma melancolia e uma profundidade emocional que espelham as vivências de um povo marcado pelo Atlântico.
Uma reflexão sobre o futuro
Ainda que a união entre Portugal e a Galiza seja mais um exercício de imaginação do que uma possibilidade concreta, como sugere a VortexMag, a reflexão sobre esta relação ajuda-nos a reconhecer a profundidade dos laços históricos, culturais e económicos que unem as duas regiões. É uma oportunidade para valorizar as nossas raízes comuns e celebrar as influências mútuas que moldaram as identidades de ambos os lados da fronteira.
Enquanto Portugal e a Galiza seguem os seus próprios caminhos, as suas histórias entrelaçadas lembram-nos que, em muitos aspetos, continuam a ser partes de um todo que o tempo não conseguiu apagar.