O Castelo de Guimarães é um dos mais icónicos símbolos da história e identidade de Portugal. Considerado o berço da nacionalidade portuguesa, este monumento é um testemunho vivo do passado medieval do país, ligado às origens da independência e ao nascimento do primeiro rei, D. Afonso Henriques. Contudo, poucos sabem que, por muito pouco, este monumento esteve prestes a ser demolido.
Neste artigo, mergulhamos nos acontecimentos históricos que quase resultaram na destruição do Castelo de Guimarães, explorando o contexto político e social da época, e como uma votação em 1836 salvou este símbolo nacional por uma pequena margem.
O castelo de Guimarães: Um monumento de valor inestimável
Localizado na cidade de Guimarães, o castelo tem uma importância histórica única, sendo um marco fundamental na fundação do reino de Portugal. Com as suas imponentes muralhas e a sua torre de menagem, o castelo testemunhou acontecimentos cruciais na história do país, incluindo disputas entre nobres e a consolidação do poder de D. Afonso Henriques.
Mais do que um símbolo de poder militar, o Castelo de Guimarães representa o orgulho de uma nação em ascensão, marcado pela luta pela independência e pela construção de uma identidade cultural. No entanto, durante o século XIX, o valor deste monumento foi posto em causa.
A proposta de demolição: Uma ideia controversa
A 31 de janeiro de 1836, durante uma reunião da Sociedade Patriótica Vimaranense (SPV), uma proposta polémica foi apresentada: a demolição de uma das torres do Castelo de Guimarães. A ideia era reutilizar as pedras do castelo para calcetar ruas da cidade, numa altura em que a urbanização era uma prioridade para muitos governos locais.
Apesar de parecer absurda nos dias de hoje, essa proposta não era inédita. Em tempos anteriores, já se havia considerado o aproveitamento das pedras do castelo para outras construções. O argumento principal era de que o castelo era uma estrutura antiga e “bárbara”, sem grande utilidade prática na sociedade moderna da época.
A sessão histórica da Sociedade Patriótica Vimaranense
A SPV era uma organização liberal que reunia a elite local, incluindo advogados, médicos, comerciantes, clérigos e outros cidadãos influentes. Esta sociedade tinha como objetivo discutir e implementar ideias progressistas e liberais na cidade de Guimarães, abrangendo temas como saúde, educação, comércio e urbanização.
Nessa fatídica reunião de 1836, a demolição da torre do castelo foi discutida e votada. A proposta gerou um debate aceso, com opiniões divididas entre a preservação do património histórico e a necessidade de modernizar a cidade.
O resultado da votação
A votação resultou numa derrota clara para os proponentes da demolição. Dos membros presentes, apenas quatro votaram a favor da destruição da torre, enquanto quinze votaram contra. Apesar de, em termos absolutos, a margem de votos não ter sido extremamente apertada, a lenda de que o castelo foi salvo “por um voto” ainda persiste no imaginário popular.
O mito do voto único
Com o passar do tempo, surgiu o mito de que o Castelo de Guimarães foi salvo por apenas um voto. Embora essa ideia seja falsa, continua a ser amplamente difundida, tanto em meios de comunicação como nas redes sociais. Na realidade, a maioria dos membros da SPV era composta por homens cultos e esclarecidos, que reconheciam o valor histórico e simbólico do castelo.
O contexto histórico e social
É importante compreender o ambiente social e político da época para perceber como surgiu esta proposta. Em 1836, Portugal estava a emergir da Guerra Civil entre liberais e absolutistas, e Guimarães vivia um período de transição e reorganização. A SPV, como muitas outras sociedades patrióticas, desempenhava um papel crucial na definição do futuro da cidade e na implementação de ideias inovadoras.
Ao mesmo tempo, o património histórico nem sempre era visto como um recurso a preservar. Muitos monumentos antigos eram considerados obsoletos, e as suas pedras eram frequentemente reutilizadas para construções modernas.
A importância da Sociedade Patriótica Vimaranense
A SPV foi uma das instituições mais influentes do seu tempo, promovendo avanços em várias áreas. Entre as suas iniciativas destacam-se:
- Planos de vacinação para proteger a população contra doenças.
- Discussões sobre liberdade de imprensa e educação pública.
- Propostas para a criação de um sistema de transporte de doentes e de um Teatro Nacional em Guimarães.
A sociedade desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da cidade, mostrando que, mesmo numa época de grandes mudanças, havia espaço para a preservação do património.
A preservação do património e o legado do castelo
Graças à decisão tomada em 1836, o Castelo de Guimarães continua a ser um símbolo de orgulho para os vimaranenses e para todos os portugueses. A sua conservação ao longo dos séculos é um testemunho do compromisso com a preservação da história e da identidade nacional.
Hoje, o castelo é visitado por milhares de pessoas todos os anos, sendo uma das principais atrações turísticas de Portugal. Mais do que uma estrutura física, representa a resiliência de um povo que, mesmo em tempos de adversidade, soube reconhecer o valor da sua herança cultural.
Considerações finais
A história da votação que quase levou à demolição do Castelo de Guimarães é um lembrete poderoso de como decisões locais podem ter um impacto profundo no património de uma nação. Apesar das dificuldades e das pressões para modernizar, a preservação deste monumento prova que é possível equilibrar progresso e respeito pelo passado.
No final, o Castelo de Guimarães não é apenas uma relíquia do passado, mas um símbolo do que Portugal representa: um país que honra a sua história enquanto constrói o seu futuro.