O paraíso mediterrânico de Maiorca, outrora sinónimo de verão, descontração e praias cheias de vida, está a atravessar uma transformação inquietante. O que antes era um convite aberto ao mundo, agora ressoa com palavras duras como “Voltem para casa” ou “Aqui vivem pessoas, não posts de Instagram”. As manifestações contra o turismo de massas, que têm agitado várias cidades europeias, chegaram com força à ilha espanhola — e estão a deixar marcas visíveis no sector turístico… e nas escolhas dos visitantes.
Em vez de multidões entusiasmadas a explorar as ruelas de Palma ou a mergulhar nas águas cristalinas de Port Soller, muitos turistas estão a evitar a ilha, assustados com o clima de hostilidade. Portugal, tranquilo e acolhedor, começa a emergir como um destino alternativo cada vez mais procurado por quem quer férias com calor, cultura e hospitalidade — mas sem o sentimento de “indesejado”.
“Os turistas que nos interessam estão a ir embora”: o alerta do setor em Maiorca
As palavras não podiam ser mais claras. Miguel Pérez-Marsá, presidente da Associação de Vida Noturna das Ilhas Baleares, não esconde a preocupação: “Os turistas que nos interessam estão a ir embora. Não se sentem bem-vindos e estão a escolher outros destinos”.
A afirmação surge na sequência de manifestações que tomaram as ruas de Palma, em junho, com cerca de cinco mil participantes empunhando cartazes e até pistolas de água, num gesto simbólico para afugentar visitantes. As palavras de ordem — pintadas com raiva e frustração — são inequívocas: “A cidade não está à venda” ou “Esta ilha é para viver, não para explorar”.
O impacto é visível: restaurantes vazios, praias com menos movimento, excursões canceladas, reservas em queda. A transformação de Maiorca de refúgio turístico a zona de conflito emocional é um caso sério e com consequências económicas tangíveis.
Do paraíso ao desconforto: quando o visitante deixa de se sentir bem-vindo
Durante décadas, turistas britânicos, alemães e franceses consideraram Maiorca um destino ideal para o verão europeu. Mas agora, muitos optam por não voltar.
Lesley Johnson, residente na ilha há mais de 30 anos, relata ao Daily Mail:
“Antes, se saísse à rua por volta das 19h00, encontrava-a cheia de turistas, mas agora está completamente morta.”
Essa sensação de vazio é partilhada por empresários locais, que veem os seus negócios a encolher a olhos vistos. A Federação Hoteleira de Maiorca confirma que municípios como Capdepera e Soller estão a registar quedas significativas nas reservas. Pedro Oliver, presidente do Colégio de Guias de Turismo das Ilhas Baleares, acrescenta: “As mensagens anti-turismo estão a ter impacto. Se passamos a imagem de que não queremos turistas, eles vão embora — e escolhem destinos como Portugal.”
Portugal: o destino escolhido por quem se sentiu rejeitado
Com Espanha a demonstrar sinais de saturação turística, muitos visitantes optam por procurar novos horizontes — e Portugal tem conquistado o coração desses turistas desiludidos. “Percebi que Espanha não queria muitos turistas, portanto a minha família votou e fomos para Portugal. Não voltamos a Espanha”, conta um turista britânico ao jornal Express. O clima ameno, as paisagens diversificadas, a gastronomia autêntica e o acolhimento caloroso dos portugueses estão a posicionar o país como refúgio europeu para férias seguras, relaxantes e genuínas.
Impacto económico em Maiorca: restaurantes e excursões ameaçados
O setor turístico em Maiorca está a sentir a pressão. Estima-se que as vendas de excursões possam cair cerca de 20% neste verão, o que afeta diretamente regiões populares como Palma, Port Soller e Valldemossa.
O presidente da Associação de Restaurantes de Maiorca, Juanmi Ferrer, alerta:
“Alguns restaurantes podem ser obrigados a fechar portas este ano. As ruas estão mais vazias, os clientes desapareceram.”
Não são apenas números: é a vida económica da ilha que está em jogo. Hotéis, transportes, comércio e serviços locais sentem o impacto direto de uma nova realidade em que o turismo, em vez de ser uma bênção, é visto como um fardo social.
Reflexão: o turismo deve ser repensado — mas não rejeitado
As manifestações em Maiorca são o sintoma de um problema maior: a falta de equilíbrio entre a preservação da identidade local e a necessidade económica de atrair visitantes. O turismo em massa, quando desregulado, pode ser destrutivo. Mas rejeitar o visitante, tratá-lo como intruso, é apagar décadas de hospitalidade e desenvolvimento.
Portugal parece, por agora, estar a encontrar esse equilíbrio. Destinos como o Alentejo, os Açores, a Costa Vicentina e o interior do país mostram que é possível receber bem, proteger o território e promover um turismo consciente.
Conclusão: entre o protesto e a hospitalidade, os turistas estão a escolher com o coração
As imagens de hostilidade em Maiorca são um aviso para toda a Europa. O turismo precisa de ser mais sustentável, sim — mas também precisa de ser bem-vindo. Afinal, o viajante quer mais do que um destino bonito: quer sentir-se desejado.
E, enquanto em algumas partes da Europa se erguem cartazes a mandar turistas “voltarem para casa”, Portugal continua de braços abertos, pronto para acolher quem procura uma experiência autêntica, segura e inesquecível, refere a Sic Notícias.