Na manhã de sexta-feira, dia 2, o céu sobre Beja e Campo Maior revelou um lado sombrio e imprevisível da natureza. Aquilo que parecia apenas mais um início de dia transformou-se num cenário de destruição repentina, alimentado por ventos violentos, capazes de arrancar árvores pela raiz, despedaçar telhados e lançar o pânico entre os habitantes.
Em Beja, mais concretamente na zona de Porto Peles, freguesia de Nossa Senhora das Neves, um fenómeno meteorológico súbito — descrito por testemunhas como semelhante a um tornado — deixou um rasto de destruição que ainda está a ser avaliado. Eram cerca das 08:00 quando os ventos se abateram com força devastadora sobre a região. Em minutos, estruturas cederam, anexos ficaram destruídos, e a paisagem foi moldada por um poder que parecia querer tudo levar consigo.
O silêncio que vem depois da tempestade
A SIC Notícias avançou que pelo menos duas casas e um armazém foram afetados. Embora, felizmente, não se registem desalojados, os danos são expressivos. Os ventos não atingiram diretamente as zonas habitacionais, mas os anexos e estruturas de apoio destas habitações foram severamente afetados — e, com eles, a sensação de segurança dos que ali vivem.
“O que aconteceu foi de uma violência inesperada”, relatou Paulo Arsénio, presidente da Câmara de Beja. “Os estragos são significativos.” As palavras, ditas com prudência, escondem o choque de quem conhece a resiliência do Alentejo, mas também sabe o quanto a sua calma pode ser violentamente quebrada.
Um vídeo partilhado nas redes sociais mostra o momento angustiante em que partes do telhado de uma casa são literalmente arrancadas pelos ventos, perto do restaurante “As Primas”. Um registo que congela no ecrã o som de um medo que não se vê, mas se sente.
Em Campo Maior, o vento também não perdoou
Horas depois, o concelho de Campo Maior, no distrito de Portalegre, viveu um episódio semelhante. Na freguesia de Degolados, os ventos tornaram-se forças descontroladas. A Proteção Civil contabilizou cinco quedas de árvores, dois desabamentos de estruturas edificadas e a queda de um poste elétrico. Uma dessas árvores, de grande porte, caiu sobre um campo de futebol, deixando danos materiais visíveis e um simbolismo doloroso: o espaço onde se treina, onde se joga, onde se vive, ferido por algo maior do que todos nós.
O alerta foi dado às 13:10. Não houve feridos físicos, mas houve marcas invisíveis. Uma pessoa teve de ser assistida no local devido a um ataque de ansiedade. Porque nem sempre é o corpo que sofre — por vezes é o coração que treme.
Perante a gravidade da situação, a Câmara Municipal de Campo Maior ativou o Plano Municipal de Emergência e Proteção Civil. Uma medida que revela, de forma clara, a dimensão do que se viveu — e a urgência em responder de forma coordenada a um fenómeno tão imprevisível quanto arrasador.
Uma natureza imprevisível — e cada vez mais violenta
Estes episódios não são casos isolados. São, cada vez mais, sinais de uma realidade que se impõe: o clima está a mudar. Fenómenos extremos, outrora raros, parecem surgir agora com frequência assustadora. O vento que sopra forte não é apenas ar em movimento — é um lembrete de que estamos vulneráveis, expostos, frágeis. O Alentejo, terra de horizontes largos e céu tranquilo, viu-se confrontado com a força brutal de uma natureza que, por vezes, se revolta sem aviso. E as comunidades, habituadas à calma das estações, tiveram de enfrentar o medo de ver o seu mundo virado do avesso em minutos.
Solidariedade, reconstrução e vigilância
Agora, segue-se o trabalho mais difícil: avaliar, reconstruir, apoiar. São momentos como este que revelam o espírito de entreajuda das populações e a importância dos serviços de emergência, que responderam com prontidão e coragem. Os Bombeiros Voluntários de Beja, com apenas quatro operacionais e duas viaturas, estiveram no terreno logo após o fenómeno, tentando repor alguma ordem no meio do caos.
Mas mais do que reparar o que foi destruído, é preciso preparar o futuro. Apostar na prevenção, reforçar infraestruturas e investir na resiliência das nossas terras. Porque o vento voltará. E, quando o fizer, temos de estar mais prontos — física, emocional e comunitariamente.
Conclusão: o Alentejo resistirá
O que aconteceu em Beja e Campo Maior não será facilmente esquecido. Foi mais do que uma tempestade. Foi um alerta. Um susto coletivo. Uma prova de força — da natureza, mas também das pessoas.
E se há algo que a história do Alentejo nos ensinou, é isto: mesmo quando tudo parece ruir, há sempre quem reconstrua. Com mãos firmes, com esperança renovada e com a certeza de que, por mais forte que o vento sopre, há raízes que não se arrancam.