O Zé do Telhado ficou para a história, recordado por uns como mero ladrão, e por outros como uma espécie de Robin dos Bosques à portuguesa…
Existe na história do país alguns episódios insólitos e curiosos. Ao longo do tempo, surgiram diversos acontecimentos que marcaram a história, momentos singulares que são frequentemente recordados, existindo um interesse geral nesses temas.
Um dos assuntos que gera grande curiosidade é o carácter de uma personalidade incomum na nossa história, o Zé do telhado. Este homem conseguiu ficar para a história. Contudo, a memória que se guarda desta figura pode variar.
Para muitos, é recordado como alguém que foi um mero ladrão e, por muitos outros, é visto como um herói, como se fosse uma espécie de Robin dos Bosques à portuguesa…
Zé do Telhado: Robin dos Bosques português ou mero ladrão?
O homem
Zé do Telhado, aspetos biográficos:
Quer conhecer mais sobre a pessoa que ficou conhecida como Zé do Telhado? O seu nome é José Teixeira da Silva (1818-1875), tendo nascido na aldeia do Telhado, freguesia de Castelões de Recesinhos, em Penafiel.
Cresceu e desenvolveu-se numa família de parcos recursos, tendo mais tarde optado por se alistar no exército, em Lisboa. Por lá, José Teixeira da Silva destacou-se. Estando ao serviço dos designados “Lanceiros da Rainha”, envolveu-se no complexo processo da guerra civil que opôs liberais a absolutistas.
Acabou por sair do país na sequência da derrota da sua fação. José Teixeira da Silva revelou um comportamento militar exemplar e revelou uma postura destemida. Em 1837, depois do fim da guerra civil, José Teixeira da Silva casou com Ana Lentina de Campos, sua prima. Regressou, então, a Recesinhos, onde constituiu a sua família. Teve cinco filhos com Ana.
Revoltas
José integra a revolta popular na sequência da Revolução da Maria da Fonte, em 1846. Nesses confrontos, José Teixeira da Silva salvou a vida do general Sá da Bandeira. Mais tarde, o próprio general Sá da Bandeira acabou por condecorar José Teixeira da Silva com a medalha de Cavaleiro de Torre e Espada, justamente por causa desse feito.
A mudança de percurso
O fim das revoltas levou a enfrentar uma realidade indesejada. Havia falta de dinheiro e a sua família começou a passar por dificuldades. Foi este contexto de pobreza que levou José Teixeira da Silva a dedicar-se à “arte” de assaltar.
A comparação com Robin dos Bosques
Muitos compararam-no a Robin dos Bosques (de Inglaterra), pois terá formado um grupo que tinha como alvo a elite. José Teixeira da Silva tornou-se no Zé do Telhado. Ele e o seu grupo assaltavam as casas dos senhores mais ricos das redondezas.
O Zé do Telhado foi um dos mais famosos salteadores portugueses de sempre. Robin dos Bosques roubava aos ricos (para dar parte aos pobres) e o grupo do Zé do Telhado também visava a elite. A sua quadrilha visitou diversas casas senhoriais, nomeadamente em Vale do Tâmega e mesmo em algumas regiões do Douro, e consta que também era generoso…
Método
O Zé do Telhado cometia crimes. Não pode ser elogiado por assaltar. Contudo, o seu comportamento enquanto assaltava era distinto, pois demonstrava muito respeito para com os donos das casas que assaltava.
De acordo com a Lenda, o Robin dos Bosques à portuguesa não ficava com tudo o que roubava só para si. Ele distribuía parte do seu saque pelos pobres. O Zé do Telhado revelava uma generosidade que lhe granjeou o reconhecimento do povo, pois ele partilhava dinheiro ou bens pelas famílias pobres que eram suas vizinhas.
Por isso, construiu-se a lenda de “roubar aos ricos para dar aos pobres”. O Zé do Telhado ficou na memória das pessoas que habitavam as terras de Penafiel e arredores.
Leia também:
- São Martinho do Porto, uma das baías mais bonitas do mundo é portuguesa
- 27 tesouros perdidos (1 é português)
- O açoriano que se fez passar por D. Sebastião e viveu como um rei
Tragédia
Durante uma das suas ações criminosas, algo correu mal e o seu grupo matou uma pessoa. Um criado foi a vítima mortal que surgiu na sequência de um assalto a uma casa senhorial. Depois desse momento, o bando passa a ser procurado com mais insistência pelas autoridades.
O Robin dos Bosques à portuguesa tentou escapar. Contudo, foi preso num momento em que planeava chegar ao Brasil. Já se encontrava a bordo do navio que tinha esse país como destino.
A prisão
O Zé do Telhado foi preso na antiga Cadeia da Relação, no Porto. Camilo Castelo Branco foi a pessoa com quem partilhou a sua cela. Nesse contexto delicado, surgiu uma amizade improvável.
Camilo Castelo Branco, que tinha sido detido por adultério (fruto da relação estabelecida com Ana Plácido, que era casada com Manuel Pinheiro Alves), revelou-se um amigo. Camilo Castelo Branco temia ser morto na prisão, pois o marido de Ana Plácido poderia pagar a alguém que fizesse esse serviço, mas o Zé do Telhado foi o seu protetor.
Camilo também foi um bom amigo. Foi o advogado de Camilo que defendeu Zé do Telhado em tribunal. O Zé do Telhado teve uma defesa que conseguiu evitar uma condenação à morte. Contra todas as expectativas, ele foi condenado ao degredo em Angola.
O escritor, que ficou para a história da literatura portuguesa, escreveu Amor de Perdição na prisão e, também aproveitou a história de vida do bandoleiro que ficou conhecido como o Robin dos Bosques português. Camilo reforça a lenda do salteador, pois na obra “Memórias de um Cárcere” acabou por dar atenção ao ladrão que roubou aos ricos para dar aos pobres.
Camilo foi protegido e não morreu na prisão. No entanto, mais tarde, suicidou-se, mas a sua obra literária ficou para sempre ligada à história da Literatura portuguesa.
A morte
O Zé do Telhado livrou-se da forca, inesperadamente. Foi acusado de onze crimes (terá cometido muitos mais!…) e a sentença foi surpreendente. Ele foi condenado ao degredo em África, tendo de ficar um período de 15 anos em Angola.
O Zé do Telhado instalou-se em Malange. Foi em Angola que o Zé do Telhado viria a reconstruir a sua vida. Na província angolana de Malange, o Zé do Telhado voltou a casar, neste caso com uma angolana chamada Conceição e a ter filhos, mais especificamente três.
Entre os angolanos, o Zé do Telhado era conhecido como o “quimuêzo”, isto é, o homem de barbas grandes pois, desde que chegara a África, ele deixara a barba crescer. É neste país que o herói ou o vilão morreu, vítima de varíola, em 1875, aos 57 anos.
O Zé do Telhado encontra-se sepultado num pequeno mausoléu, na aldeia de Xissa, que se encontra a apenas a uma centena de quilómetros de Malanje.
Será o próprio Robin dos Bosques um herói ou um vilão? O Zé do Telhado, o Robin dos Bosques português, terá sempre uma questão idêntica ligada ao seu nome. Depende sempre dos valores de cada um, da valorização que se dá às leis, ao crime, ao comportamento e à generosidade.
Certo é que esta pessoa revelou uma obra marcante que, noutros países, mais ricos e apetrechados com indústrias cinematográficas mais poderosas, teria seguramente direito a diversos filmes dedicados à sua vida.
Se tivesse nascido nos Estados Unidos da América, haveria muitos filmes a retratá-lo como herói… Se calhar, nesse caso, não haveria tantas dúvidas em relação à resposta da pergunta enunciada atrás.
É lamentável o arrazoado de lugares comuns nem falta o da putativa casa…
Devo lembrar que a foto da Estalagem de Baltar, era onde as diligências mudavam de cavalos.
A casa de Zé do Telhado em em São Mamede de Recesinhos / Penafiel, fazendo fronteira com Caíde de Rei / Lousada.
Seria interessante publicarem a história de pura heroicidade decorrida na viagem para o degredo e posteriormente a sua vivência em terras do Leste de Angola Teriamos muito a aprender em Valores como .Coragem Lealdade e Solidariedade Zé do Telhado NÃO foi um simples ladrão Foi um injustiçado e revoltado .
Após a derrota dos Confederados na guerra civil norte-americana houve por lá muitos «Zés dos Telhados». O nosso também foi um produto da guerra, e terá morto muito mais gente do que «um criado». Se salvou a vida a Camilo decerto que Camilo salvou-o certamente da forca!
Nem sempre se conta a verdadeira história do Zé do Telhado. Acho estranho dizer-se que morreu com 57 anos, deveria ter 78. Zé do Telhado foi desterrado para Angola e nessa chegada desembarcou ao largo da Catumbela. Esta localidade era uma pequena vila de Benguela, a 5 Kms do Lobito. Foi presente ao Administrador daquela vila e aí ficou alguns dias detido num forte à margem do Rio Catumbela que conheci nos anos 1971/1975. Esse forte era no cimo de um morro, alguns 200 metros de altura. Tinha uma estradinha para o Forte que começava junto à Ponte que atravessava o Rio Catumbela. No inicio dessa estradinha estava uma grande placa de latão, talvez 100 x 0,80 onde assinalava que aí esteve detido Zé do Telhado, data e idade dele. Zé do Telhado foi despejado na Catumbela, como tantos outros criminosos ou indesejáveis ao Rei. Foi nomeado cmdt de uma força militar que fazia incursões contra o gentio. Passou os últimos anos da sua vida em Malange. O povo daquela zona passou a venera-lo no local onde foi sepultado, foi um homem bom amigo daquele povo pobre e carente.