Quem emigra deixa para trás a nossa gastronomia, com todos os pratos que a caracterizam. Descubra as 10 comidas de que uma emigrante Portuguesa mais tem saudades. Cada vez mais há Portugueses a emigrar. Seja pela crise, para estudar, para encontrar novos desafios ou por qualquer outra motivação, o ato de emigrar acarreta indubitavelmente uma grande perca. Quem emigra deixa para trás a nossa gastronomia, com todos os pratos, petiscos e doces que a caracterizam.
Feita esta introdução, a delica10a de hoje é escrita pela Filó, amiga de longa data da trupe do em10taque. A sua profissão – emigrante profissional! Já esteve a viver em vários países e não tem dúvidas em afirmar que a falta da comidinha da mãe é das coisas que mais saudades lhe trazem.
Estas 10 comidas de que uma emigrante Portuguesa mais tem saudades, foi elaborada sobre uma forte dosagem de comprimidos, que ela utiliza para atenuar a ansiedade que os pitéus da comida de Portugal lhe causam!
As 10 comidas de que uma emigrante Portuguesa mais tem saudades
10. Broa de milho
Há emigrantes com sorte (ou sabedoria) que vão parar a países onde o pão não tem validade de seis meses. Há outros que não. Um belo pão de mafra, ou um pão alentejano são difíceis, e muitas vezes impossíveis de encontrar (e já agora, como é que um Tuga-emigra faz uma açordinha?). São difíceis de encontrar e fazem saudade. Aqui vou falar de uma saudade especial minha.
A da Broa de Milho, porque junto com o queijinho de Seia, o Caldo Verde e a Marmelada, já teríamos um manjar de fazer as delícias de muito expatriado. E não se enganem, que há por aí países que vendem “corn bread”. Não, não fiquem já a pensar na crosta crocante e miolo húmido. Não. Eu caí nesse erro. Um empregado de mesa ofereceu-me uma fatia de “corn bread” para acompanhar uma sopa-guisado.
E eu salivei, a imagem da broa a desfazer-se na boca deu-me literalmente arrepios. Não, não era broa. Era uma fatia de bolo quadrada, doce e amanteigado. Não me interpretem mal, não é que não tenha gostado, é que não era Broa. A nossa Broa.
9. Queijo fresco ou requeijão
Quem alguma vez fez dieta em Portugal ouviu dizer que pode comer queijo fresco em vez de manteiga. Se há países onde tal substituição é possível, há outros onde não. A razão?
Desconheço, mas desconfio que a regulamentação nesses países que não vale aqui a pena nomear, proíbe a venda de produtos com menos de 50% de gordura e 250 calorias. Não é só pela dieta que falo do queijo fresco. É que o queijinho fresco é daquelas simplicidades portuguesas que temperado com sal e pimenta se torna num manjar dos Deuses.
E nem falo de Requeijão de Seia (Requeijão da Serra) pois só o pensamento me coloca os pelos em pé, o coração acelerado e a boca a salivar… perceberam a ideia, não é? Querem emigrar? Olhem que não há queijinho de Seia!
8. Bolo Rei
Mais uma vez não é para todos. Há esquisitinhos que não gostam da fruta cristalizada. Mas é símbolo do Natal em Portugal. E que coisa pode dar mais saudade do que as tradições natalícias da nossa terra?
Propositadamente vou ignorar as angústias das compras natalícias que adulteram o Natal nacional. Concentremo-nos no Bolo Rei. King Cake, parece que há nalguns sítios e Panetone e Galette des Rois. Sim, sim, pois. Mas não é Bolo Rei, que tanto fresco como torrado com manteiga é símbolo do nosso Natal.
E não se encontra no estrangeiro. Eu nunca vi. A boa notícia é que os ingredientes se encontram e com a devida paciência até se pode fazer um Bolo-Rei jeitoso. Com a vantagem que, se for feito em casa, podemos voltar a pôr-lhe o brinde e a fava sem que a ASAE se chateie. Saudade, mas non troppo!
7. Farinha Pensal
Confesso. Esta é uma coisa muito pessoal, mas caso haja por aí mais Pensaólicos aqui fica o conselho de emigrante – farinha Pensal é coisa Tuga! E como coisa Tuga que é, não se encontra em nenhuma outra parte do mundo (pelo menos naquelas por onde andei).
Dá saudade porque relembra os pequenos almoços da infância. E, por muito que se perscrutem os corredores dos supermercados por esse mundo fora, não se encontra. Como se o estrangeiro não acreditasse que as suas crianças cresceriam mais felizes com papas de chocolate. Por isso, aqui fica o conselho.
Caso a Farinha Pensal faça parte da vossa vida, reservem um espacinho na bagagem para a levar convosco. Eu assim faço.
6. Ginjinha
Com elas ou sem elas? Em copo de chocolate, ou no barrilzinho de barro? A ginjinha é de tradição nacional e por muito licores de cereja que se provem não se encontra a dita coisa. É que leva ginja (já difícil de explicar ao estrangeiro (em inglês chama-se “bitter cherry”), quanto mais de encontrar).
E depois leva aguardente. Que é uma espécie de grapa ou vodka, mas não é bem, e que traduzimos com um sorriso nos lábios como “fire-water”. Eles ficam na mesma e nós ficamos augados. Com elas ou sem elas, para mim, a caseira do meu pai, em copo de chocolate.
5. Caldo Verde
Sopas vão-se encontrando, por esse mundo fora. Umas mais ao nosso gosto nacional, outras menos, mas vão-se encontrando. Na Rússia fazem o Borscht, na Espanha o Gaspacho, na Bélgica, a sopa de castanha, na França, Vichyssoise.
Nos Estados Unidos confundem sopa com guisado. Há sopas, mas não há caldo verde! Não há caldo verde porque não há couve portuguesa, porque não há chouriço e porque não há a nossa avó a cortar a couve fininha como cabelo de anjo. Não há e faz saudade.
Já agora, foi há pouco que descobri que o legume mais parecido com couve portuguesa se chama em inglês “collard green”. Aqui fica a informação. Não é o mesmo, mas disfarça!
4. Marmelada
Marmeladas há muitas. Para os italianos, todas as compotas são marmelada. Para nós é estranho. É que marmelo há só um. E vai lá procurar marmelada por esse mundo fora. Há emigrantes com sorte, que emigram para países sul americanos, onde o “membrillo” faz parte da panóplia de compotas à disposição.
Há emigrantes com menos sorte, onde nem sequer o próprio do marmelo se encontra. E vamos outra vez explicando aos senhores do supermercado: é uma fruta, assim como a maçã, mas mais dura. Não se pode comer crua porque fica a boca encortiçada (não sei bem como traduzi encortiçada ao senhor do supermercado, mas fiz um gesto explicativo com a língua).
Não, não é dióspiro – também raro mas lá se encontra – e faz-se uma compota assim que se corta à faca… por esta altura já o senhor do supermercado pôs os olhos em bico. E lá voltamos nós para casa, sem marmelo, nem marmelada e com a vontade de a comer. E se para mais tivéssemos um belo requeijão?
3. Caracóis
Ah, pois é. Controversos. Dividem Portugal ao meio. No Norte dizem-se nojentos. No Sul são petisco. Seja como for, um bom caracol com uma “bjeca” fresquinha é uma iguaria que eu e muitos emigrantes gostaríamos de encontrar fora de Portugal.
É que caracóis não são bem os “escargot” (recheados e cenas). Os caracóis são um estado de espírito nacional. Vamos à caracolada depois da praia, com pão quentinho e manteiga que escorre pelos dedos.
Partilhados duma mesma travessa enquanto se discute que o Clube X compra os árbitros e que isso não pode ser porque o Clube Y já tinha comprado antes. Ou se discute a última gafe do político da ocasião.
Pois é. Os caracóis são nossos, como o fado e Fátima e deixam saudade ao emigrante. E vá-se lá explicar que nós comemos “snails” como eles comem “cacauetes”.
2. Pastelaria
Quando estamos fora de Portugal, uma das saudosas memórias é o Pastel de Nata. Aquela maravilha crocante por fora com um creme tão cremoso por dentro, que transforma ateus em crentes fervorosos. No entanto a saudade generaliza-se a outras iguarias de pastelaria.
É que em Portugal, não há só Pastel de Nata – que descanse no céu o seu criador. Também há o Travesseiro de Sintra, e as Queijadas do mesmo local, o Palmier Recheado, o Rim (para mim, de chocolate), o Queque, a Bola de Berlim com creme, o Bolo de Arroz, a Trança, o Mil-Folhas e outros mais ou menos conhecidos: a Palma, a Tigelada, o Caracol as Castanhas de Ovo… enfim, todas aquelas doçarias pelas quais éramos capazes de vender a nossa tia quando estamos no estrangeiro.
É claro que há países que compensam na doçaria, mas até me apresentarem um bom Pastel de Nata, eu continuo na minha. E não há muffin ou brownie que nos acalme a saudade!
1. Bacalhau
Mais cedo ou mais tarde, quando vivemos no estrangeiro lá chega a pergunta do que se come em Portugal. Quase por instinto respondemos bacalhau. Bacalhau? Sim, mas do seco. Seco? Sim, é pescado, salgado e seco.
comidas que uma emigrante Portuguesa mais tem saudades
E nós comemos toneladas do dito por ano. E há 1001 maneiras de o cozinhar (normalmente deixamos de fora que 90% destas incluem variações de cebola, batata e bacalhau em diversas proporções e ordens).
Mas produzem bacalhau? Não, vem da Noruega… O quê? Mas comem o peixe seco? Não. Demolhamos… mas porque é que não comem o fresco? Ora bem, por esta altura já estamos a desistir da conversa que nos deu fome e uma imensa vontade de um Bacalhau à lagareiro.
Pois vos digo. No estrangeiro é difícil, se não impossível de encontrar o bacalhau e as saudades são mais do que muitas. Que o digam alguns emigrantes que quando encontram bacalhau, se sentem como se tivessem encontrado um filão de ouro. “Pessoal, no Gourmet-ali-da-esquina vendem uma posta por 25 dólares”.
E não é que damos por nós a pensar que 25 dólares até é razoável para tão gostosa aquisição. E depois, até se podem comer pataniscas…
A Filó é professora e investigadora em Economia e a sua profissão já a levou a viver em vários países da Europa. Neste momento vive nos Estados Unidos onde se dedica a analisar jogos aplicados à economia.
A escrita faz parte da sua vida através de blogues, que intermitentemente atualiza, e dos seus artigos académicos. O tempo máximo que consegue estar longe de Portugal e da sua gastronomia são dois meses. Afirma que a partir daí a abstinência do bacalhau lhe traz urticária e que não tem outro remédio senão voltar ao nosso cantinho para um regime de bacalhau, pastel de nata e vinho do Porto!
Autora: Filó
Fonte: em10taque.com
Num site de cultura é intolerável um título tão mal escrito e um texto com tantos “defeitos” de escrita.
Vou continuar com atenção. Muita.
Sò uma precisao: em italiano “marmellata” sò se usa para os citrinos (laranja, limao, tangerina, …).
Para toda a outra fruta fala-se de “confettura”. E a marmelada é “cotognata”, o marmelo “mela cotogna”
Desculpem-me, mas o texto é perfeito, pois traduz a essência, o espírito e verdade de sentimentos. E, se me permitem, a forma e perfeita. Ler com sentimento, delicadeza e com empatia, invalida , neste caso, o preciiosismo da escrita. Importa aqui é: prestaram atenção a ponto de chegar a sentirem aroma, gosto, alguma saudade?
Gostaria de saber o porquê de os portugueses serem tão críticos com a sua própria gente ? Sempre há um senão em colocacões feitas pelas pessoas, na maioria bem intencionadas, com o propósito de colaborar, de alguma forma, com tantas coisas que Portugal tem de maravilhoso. E são tantas ! Nào se está a tratar de um texto literário para ser apreciado na Universidade de Coimbra ! Pelo amor de Deus ! Sejam mais simplistas, vivam com mais generosidade e bom humor ! Nào esquecam de quem muito julga, já foram julgados severamente e talvez por isso, tornaram-se pessoas irreverentes. Insuportáveis, se é que me entendem…
Sou neta de,portugueses e tive a sorte de comer diversas dessas iguarias preparadas por minha avó, principalmente os bolinhos de bacalhau e o caldo verde, entre outros. Já estive 6 vezes em Portugal e a primeira coisa que faço e comer uma boa bacalhoada. E não esqueço do cafezinho acompanhado de um pastel de natas. Entendo bem essa saudade.