Chegar a casa e encontrar um pequeno risco branco de giz na porta, no portão ou até junto ao caixote do correio pode parecer irrelevante. Muitos assumem que é apenas sujidade, pó trazido pelo vento ou uma brincadeira de crianças. Mas nem sempre é assim. Em alguns casos, trata-se de algo mais sério: um código discreto usado por assaltantes para identificar residências.
Segundo a Polícia de Segurança Pública (PSP), estas marcações já foram detetadas em várias zonas urbanas e suburbanas em Portugal e fazem parte de um sistema silencioso para mapear bairros e selecionar potenciais alvos.
Um código secreto que atravessa fronteiras
A prática não é nova. Tem sido registada em países como Espanha e Reino Unido, onde a Guardia Civil e a polícia britânica já alertaram a população para este tipo de ocorrências. Os sinais, aparentemente insignificantes, funcionam como uma linguagem codificada entre criminosos.
- Um risco pode indicar que a casa está desocupada em certas horas do dia.
- Uma cruz pode assinalar que o local é habitado por idosos ou pessoas vulneráveis.
- Um ponto pode significar que o imóvel já foi alvo anteriormente e “vale a pena voltar”.
A escolha do giz não é inocente. É barato, rápido de aplicar, fácil de remover e desaparece com a chuva, tornando-o um instrumento quase perfeito para mensagens que não chamam a atenção.
Casos reportados em Portugal
Nos últimos anos, tanto a PSP como a GNR têm registado ocorrências deste género em zonas residenciais mais isoladas, mas também em bairros urbanos.
Moradores já relataram ao Jornal de Notícias situações em que encontraram símbolos enigmáticos repetidamente na entrada de casa — e pouco depois foram vítimas de tentativas de assalto.
Estes sinais surgem sobretudo em portas, portões, caixotes de correio ou paredes junto à entrada. Podem ser riscos, pontos, setas ou cruzes discretas, mas obedecem a um padrão reconhecível para quem os utiliza.
O que deve fazer se encontrar um destes sinais
As autoridades são claras: não ignore. Cada marca pode ser uma pista importante no mapa de ocorrências criminais. Eis o que deve fazer:
- Fotografe o símbolo de imediato para registo.
- Remova a marca sem demora, de preferência sem que mais ninguém a veja.
- Alerta os vizinhos para verificarem as suas entradas e partilhar informação.
- Apresente queixa à PSP ou GNR, mesmo que pareça insignificante.
Nem sempre estes riscos correspondem a uma ameaça — podem ter sido feitos por crianças ou trabalhadores de obras. Mas ignorá-los pode ser um erro com consequências.
Como reduzir o risco de ser alvo
A prevenção continua a ser a melhor arma. Entre as medidas mais recomendadas pela PSP e GNR estão:
- Instalar iluminação exterior com sensores de movimento, que desencoraja movimentos suspeitos.
- Colocar câmaras de vigilância visíveis, mesmo que sejam apenas dissuasoras.
- Adotar rotinas menos previsíveis, variando horários de saída e chegada.
- Criar redes de vizinhança atenta, em que todos estejam de olho uns pelos outros.
Uma comunidade vigilante é uma das maiores barreiras contra este tipo de criminalidade silenciosa.
Atenção, comunicação e vigilância: o tripé da segurança
Um simples traço de giz pode ser apenas pó… ou o primeiro indício de que alguém estuda a sua casa. A diferença entre o acaso e o perigo pode estar na forma como reage.
Estar atento, comunicar com os vizinhos e reportar às autoridades são passos essenciais para travar este método discreto, mas perigoso. No fundo, a segurança de uma rua ou bairro constrói-se todos os dias, através da vigilância partilhada e da consciência comunitária.
Nunca subestime um detalhe: a sua atenção pode ser o que impede um assalto.