Com o verão em plena força, as praias portuguesas enchem-se de banhistas, turistas curiosos e publicações virais que, entre um mergulho e outro, lançam afirmações no mínimo insólitas. Uma das mais partilhadas nos últimos dias garante que Portugal é o único país da Europa onde urinar no mar é ilegal. Mas será mesmo verdade?
Este rumor — que regressa ciclicamente às redes sociais — voltou a incendiar o Instagram, alimentado por alegações de uma autoproclamada especialista em viagens.
A verdade? Portugal não tem nenhuma lei que proíba especificamente urinar no mar. Mas a polémica ganhou novas ondas, e desta vez chegou até ao programa “Irritações”, da SIC Radical.

De onde veio a ideia de que é ilegal fazer chichi no mar?
A origem da afirmação remonta a Jessica Bollinger, consultora de viagens que, em 2024, declarou ao jornal Metro que urinar no mar em Portugal podia resultar em sanções legais severas. Justificava-se com preocupações ambientais: a urina seria prejudicial à vida marinha e aos recifes de coral.
Segundo Bollinger, esta alegada proibição não era apenas uma norma social — era lei. Uma declaração que, embora bem-intencionada em termos de consciencialização ambiental, não corresponde à verdade legal em território português.
Portugal diz: é mito, não há proibição
De acordo com o esclarecimento feito pelo jornal Postal e confirmado junto da Associação Nacional de Municípios, não existe, atualmente, qualquer legislação em Portugal que proíba explicitamente urinar no mar.
Claro que isso não significa que tudo é permitido nos areais. O civismo, o respeito pelos outros e a consciência ambiental continuam a ser fundamentais.
Mas fazer chichi dentro de água, embora socialmente questionável, não dá direito a multa nem a processo legal no nosso país.
E em Espanha? Aí a conversa é outra
Já em Espanha, a maré é diferente. Algumas regiões costeiras, como a Costa del Sol e a cidade de Vigo, impuseram medidas mais rigorosas.
Desde multas de 750 euros para quem for apanhado a “realizar evacuações fisiológicas na praia ou no mar”, até campanhas educativas dirigidas a turistas estrangeiros, os espanhóis estão a levar este tema a sério. Marbella, por exemplo, aumentou recentemente a sua coima de 300 para um valor mais elevado, alegando que o turismo em massa exige mais regras e controlo sobre os comportamentos nas praias.
Educação, não proibição: o exemplo do Algarve
Em vez de recorrer a multas, Portugal aposta na sensibilização e educação ambiental. Este verão, a EMARP – Empresa Municipal de Ambiente e Resíduos de Portimão lançou uma campanha nas praias da região, com ações interativas e sustentáveis.
Foram instalados 114 contentores para separação de resíduos, cinzeiros reutilizáveis em 39 acessos balneares e promovidos jogos educativos na Praia da Rocha, com brindes e atividades para toda a família. O objetivo? Incutir comportamentos responsáveis sem recorrer à punição.
Higiene e bom senso continuam a ser a melhor regra
Apesar de não existir uma proibição legal, ninguém quer nadar num mar que sirva de casa de banho coletiva. Urinar na água pode não ser crime, mas levanta questões de higiene, respeito pelo ambiente e pelos outros banhistas.
Além disso, a maioria das praias portuguesas dispõe de casas de banho gratuitas ou a preços acessíveis. Usá-las é uma escolha simples que faz a diferença no equilíbrio ecológico das nossas zonas balneares.
O veredito final
A notícia de que é ilegal urinar no mar em Portugal é falsa, mas traz consigo uma lição importante: nem tudo o que é viral é verdade. E, mesmo que não haja multas à vista, o bom senso e o civismo devem sempre guiar o nosso comportamento nas praias.
Afinal, preservar o mar é um dever coletivo. Seja com ou sem legislação, o respeito pela natureza começa em cada gesto individual — mesmo quando ninguém está a ver.
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