Uma atração secreta no coração da cidade Invicta. O Velódromo Maria Amélia é um tesouro que merece ser visitado.
Todas as cidades, vilas e aldeias portuguesas apresentam curiosidades. Algumas têm uma história fantástica que nos faz querer conhecer as suas riquezas. Há destinos destes que reúnem um conjunto de atrações que nos fazem agendar uma escapadinha, para se ter tempo para explorar os seus tesouros.
Numa cidade como o Porto, não faltam razões para se viver uma aventura repleta de emoções. O que se torna mais fascinante é perceber que, além dos pontos de interesse mais populares, há muito mais por descobrir: curiosidades que a maioria das pessoas desconhece, mesmo os portuenses.
Já ouviu falar do Velódromo Maria Amélia? Deixe-se encantar pelas qualidades do Velódromo Maria Amélia, presente no coração da cidade Invicta.
Velódromo Maria Amélia: um segredo para descobrir no Porto
Muitos desconhecem que na cidade do Porto há um velódromo. No entanto, é verdade. Ele encontra-se presente na cidade Invicta e é uma atração secreta que merece ser descoberta…
O Velódromo Maria Amélia encontra-se desativado há muitos anos. Ele está situado no coração da cidade, passando despercebido à maioria das pessoas, apesar de se encontrar numa zona muito movimentada. Este antigo velódromo está presente em plena zona de Cedofeita, bem nas traseiras de um espaço icónico da cidade – o Museu Soares dos Reis -, que ocupa boa parte daquele quarteirão.
O antigo Velódromo Maria Amélia tem uma longa história. Quer saber como tudo começou? Para se conhecer a sua origem, é necessário recuar alguns séculos…
O Palácio dos Carrancas foi construído no ano de 1795, tornando-se propriedade dos Morais e Castro. Esta era uma família da grande burguesia portuense. O palácio teve este nome, porque os prósperos negociantes tinham a alcunha de “os Carrancas“.
Em 1861, Portugal encontrava-se em pleno reinado de D. Pedro V. Nesse ano, o monarca adquiriu o Palácio dos Carrancas, espaço onde atualmente se encontra o Museu Nacional de Soares dos Reis. A compra do Palácio tinha um propósito: destinava-se a servir de residência oficial, sempre que a Família Real portuguesa se deslocasse à cidade Invicta ou ao norte do Reino.
No ano de 1894, por altura das Comemorações Henriquinas, o rei D. Carlos I cedeu um terreno (presente nas traseiras do antigo Palácio dos Carrancas, então Paço Real do Porto, residência oficial) à Associação do Velo Club do Porto.
O propósito desta doação estava bem definido. O monarca pretendia que fosse construído um velódromo nesse espaço. Para quem não sabe, um velódromo é um espaço (campo ou estádio) criado para a realização corridas de velocípedes. No século XIX, andar de bicicleta era uma modalidade algo elitista.
El-Rei Dom Carlos foi, então, designado Presidente Honorário do Velo Club. O velódromo foi criado e foi batizado como o rei D Carlos I desejou. Este espaço recebeu o nome da mulher do monarca. Ao novo equipamento desportivo da Cidade Invicta foi dado o nome da Rainha (consorte), Maria Amélia.
Nesses tempos, era comum homenagear a dedicação dos monarcas em prol das Associações e dos desígnios nacionais. Desta forma, os Soberanos eram frequentemente agraciados com a designação de diversas infraestruturas desportivas com o Seu nome. Neste velódromo, foram realizados diversos eventos.
Em 1908, na primeira visita à Cidade do Porto, D’El-Rei D. Manuel II deslocou-se a este espaço. Há vários instantâneos do Rei e de Sua Augusta Mãe, a Rainha Senhora Dona Amélia. O casal surge numa das varandas, acenando à população que se encontrava em frente ao Paço Real do Porto, efusiva pela presença dos monarcas.
No entanto, com a queda da monarquia, o velódromo ficou fechado. A Implantação da República Portuguesa surgiu com uma revolução organizada pelo Partido Republicano Português. Esta revolução foi iniciada no dia 2 de outubro. No entanto, só saiu vitoriosa na madrugada do dia 5 de outubro de 1910. Este momento implantou um regime republicano em Portugal e destituiu a monarquia constitucional. Várias foram as mudanças realizadas.
Nos inícios do século XX, o ciclismo em pista começou a perder apoiantes e o velódromo acabou por encerrar definitivamente em 1932.
O antigo Paço Real, propriedade pessoal do Rei D. Manuel II, foi deixado em testamento à Santa Casa da Misericórdia. Com a herança deixada pelo último Rei de Portugal, o espaço do antigo velódromo passou a integrar o jardim. Posteriormente, o palácio foi adquirido pelo Estado com o objetivo de ser aí instalado o Museu Nacional de Soares dos Reis.
No ano de 1939, o Palácio dos Carrancas e a sua envolvente foi motivo de interesse do Estado Novo. Este espaço obteve o estatuto de Museu Nacional. Ele abriu portas como Museu Nacional Soares dos Reis.
O Museu Nacional de Soares dos Reis foi inaugurado em 1942. Aquando da sua requalificação, no início do século XXI, recuperou-se parte da estrutura original da pista.
Características do Velódromo
O Velódromo Maria Amélia tratou-se do maior recinto desportivo da primeira década do século XX. A pista apresentava 333,33 metros de perímetro, revelando duas retas paralelas que se uniam no cume, através de curvas que revelavam a respetiva sobre-elevação.
Neste espaço, era possível percorrer 1 km em 3 voltas, uma caraterística que correspondia ao que as regras internacionais ditavam.
Neste velódromo, era possível ter cerca de 25 mil pessoas a assistir às provas. O Velódromo Maria Amélia era um espaço com outras qualidades. No interior da pista, encontravam-se ainda dois campos de ténis.
O acesso ao velódromo era feito por um enorme portão, que ainda existe. Esse portão estava presente na Rua do Pombal (atualmente, Rua Adolfo Casais Monteiro). Por isso, este local tornou-se bastante popular e muito procurado pelos residentes.
No Velódromo Maria Amélia, foram realizadas ‘loucas corridas’ de bicicleta. Neste espaço, realizaram-se outros eventos, como a primeira corrida motorizada em Portugal, o que comprova a grande utilidade do espaço.
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Requalificação
No âmbito da ‘Porto’2001, Capital Europeia da Cultura’, o local do antigo velódromo foi requalificado. Este projeto esteve sob a responsabilidade de Fernando Távora. O famoso arquiteto portuense soube preservar alguns dos elementos do espaço centenário. Neste espaço, encontram-se em exposição brasões de casas senhoriais portuenses.
Mais do que escondido, este espaço está pouco estimado. Atualmente, o velódromo encontra-se esquecido e até um pouco ao abandono. A entrada atual para este local é realizada pelo Museu Soares dos Reis. No entanto, a passagem até lá está frequentemente fechada.
Desta forma, constata-se a incrível riqueza da cidade do Porto, que tem tesouros que os próprios portuenses desconhecem…