Imagine a cena: chega-se ao Multibanco, como tantas vezes, para uma operação rotineira. Insere-se o cartão, digita-se o PIN, mas de repente algo não corre bem. O ecrã bloqueia, a operação falha e o cartão não regressa à mão. O coração acelera, instala-se a ansiedade. Parece apenas uma avaria técnica, mas na verdade pode ser o início de um dos esquemas mais perigosos e discretos da atualidade: o golpe do cartão preso, também conhecido como Lebanese Loop.
Este não é o “skimming” clássico, que durante anos dominou as notícias, com peças falsas para copiar dados e câmaras escondidas a registar códigos. Trata-se de algo mais engenhoso, mais simples… e infinitamente mais perigoso.
Como funciona o golpe do cartão preso
O esquema começa com uma peça quase invisível de plástico ou metal, cuidadosamente colocada na ranhura do Multibanco. Pequena, fina e discreta, dificilmente desperta desconfiança. O resultado é imediato: o cartão fica retido no interior da máquina.
A vítima, aflita, volta a digitar o PIN repetidamente na esperança de desbloquear a operação. É nesse instante que a armadilha se aperta. Frequentemente surge um “bom samaritano”, alguém que parece estar disposto a ajudar.
Pode sugerir que se volte a introduzir o código, dar conselhos sobre como libertar o cartão ou até partilhar histórias semelhantes. Mas o verdadeiro objetivo é apenas um: observar o movimento dos dedos e memorizar o PIN. Quando a vítima desiste e se afasta, convencida de que o cartão ficou perdido na máquina, os criminosos regressam, retiram discretamente a peça e ficam com tudo o que precisam: o cartão físico e o código secreto.
Porque é mais perigoso do que o skimming
Enquanto o skimming tradicional obriga a clonar cartões e muitas vezes a utilizá-los fora do país, este golpe é mais imediato e devastador. Aqui, os burlões ficam com o cartão original e já conhecem o PIN. Não precisam de esperar nem de correr riscos adicionais. Basta dirigirem-se ao Multibanco mais próximo e levantarem todo o saldo disponível.
É por isso que este esquema se tem revelado tão eficaz e alarmante: em minutos, a conta bancária pode ficar esvaziada.
A nova versão: o truque da nota no Multibanco
Como se não bastasse, há ainda variações recentes, entre as quais se destaca o truque da nota. Nesta versão, os burlões colocam uma nota presa na saída de dinheiro da máquina.
A maioria das pessoas, ao ver uma nota aparentemente esquecida, tenta retirá-la. Nesse momento, enquanto a atenção está desviada, os criminosos observam, filmam ou manipulam discretamente a operação. O resultado é o mesmo: distração da vítima e oportunidade perfeita para roubar dados, induzir em erro ou forçar repetições que revelam informação crucial.
Como se proteger deste golpe silencioso
Apesar da sofisticação, existem medidas simples que podem salvar uma conta bancária:
- Nunca voltar a introduzir o PIN se o cartão ficar preso.
- Não aceitar ajuda de estranhos, por mais prestáveis ou simpáticos que pareçam.
- Ligar de imediato para o banco, usando o número que se encontra no verso do cartão.
- Observar a ranhura do Multibanco: se estiver solta, torta ou com sinais de manipulação, evitar usar a máquina.
- Proteger sempre o teclado com a mão ao digitar o PIN, mesmo que não haja suspeitas aparentes.
A verdade incômoda: um instante de distração basta
O que torna este golpe tão perigoso é precisamente a sua simplicidade, explica a Leak. Não exige tecnologia avançada, apenas uma peça artesanal e a ingenuidade de quem acredita estar perante uma avaria. No entanto, as consequências podem ser devastadoras.
Muitos só percebem a gravidade do que aconteceu quando já não há dinheiro na conta e o cartão se encontra nas mãos erradas.
Por isso, da próxima vez que o cartão não regressar no Multibanco, não se deve assumir de imediato que se trata de uma falha técnica. É nesse momento de incerteza que muitos são enganados. A prevenção pode ser a única barreira entre a segurança e a perda total do saldo.