A recente deteção de quatro exemplares da vespa-gigante-asiática (Vespa soror), nas Astúrias, norte de Espanha, a cerca de 280 quilómetros da fronteira com Portugal, gerou preocupações significativas entre apicultores, investigadores e autoridades nacionais. Esta espécie, considerada mais perigosa do que a vespa-asiática (Vespa velutina), coloca em risco a saúde pública, os ecossistemas e a economia, particularmente no setor da apicultura.
O alerta em território nacional
Apesar de não haver, até ao momento, registo de exemplares da vespa soror em Portugal, o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) reforçou a importância de uma vigilância ativa, em coordenação com o plano já existente para monitorizar e controlar a vespa-asiática.
O ICNF destacou que está a alertar as entidades municipais para a possibilidade do aparecimento desta nova ameaça e sublinhou a necessidade de colaboração com a população. Caso seja avistado um exemplar suspeito, é essencial reportar de imediato para o endereço eletrónico [email protected], evitando qualquer tentativa de aproximação ou remoção.
Uma ameaça à apicultura e ao ambiente
A Associação Apícola de Entre Minho e Lima (APIMIL) apelou às autoridades para agirem de forma célere e eficaz contra o potencial avanço da vespa soror. Alberto Dias, presidente da associação, recordou os danos irreparáveis causados pela vespa-asiática e frisou que o aparecimento da soror “deve fazer acender as luzes vermelhas e tocar campainhas”.
Além da destruição das colmeias e consequente morte das abelhas, esta nova espécie representa um risco elevado para o equilíbrio ecológico. As abelhas, essenciais para a polinização e o equilíbrio dos ecossistemas, já enfrentam múltiplas ameaças ambientais. A introdução de outro predador poderoso poderá agravar significativamente a situação.
Como a vespa soror chegou à Europa
De acordo com um estudo da Universidade de Oviedo, divulgado entre março de 2022 e outubro de 2023, os exemplares detetados nas Astúrias terão chegado como “passageiros clandestinos” em contentores de transporte de mercadorias oriundos de regiões asiáticas. Estas vespas são especialistas em esconder-se durante períodos adversos, utilizando materiais ou recipientes transportados pelos seres humanos.
A investigação, publicada na revista Ecologia e Evolução, alerta para os potenciais impactos da presença desta espécie na Europa. Entre os riscos identificados, destacam-se:
Problemas de saúde humana: A picada da vespa soror é extremamente dolorosa e tem efeitos duradouros devido ao seu veneno altamente potente, que pode causar complicações médicas graves, especialmente nos meses de maior atividade, de setembro a dezembro.
Impactos ambientais: Como predador agressivo, a vespa soror ameaça a biodiversidade local, sendo capaz de caçar uma ampla variedade de presas, incluindo invertebrados como borboletas, gafanhotos e outras vespas, além de pequenos vertebrados, como lagartixas.
Danos económicos: O setor apícola, essencial para a agricultura e para o equilíbrio ambiental, poderá sofrer prejuízos milionários se esta espécie se estabelecer em Portugal.
Características e comportamento da vespa soror
A vespa soror distingue-se por uma aparência marcante e um comportamento agressivo. As principais características incluem:
- Tamanho impressionante: As obreiras podem atingir 35 milímetros e as rainhas chegam aos 46 milímetros, tornando-a uma das maiores vespas do mundo.
- Cabeça desproporcionalmente grande: Um traço que facilita a identificação desta espécie.
- Coloração tricolor: Uma combinação de preto, castanho e amarelo.
- Comportamento predatório: Ataca uma ampla gama de presas, incluindo invertebrados e pequenos vertebrados.
Prevenção e o papel da comunidade
A entrada da vespa soror em Portugal pode ser evitada com esforços coordenados entre autoridades, apicultores e a população em geral. A deteção precoce é fundamental para impedir a disseminação da espécie e minimizar os danos.
Caso encontre uma vespa suspeita, não se aproxime nem tente eliminá-la por conta própria. Fotografias e registos detalhados devem ser enviados ao ICNF através do endereço [email protected].
Um alerta para agir
A experiência com a vespa-asiática já demonstrou o impacto devastador que uma espécie invasora pode causar num território onde não possui predadores naturais. A chegada da vespa soror à Europa deve ser tratada com a máxima seriedade, evitando repetir os erros do passado.
A proteção da biodiversidade e dos setores económicos dependentes da apicultura requer não apenas vigilância, mas também ações concretas, eficazes e preventivas. A colaboração entre ciência, governo e cidadãos será essencial para enfrentar este novo desafio.